Dakar 2025 tem duelo entre pai e filho herdeiros de Ermírio de Moraes para levar Brasil ao topo
Lucas Moraes é um dos favoritos para uma inédita vitória brasileira, enquanto Marcos retorna para a competição depois de 25 anos
Rali é tradição da família Moraes. Por mais de duas décadas, Marcos Moraes foi organizador do Rali dos Sertões. Hoje, o filho Lucas é representante brasileiro entre os favoritos para vencer o Rally Dakar, algo que não aconteceu nesses 47 anos de competição. Entre os adversários, ele vai encarar o próprio pai.
Lucas é revelação recente do rali mundial, mas lidera a equipe Toyota Gazoo Racing (TGR) desde o começo de 2024. O time japonês é um dos principais na modalidade. "Evoluí muito como piloto ao participar do campeonato mundial de rali. Foram quatro outros ralis que ajudaram no alinhamento da equipe. Pude me alinhar ainda mais com meu navegador e entender a performance do carro. Temos condições de ganhar. Na história do Dakar, ninguém venceu na terceira participação, mas estamos em uma equipe excelente. O trabalho foi feito de maneira muito série e com estratégia podemos levar o troféu ao Brasil pela primeira vez", avalia, ao Estadão, o piloto de 33 anos.
O brasileiro estreou no Rally Dakar em 2023 e surpreendeu com o terceiro lugar. É o melhor resultado de um estreante e de um brasileiro até hoje. Foi assim que atraiu a atenção da Toyota. No ano seguinte, porém, um capotamento e da quebra da suspensão do carro, que o fez abandonar no penúltimo dos 13 dias daquela edição da corrida, o deixou em nono.
Já Marcos retorna ao Dakar após 25 anos. A última participação foi em 2000, quando ficou na 75ª posição geral entre os carros. Seu parceiro é o brasileiro Maykel Justo, navegador de 11 participações no Dakar cujo último resultado foi o sexto no Dakar em 2022 ao lado do piloto brasileiro Rodrigo Luppi, na categoria UTV - intermediário entre carro e quadriciclo.
Se correr contra o pai é pressão para Lucas? Nada. É coisa da família. "A presença do meu pai na competição pode me ajudar mentalmente, por estar junto dele. Se a gente puder se ajudar no meio do rali, isso dá uma tranquilidade por saber que você tem alguém com quem pode contar. É uma história muito legal para a nossa família", celebra.
No Dakar, contar com ajuda nunca é demais. A prova considerada "a mais difícil do mundo" não perdoa erros. "Andar no deserto é muito difícil. Subimos dunas de 300 a 400 metros, depois muda para cascalho, pedra e por aí vai. Neste ano, a primeira semana será a mais desafiadora na Arábia Saudita com a etapa de 48h e a maratona nesse período. Os resultados devem variar muito", projeta Lucas.
A prova começa nesta sexta-feira, com a disputa curta de 29km e cronometrada para definir a ordem de largada do primeiro dos 13 dias de corrida, que será encerrada em 17 de janeiro. Ao todo, o percurso tem 7.753km (dos quais 5.145km são cronometrados) inteiramente realizado nos desertos da Arábia Saudita.
A prova de 2025 tem um equilíbrio nunca visto antes na disputa. São 20 competidores com chances de vencer. Além da Toyota, outras fábricas, como Ford, Dacia (do Grupo Renault) e Mini e construtores especializados em tecnologia de rali, também tentarão o primeiro lugar.
"É o nível mais forte das disputas na Arábia Saudita. Há 15 a 20 duplas que podem ganhar o rali. Será incrível para o esporte e para os fãs", celebra Lucas.
Quem são os brasileiros que disputam o Rally Dakar 2025?
- Lucas Moraes - piloto, categoria carros, modelo Toyota GR DKR Hilux EVO, equipe TGR
- Marcos Moraes - piloto, categoria carros, modelo Toyota Hilux Overdrive, equipe Overdrive
- Marcelo Gastaldi - piloto, categoria carros, modelo Century CR7, equipe Century Racing
- Maykel Justo - navegador de Marcos Moraes, categoria carros, modelo Toyota Hilux Overdrive, equipe Overdrive
- Cadu Sachs - navegador do português Gonçalo Guerrero, categoria Challenger (protótipos leves), modelo Taurus T3 Max, equipe BBR
Pilotos Moraes são parentes de empresário cujo patrimônio chegou a US$ 12,7 bilhões
Marcos e Lucas são, respectivamente, sobrinhos de primeiro e segundo grau do empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim e morreu em 2014. Naquele ano, sua fortuna era estimada em US$ 12,7 bilhões.
O Grupo Votorantim opera em 16 países, em setores como o de materiais de construção, financeiro, alumínio, energia limpa e renovável, metais e mineração, suco de laranja, aços longos, imobiliário e infraestrutura. Marcos é um dos sócios.
O piloto e empresário foi candidato mais rico das eleições de 2022, quando concorreu como suplente a uma vaga no Senado. Seu avô, José Ermínio Moraes, fundador do Grupo Votorantim, foi senador por Pernambuco e atuou como ministro da Agricultura do presidente João Goulart.
Quando concorreu, Marcos era o único bilionário na disputa eleitoral. A declaração dele ao Tribunal Superior Eleitoral somava cerca de R$ 1,3 bilhão.