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Ecclestone, ex-chefão da F-1, minimiza fala racista de Piquet contra Hamilton: 'Não é algo terrível'

CEO da organização por muitos anos, dirigente tem sido uma figura polêmica: recentemente, ele defendeu Vladimir Putin por guerra contra a Ucrânia, afirmando que 'levaria um tiro' pelo presidente russo

30 jun 2022 - 10h04
(atualizado às 12h13)
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O termo racista usado por Nelson Piquet para se referir a Lewis Hamilton continua repercutindo no universo do automobilismo. Nesta quinta-feira, Bernie Ecclestone, ex-chefão da Fórmula 1 por décadas e casado com uma brasileira, minimizou o fato de o tricampeão brasileiro ter chamado o piloto britânico de "neguinho", alegando que a fala não lhe parece tão terrível a ser dita no Brasil, conforme se defendeu o próprio Piquet em nota oficial.

"Não é apropriado para nós, mas provavelmente não é algo terrível que acontece se você disser isso no Brasil. As pessoas dizem coisas, e falam sobre as outras se estão um pouco acima do peso, ou um pouco abaixo do tamanho como eu. Tenho certeza de que as pessoas fizeram comentários sobre isso. Se eu tivesse ouvido, seria capaz de lidar com isso sozinho sem muitos problemas", disse Ecclestone ao programa "Good Morning Britain".

Ecclestone, de 91 anos, ainda polemizou ao comentar no mesmo programa a guerra entre Rússia e Ucrânia. Amigo próximo de Vladimir Putin, ele defendeu veementemente o presidente russo - alvo de críticas por ter iniciado os ataques ao país vizinho — e criticou o chefe de Estado ucraniano, Volodymir Zelenski, por não ter tentado evitar o conflito.

"Eu levaria um tiro por Putin. O que ele está fazendo é algo que acreditava ser a coisa certa a fazer pela Rússia. Infelizmente, é como muitos empreendedores, como eu, que cometemos erros de vez em quando. Se você o comete, tem de fazer o possível para sair dele", declarou Ecclestone. A outra pessoa na Ucrânia, eu entendo que ele costumava ser um comediante e acho que ele parece querer continuar nessa profissão. Eu acho que se ele tivesse pensado bem, definitivamente teria feito um esforço grande o suficiente para falar com Putin, que é uma pessoa sensata, e ele o teria ouvido. Se a Ucrânia quisesse sair dela, poderia ter feito isso."

Os comentários de Bernie Ecclestone rapidamente ganharam repercussão e a Fórmula 1 divulgou comunicado afirmando que as opiniões do ex-CEO da organização são "pessoais" e "contrastam fortemente com a posição dos valores modernos" do automobilismo.

Entenda a polêmica entre Piquet e Hamilton

Nelson Piquet foi flagrado usando um termo racista para se referir a Lewis Hamilton, em um vídeo de 2021 que circulava nas redes sociais e ganhou repercussão o fim de semana. Nas imagens, é possível ouvir o ex-piloto brasileiro chamando o heptacampeão de "neguinho" ao comentar um acidente envolvendo o inglês e Max Verstappen durante o Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, na Inglaterra.

"O neguinho meteu o carro e não deixou (Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro se f*deu. Fez uma p*ta sacanagem", criticou Piquet, em entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira. Na ocasião, Piquet ainda comparou a batida entre os pilotos da Mercedes e da Red Bull com a polêmica colisão de Ayrton Senna e o francês Alain Prost, principal rivalidade da Fórmula 1 no passado. O caso de Senna ocorreu na largada do GP do Japão, em 1990, que garantiu o título daquele ano ao brasileiro. "O Senna não fez isso. O Senna saiu reto", comparou.

Desde o começo da semana, o comentário do brasileiro foi duramente criticado por internautas, relembrando o seu histórico de frases polêmicas. "Surpreendendo um total de zero pessoas", escreveu uma usuária do Twitter. "Imagina o que ele não deve falar em off", escreveu outra. A filha do tricampeão de 69 anos, Kelly Piquet, é namorada de Max Verstappen. O holandês visitou o ex-piloto em Brasília antes do GP de São Paulo, em novembro de 2021, que terminou com Hamilton no lugar mais alto do pódio. Porém, foi Verstappen quem terminou com o título ao fim da temporada.

Hamilton pede 'mudança de mentalidade'

Lewis Hamilton se pronunciou somente na terça-feira, dia 28, sobre o assunto. E condenou o tricampeão brasileiro. Escrevendo em português, o heptacampeão de Fórmula 1 pediu foco em "mudar a mentalidade" das pessoas sobre o racismo, clamando em seguida pelo fim de atitudes e comentários desse tipo no automobilismo mundial. Lewis tem sido um ativista pelos direitos humanos, contra o racismo e qualquer tipo de preconceito às minorias. Ele sempre declarou seu 'amor' ao Brasil e ao piloto Ayrton Senna.

"Vamos focar em mudar a mentalidade", escreveu. "É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Eu fui cercado por essas atitudes e fui alvo delas a minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação." Ele não descartou um processo contra Piquet.

Piquet pediu desculpas e disse que nunca quis ofender o piloto da Mercedes. Veja a nota:

Gostaria de esclarecer as histórias que circulam na mídia sobre um comentário que fiz em uma entrevista no ano passado. O que eu disse foi mal pensado, e não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa' e foi nunca teve a intenção de ofender.

Eu nunca usaria a palavra da qual fui acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele.

Peço desculpas de todo o coração a todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um piloto incrível, mas a tradução em algumas mídias que agora circulam nas redes sociais não está correta. A discriminação não tem lugar na F-1 ou na sociedade e estou feliz em esclarecer meus pensamentos a esse respeito.

Estadão
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