A história do verdadeiro Fabuloso Hudson Hornet

O filme Carros (2006) é muito mais que uma simples animação. Contando com vários elementos sobre automobilismo, o mais notório seja do Hudson Hornet. Na trama, ele é médico (mecânico) e juiz na cidade de Radiator Springs. Inicialmente, o personagem é discreto e rabugento. Mas, com o passar do longa-metragem, sua identidade é revelada: “Doc Hudson" é na verdade um carro de corrida famoso, que venceu 3 campeonatos nos anos de 1951, 1952 e 1953.

A história é inspirada em fatos reais de um carro que revolucionou o automobilismo. Mas primeiro é preciso contar a história da Hudson Motor Company, uma “pequena empresa” fundada em 1908 em Detroit, bastante inovadora, que conseguia se virar bem no mercado dominado pelas gigantes, como Ford e GM.

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Durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) a Hudson foi usada para fabricar peças bélicas. Por sua natureza industrial, a cidade de Detroit contribuiu muito para os esforços de guerra dos Aliados. Após o fim da Guerra, a fábrica foi novamente convertida para fabricar automóveis. Em 1948, a marca lançou uma versão do modelo Commodore,  mais baixo em altura e no centro de gravidade, o que ajudava a gerar menos arrasto e dar maior estabilidade.

Em 1951, o Hornet foi lançado seguindo a mesma filosofia. O motor era o H-145, de 5 litros, com 6 cilindros em linha, que gerava 170 cv, que, combinado com a leveza, dava uma grande vantagem ao modelo,classificado como um carro de luxo.

Nesse segmento, a velocidade fica em segundo plano. Mas não era o caso para a Hudson, que apostava tanto nisso que baseou estratégia agressiva de marketing neste ponto. Grande parte da divulgação foi participando dos campeonatos de carros de turismo, como NASCAR e AAA Stock Car. Essa segunda categoria era realizada pela mesma organização que fazia a Indy 500 e o campeonato da Indy na época.

O Hornet se tornou dominante, os pilotos começaram a chamar o carro de fabuloso e o apelido pegou: O Fabuloso Hudson Hornet marcou história, batendo os carros V8 da época. Na NASCAR, Herb Thomas venceu o campeonato em 1951 e 1953 e Tim Flock em 1952. na AAA Stock foram dois títulos, ambos com Marshall Teague, que venceu o campeonato nacional em 1952 e 1954.

As vitórias foram também impressionantes: entre 1951 e 1954, foram 122 triunfos! Mas como acabou a era de domínio? Foi um conjunto de fatores que impactaram. Porém o mais importante foi que a Hudson deixou de existir, após uma fusão com a Nash-Kelvinator para formar a American Motors Corporation (AMC). Por conta disso, a partir de 1955, não houve mais apoio oficial.

Após o fim do uso nas corridas, vários exemplares viraram carros comuns. Um caso clássico foi do carro campeão com Herb Thomas em 1953. Foi vendido para uma pessoa que morava no estado de Kentucky. Em 1990, depois de mudar de mãos por algumas vezes, foi descoberta a identidade do carro. Em 2018, foi vendido por US$1,7 milhões em um leilão e se tornou o carro da Hudson mais caro a ser vendido na história. 

Em 2006, com o lançamento do filme, a popularidade do carro disparou. O personagem provavelmente foi inspirado em Marshall Teague, já citado acima, que tinha uma habilidade muito grande nas areias de Daytona Beach, onde também tinha uma oficina mecânica, características marcantes no longa-metragem.

Teague teve um papel fundamental ajudando a Hudson a extrair o máximo desempenho do seu carro. Em 1953, saiu da NASCAR, por uma briga com o dono da categoria e focou na AAA. Acabou morrendo em 1959, em um acidente no recém-inaugurado Daytona Speedway.

Ainda sobre o filme, o personagem é dublado por Paul Newman, uma lenda do cinema que era apaixonado por corridas. Tanto que chegou a ter uma carreira profissional no esporte, conquistando inclusive um 2° lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1979. Newman morreu em 2008, por causa de câncer no pulmão, por ter fumado por muito tempo de sua vida.

Para o segundo filme da Franquia, resolveram que seu personagem também morreria, já que para o diretor não existia sentido mantê-lo sem Newman. Doc reaparece no terceiro filme, quando McQueen conhece amigos da época que Hudson corria, nos anos 1950. Trechos de gravações originais do primeiro foram usados para fazer as falas do personagem.

O Hornet chegou a ter uma segunda geração, fabricada entre 1955 e 1957. Foi o último legado da Hudson como montadora.