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Atletismo

Esqueça a festa africana no pódio: São Silvestre é do Brasil

31 dez 2014 - 10h39
(atualizado às 13h09)
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Responda rápido: qual tradição é maior? No último dia do ano ter a São Silvestre ou a África dominar as duas modalidades da mais tradicional prova de corrida de rua do Brasil? Em 2014 não foi diferente e o país africano deixou os brasileiros para trás mais uma vez. Daí surge o mito de que a São Silvestre faz a “festa do continente africano”. Será? Não, definitivamente não. 

Apesar de neste ano, mais uma vez, os vencedores serem de longe do Brasil - a etíope Ymer Wude Ayalew venceu no feminino e Dawit Fikadu Admasu, também da África, no masculino - houve festa e hino nacional para o brasileiro Giovani dos Santos, único brasileiro nos pódios. Mas a verdadeira festa está entre os populares. 

Metrô tem horário de pico com corredores e fantasias de todo o Brasil
Metrô tem horário de pico com corredores e fantasias de todo o Brasil
Foto: Gabriel Ribeiro / Terra

A charmosa corrida que começa na Avenida Paulista e termina no próprio coração financeiro da cidade é do brasileiro. E todo cidadão nacional, de certa forma, sente-se representado no evento. Para você que nunca viu a prova de perto, a Avenida Paulista fica tomada quase em toda sua extensão por corredores que fazem loucuras para realizarem o sonho de simplesmente participar da festa popular. 

O clima começa ainda antes de ver a luz do sol. Como a região é abastecida por uma rede de metrô, o transporte público de São Paulo vive uma hora do rush "diferente": são milhares de corredores com seus shortinhos e camisetas da prova dividindo espaço com - poucos - engravatados que se deslocavam para o dia de trabalho mais incomum do ano na Paulista. A fila de espera por um veículo na Linha 2 - Verde chegava a até 3 trens em plena véspera de Ano Novo. 

A largada é conjunta para a maioria do “povão”, pouco antes das 9h. Mas não é aquela largada que você está acostumado a ver na televisão: a quantidade de pessoas é tamanha que a reportagem, andando a passos – até que - rápidos na calçada, consegue naturalmente ser mais veloz do que os corredores amadores, que se alongavam como profissionais pouco antes da largada. 

Tradicionalmente, a “corrida” para grande parte do público só começa mesmo depois da descida do Pacaembu, mais de 1 km após a bandeirada inicial. Até lá, quem mais trabalha e “corre” com a voz é o locutor oficial. Ele é o responsável por fazer a festa dos maratonistas sem rosto – claro, muitos deles vão fantasiados – ao citar cada cidade que ele vê com uma faixa. Sim, cada uma das centenas de faixas.

Atletas do batalhão "popular" se concentram antes da largada
Atletas do batalhão "popular" se concentram antes da largada
Foto: Gabriel Ribeiro / Terra

A reportagem tentou acompanhar a quantidade de municípios citados pelo narrador, mas é impossível. “Piracicaba, grande Piracicaba”. “Ribeirão Preto, terra da USP”. “Sertãozinho”. “Itaquera, zona leste é nóis”. Belford Roxo, Campina Grande, Cerquilho, Bragança Paulista, Salvador. A lista é gigante e a São Silvestre é o momento em que o orgulho pela pequena – ou não – cidade é exaltada pelo morador para o Brasil inteiro ver ao vivo.

Há até quem cometa loucuras com esse pensamento. “Vim de Iguatu, no Ceará, com o dinheiro contado. Sobrou só R$ 1 depois que eu comprei a passagem para São Paulo. Foram 2600 km de viagem”, comentou ao Terra um corredor, chamado Francisco. A roupa dele? Claro, uma fantasia de cangaceiro. A São Silvestre podia ser mais brasileira que isso?

São Silvestre: Etiópia bate Quênia e Giovani dos Santos é 5º:

Claro que é preocupante o jejum brasileiro sem conquistas na São Silvestre – no masculino o último foi Marilson Gomes dos Santos, em 2010, enquanto no feminino Lucélia Peres levou em 2006. Neste ano, a melhor brasileira foi Joziane Cardozo, em oitavo, e o principal atleta masculino nacional foi Giovanni dos Santos,em quinto. Não estranhe: os africanos também dominam as principais provas de rua do mundo, seja em Nova York, Boston ou Berlim. Mas não duvide. A São Silvestre faz a festa do brasileiro. De forma até muito mais democrática e acessível do que a Copa do Mundo de 2014. 

Fonte: Terra
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