F1 e MotoGP: Casamento anunciado, porém ainda não concretizado
Dorna anuncia a compra do controle acionário pela Liberty Media e F1 e MotoGP podem ficar sob o mesmo teto. Mas não ficarão juntos ainda
No fim de 2019, Valentino Rossi e Lewis Hamilton fizeram uma troca de veículos em Valência (Espanha: o britânico foi pilotar a moto de Valentino e o italiano entrou na Mercedes de Hamilton. Foi uma integração que atendeu ao sonho dos fãs e dos publicitários. E, sem querer, foi premonitória...
Não era de hoje que a conversa aparecia no ar. Mas os boatos se reforçaram nas últimas semanas e no sugestivo Primeiro de Abril, veio o anúncio oficial: a Dorna, organizadora da MotoGP, será adquirida pela Liberty Media, dona da F1...
As duas entidades conversam não é de hoje, mas oficialmente vinha a desculpa de “potencializar” as duas categorias, quem sabe considerando eventos conjuntos. Anos atrás, o logo da F1 apareceu na MotoGP e foi alimentando a história de que poderia haver algum tipo de integração...
A Liberty Media chega em um momento em que a Dorna se encontra em um momento complicado com o seu principal produto, que é a MotoGP. Embora tenha entregado boas corridas, a categoria perdeu um de seus maiores ídolos (Valentino Rossi), um multicampeão em xeque (Marc Marquez) e uma renovação um tanto quanto claudicante.
Mas a Dorna não é somente a MotoGP. A empresa espanhola, dona dos direitos da categoria desde 1991, também comanda o Mundial de Superbike. as Moto2 e Moto3, o campeonato de motos elétricas MotoE™ e o campeonato feminino, que começará a ser disputado este ano com o apoio da Yamaha.
Mesmo com todo este portfólio bem interessante e estruturado, os espanhóis têm tido problemas para garantir a expansão do negócio. Tempos atrás, as motos possuíam uma atenção que rivalizava até com a F1. Mas atualmente tem um quadro muito semelhante ao que a própria F1 tinha anos atrás justamente quando a Liberty Media a comprou.
O acordo, estimado em 3,5 bilhões de euros, prevê que a Liberty Media compre 86% das ações da Dorna (o restante segue com os espanhóis) e Carmelo Ezpeleta, atual CEO, siga no posto ao menos por enquanto.
A proposta da Liberty Media não era a única que estava na mesa da Dorna: o Fundo Esportivo do Catar (dono do Paris Saint-Germain) e a americana William Morris Endeavor (que já comandou o Ultimate Fighting Championship) estavam na disputa. Mas a proposta da Liberty é a que fazia mais sentido pelo lado esportivo, não somente o financeiro. Neste ponto, o negócio foi motivado pelo fundo de investimento britânico Bridgepoint Capital, que detém 38% do capital da Dorna.
O comunicado divulgado nesta segunda dá conta que o negócio será concluído ao longo do ano e que dependerá das análises regulatórias. Este é um ponto que deverá receber bastante atenção pela União Europeia, já que a Dorna é uma empresa espanhola.
No passado, a mesma União Europeia barrou um acordo semelhante fechado com a CVC Partners, empresa alemã que era dona da F1, em 2006. A alegação na época é que a aquisição seria “agressiva” e criaria um monopólio. O tempo passou, a União Europeia endureceu suas regras e uma nova negativa não seria descartada. Como o negócio pode ser aprovado, prevendo algumas contrapartidas (venda da Superbike e Moto2 e 3?). Voto nesta segunda opção.
Ainda tem muita coisa a acontecer, mas o negócio acaba por fazer muito sentido, pode trazer muitas convergências entre as partes (a MotoGP pode ganhar muito especialmente nas redes sociais, área em que a F1 soube explorar muito bem) e junta várias das principais categorias do esporte a motor. Não nos espantemos se, em breve, o tão falado projeto de uma corrida conjunta em Austin for realmente consolidado.