Estratégia, África.. Por que Brasil não leva São Silvestre?
Mais uma vez dominada pelo continente africano, a São Silvestre começa a preocupar o Brasil pelo jejum de títulos nacionais. Há quatro anos sem vitórias tanto no masculino quanto no feminino, o País já está no maior período sem conquistas desde que a prova passou a ser realizada com 15 km, no ano de 1991. Os motivos são vários e os atletas mais bem posicionados da nação nesta quarta tentaram dar explicações após a corrida.
A última vez que um brasileiro ganhou uma das duas modalidades foi em 2010, com Marilson Gomes dos Santos. O jejum feminino é ainda mais espantoso: Lucélia Peres, em 2006, foi a última brasileira a ficar no topo do pódio. Os quatro anos seguidos de domínio africano entre homens e mulheres superaram os três entre 1998 e 2000, época do ápice da lenda queniana Paul Tergat. Mas por que o Brasil náo consegue mais ganhar a São Silvestre?
1 - Estratégia
Um dos possíveis motivos para a queda brasileira é a estratégia, nem sempre a ideal para os corredores. Melhor competidora do Brasil em 2014, Joziane Cardozo (oitava) admitiu que deveria ter seguido outro plano na corrida e afirmou que deve mudar o foco para a próxima temporada.
"Eu vou ter que no próximo ano mudar minha estratégia. Vou tentar sair junto e ver quem tem mais perna. As brasileiras não conseguem correr juntas e ano que vem vou tentar correr com elas (africanas)", disse.
Giovani dos Santos, único atleta nacional no pódio nesta edição (quinto lugar), também sofreu, mas recusou admitir que deveria ter seguido outro plano. No entanto, deixou claro que se complicou ao conseguir encostar nos africanos apenas na subida da Brigadeiro e, por isso, ter se desgastado mais.
"Eu fiz o que pude, mas fiz muita força para chegar neles na Brigadeiro. Se estivesse encostado mais na subida, essa força que fiz seria revertida em talvez passar eles e ser campeão", contou.
2 - Africanos unidos e brasileiros sozinhos
Outro problema, que tem ligação com a estratégia, é o fato de os africanos chegarem mais preparados à competição disputada em São Paulo. Os corredores do Quênia e Etiópia costumam fazer grupos nos pelotões de elite, que atrapalham os brasileiros, muitas vezes brigando sozinhos. A dificuldade foi relatada tanto por Joziane quanto por Giovani.
"Fiquei mantendo o contato e na Brigadeiro tentei fazer o máximo possível para encostar nelas, mas sozinha fica dificil", relatou Joziane. "Eles trabalham em grupo, se tivessem dois (brasileiros) seria mais fácil. Mas tinha 16 africanos. É dificil passar 16. Eles têm uma mania de estar quebrando o ritmo. Veem que a gente está chegando e fazem jogo, a gente até entende o que eles falam. Eles aumentam as passadas e dificultam a passagem", explicou Giovani.
3 - Falta de atletas de ponta no Brasil
É fato: o Brasil não está mais nos tempos áureos de fundistas. O País conta com poucos corredores de elite e ficou longe de conquistas nas últimas Olimpíadas. Na São Silvestre, este fator aumenta porque nem todos se inscrevem na prova, sobrando para poucos, sozinhos, tentarem tirar o título dos africanos, que sempre comparecem em peso ao evento.
4 - Desgaste de fim de ano
Realizada tradicionalmente no último dia do ano, a São Silvestre causa um grande desgaste no atleta, que tem que correr os 15 km logo após um ano cheio de competições. A própria Joziane Cardozo lembra este ponto, também citando a falta de apoio aos esportistas.
"Muitas das vezes é complicado, a gente compete o ano todo e tem que participar da São Silvestre e muitas das vezes por causa das condições, não tem muito apoio e tal. Ano que vem vou visar Pan-Americano, correr menos, selecionar provas e tentar índice para a Olimpíada", afirmou.
5 - Olimpíada e Pan é a meta
O próximo ano esquenta o ciclo olímpico para os Jogos do Rio 2016, com a realização do Pan-Americano, Sul-Americano, Mundial, entre outras competições de atletismo. A meta do corredor brasileiro, agora, é conseguir índices, principalmente a Olimpíada realizada em solo nacional. Por isso, a partir de agora cada atleta terá que escolher a dedo quais provas irá disputar.
"O ano que vem o meu objetivo é tentar índice para os 5 mil ou 10 mil metros para o Pan-Americano e vou tentar sim o indicie para a Olimpíada", relata Joziane, que tem visão semelhante à de Giovani: "ano que vem é ano de Pan-Americano, Sul-Americano e Mundial. A gente vai trabalhar e pensar já em 2016, ir atrás do índice em 2016. Eu não estou muito especializado em maratona, vou focar nos 10 mil metros e se conseguir o índice estou muito feliz. Maratona chego no km 34 e perco força, tenho hipotermia", contou Giovani.