Chefinho a xerife: Mascherano faz 30 anos e lidera Argentina
São 97 jogos pela seleção argentina, 13 anos de serviços prestados, duas medalhas olímpicas de ouro e, como ninguém é de ferro, incontáveis carrinhos, faltas e naturalmente muitos desarmes. Javier Mascherano, um símbolo para a Argentina e a caminho de sua terceira Copa do Mundo como titular, completa 30 anos neste domingo e já pode dizer que escreveu uma história.
Não se engane, porém, em pensar que esse livro chegou ao último capítulo. Na segunda-feira, a Argentina desembarca no Brasil e dificilmente haverá um entre os 23 jogadores que demonstre mais apetite em voltar a uma final da Copa do Mundo. Descrito pelos argentinos como um capitão sem braçadeira, o volante que surgiu sob o apelido de Jefecito (em português, chefinho) agora é um verdadeiro xerife.
Na seleção argentina, uma de suas missões é complementar a liderança de Lionel Messi, capitão mesmo que sem a verdadeira vocação para tomar a frente de um grupo. Mascherano é o responsável por cumprir esse papel em aproximar os jogadores, discursar, orientar a equipe dentro de campo, incentivar pelo exemplo de si mesmo e resolver questões internas. A amizade forte criada com Messi no Barcelona ajuda para que tenham essa sintonia.
Na última semana, por exemplo, Javier Mascherano assumiu essa condição ao manifestar aos microfones a necessidade de os argentinos terem paciência diante do entusiasmo criado em torno da Argentina. Se disse preocupado com um possível oba-oba em torno da seleção e ainda descreveu o Brasil como "terra inimiga". A liderança, na realidade, era algo que estava predestinado para "Masche", como é conhecido.
Duas medalhas de ouro na Olimpíada fizeram de Mascherano um herói nacional
Levado da comunidade de San Lorenzo para a base do River Plate aos 14 anos, Mascherano não demorou para demonstrar suas qualidades e estreou na equipe profissional já como titular. Sua missão no mais revelador dos clubes argentinos era substituir o principal líder da equipe na década anterior, Leonardo Astrada, o Jefe (chefe) que saiu para jogar no Grêmio. O apelido de chefinho caiu muito bem.
Quarto colocado com a Argentina nos Mundiais Sub-17 (2001) e Sub-20 (2003), já era jogador da seleção principal nesta última. A Europa já sabia de seu potencial e o Real Madrid até entregou uma proposta, mas Mascherano ficou um pouco mais e venceu os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e logo foi vendido por US$ 15 milhões ao Corinthians.
Uma década depois, consagrado com a titularidade e a idolatria no Liverpool-ING e no Barcelona-ESP, pode se dizer que só falta uma Copa do Mundo a Masche. Foi vice da Copa América em 2004 e 2007. Foi vice da Copa das Confederações em 2005, sempre derrotado pela Seleção Brasileira na final, mas grafou seu nome na história argentina em 2008.
Escolhido por Sergio Batista como um dos acima de 23 anos em Pequim, liderou a seleção argentina que tinha nomes como Sergio Agüero, Angel Di María e Lionel Messi para o bicampeonato olímpico. Único presente nas duas conquistas, Mascherano se tornou o segundo argentino da história – o outro é Juan Nelson, do polo - a ter duas medalhas de ouro.
Na seleção argentina, Mascherano é o principal líder da equipe
Capitão da seleção nos primeiros anos do comando de Diego Maradona, Mascherano foi descrito pelo ex-chefe como “o argentino mais próximo da ideia que tenho sobre vestir a camisa da seleção, de se sacrificar, ser profissional e próximo dos colegas”, disse Diego. Xabi Alonso, colega de Liverpool, falou que Masche era o mais inteligente em enxergar o jogo em campo.
Nenhum treinador, entretanto, desenvolveu uma relação tão próxima a Mascherano quanto Pep Guardiola. Responsável por contratá-lo para o Barcelona, em que quase sempre atuou como zagueiro, o argentino chegou a ser descrito por Pep como "jogador impagável" e disse que "ter futebolistas como esses é o que dá sentido à carreira de treinador".
Depois de jogar duas Copas do Mundo e sempre parar nas quartas de final, Mascherano agora luta para ir além no Mundial do Brasil. Aos 30 anos e no centro de controle da seleção argentina, ele parece em plenas condições para cumprir o objetivo.
Mascherano com oito anos e seu registro pelo pequeno Circulo Alianza Real (Reprodução)