Veterano argentino com sonhos de garoto é exemplo de caráter
Ao lado de Mascherano e Messi, Maxi Rodríguez caminha para a terceira Copa do Mundo com moral e histórias para contar
Se não fosse Eusébio, o velho Pichi, o gol da vida de Maxi Rodríguez não teria acontecido em 2006. Na prorrogação das oitavas de final contra o México naquele Mundial, Juan Pablo Sorín fez a inversão de bola, Maxi estufou o peito e emendou de perna esquerda a 25 metros para anotar em um dos mais memoráveis momentos da Copa da Alemanha. E que só aconteceu por causa do avô da família Rodríguez da cidade de Rosário.
Oito anos depois, Maxi caminha para a terceira Copa do Mundo de sua vida marcada por muitas dificuldades, sofrimentos e grandes conquistas que forjaram um ser humano admirado por todos. Muito de seu sucesso pela seleção argentina se deve àquele gol e aos ensinamentos do velho Pichi. Responsável por introduzir o neto à bola, era ele quem insistia para que o menino destro também chutasse de esquerda. Maxi Rodríguez foi um menino obediente.
Neste sábado, o camisa 11 tem boas chances de ser titular em uma Argentina preocupada em descansar jogadores desgastados em amistoso contra a Eslovênia. Maxi Rodríguez vem em ascensão graças ao gol marcado na última quarta-feira, diante de Trinidad e Tobago, e não restam dúvidas sobre a confiança de Alejandro Sabella em um de seus reservas mais acionados. Seja pela capacidade técnica que aflorou aos 33 anos, seja pelo que representa no vestiário da seleção.
Feliz cumple a mi abuelo Pichi; quien me enseño a amar estos colores. pic.twitter.com/Syd88LrNw5
— Maxi Rodríguez (@MR11ok) June 11, 2013
Abandonado pelo pai, Maxi Rodríguez cresceu sob as mãos dos avôs e da mãe
Se hoje é apontado como um exemplo de caráter, Maxi deve aos percalços que a vida lhe apresentou. Com mãe solteira, Claudia, ele cresceu sob a assistência dos avôs, Beatriz (mais conhecida como Chichina) e Eusébio, que dele cuidavam para que a filha que trabalhava no Hospital de Niños buscasse o sustento da casa no bairro Bella Vista. Assim, desde bem pequeno, o neto já jogava futebol sob as ordens do velho Pichi.
A relação entre ambos era umbilical. Certo dia, o avô deixou a beirada do campo para se dirigir ao banheiro. Apavorado, Maxi Rodríguez só tinha cinco anos e começou a chorar, sob o temor de provavelmente ser descartado pela segunda vez. Afetuoso e dedicado ao futebol, ele cresceu na humilde família que ensinou que amasse o clube de seu bairro, o Newell's Old Boys. Foi lá, aos 18 anos, que estreou profissionalmente depois de percorrer toda trajetória nas divisões de base.
A essa altura, Maxi Rodríguez já era motivo de orgulho para o Colegio San Francisco Solano, onde estudou até o segundo ano. Por falta de tempo, deixou os livros para ficar com a bola, escolha que se mostraria acertada. Já logo depois, era campeão do Mundial Sub-20 pela seleção argentina, e quando completou 21 anos se mudou para a Espanha com a então noiva Gabriela.
Triunfo na Europa e realização na volta para Rosário
Uma década no futebol europeu (Espanyol-ESP, Atlético de Madrid-ESP e Liverpool-ING) foi tempo suficiente para Maxi Rodríguez se transformar em um jogador mundialmente respeitado. Mesmo assim, em 2012, pediu sua liberação do futebol inglês para realizar o sonho de jogar novamente pelo Newell's e ver suas duas filhas, Alma e Aitana, também crescessem em Rosário.
Maxi ainda tinha um ano de contrato, mas fez sacrifícios financeiros com um grupo de apaixonados pelo Newell's. Ele, Gabriel Heinze, Nacho Scocco, Lucas Bernardi e o treinador Gerardo Martino resolveram reerguer o gigante endividado. Tiraram dinheiro do próprio bolso e, liderados por Maxi Rodríguez, conquistaram o Campeonato Argentino e foram até a semifinal da Copa Libertadores. Era a senha para que Maxi pudesse jogar a terceira Copa da carreira.
Se tem o Papa Francisco e Lionel Messi como seus filhos mais famosos, Rosário certamente encontra em Maxi um dos mais apaixonados e presentes. Recentemente, ele doou recursos para uma reforma na Casa das Mães Solteiras, identificado com a causa que a instituição cumpre, em mais uma prova de caráter e sensibilidade.
O título na Copa do Mundo no Brasil ainda é um objetivo distante, mas se for de Maxi Rodríguez certamente estará em boas mãos. E ele sonha como o menino que chorava por Pichi. "Desfruto como se fosse o primeiro Mundial. Não é fácil se sustentar em uma seleção com tantas figuras. Deve se trabalhar ao máximo e não abaixar nunca os braços. Vou lutar até a última partida", assinalou na quarta-feira.
O gol de canhota marcado por Maxi Rodríguez em 2006: dedicado ao avô (Foto: AP)