Fórmula E estreia em São Paulo com dobradinha da Nova Zelândia, batidas e brasileiro em último
Mitch Evans, piloto da Jaguar ganha o E-Prix da capital paulista; neste sábado, categoria de carros elétricos acelerou no Sambódromo na primeira etapa disputada no País
A estreia da Fórmula E em São Paulo, neste sábado, ficou marcada por emoção na briga pela vitória, toques que provocaram abandonos e participação tímida dos pilotos brasileiros. No Anhembi, Mitch Evans, neozelandês da Jaguar, ganhou a corrida, seguido pelo compatriota Nick Cassidy, da Envision. O pódio ainda teve outro representante da Jaguar, o britânico Sam Bird.
A prova começou mostrando que a primeira curva seria decisiva. Quem passasse ileso, sem qualquer batida, poderia sonhar em conquistar pontos. Nas primeiras voltas, alguns toques empurraram carros da Nissan, Envision e Maserati para o fundo do pelotão. Logo depois, Sacha Fenestraz, também da Nissan, provocou uma bandeira amarela e o safety car foi acionado. Jake Dennis foi pelo mesmo caminho, beijou o muro com a roda traseira, teve de abandonar e o mesmo procedimento foi adotado.
A briga pelas primeiras posições foram intensas. O pole Stoffel Vandoorne (Penske), António Félix da Costa (Porsche) e Cassidy se revezaram na liderança da prova. O português, vencedor da etapa anterior na Cidade do Cabo, passou direto em uma das curvas e se afastou da luta pela vitória. Aos poucos, os carros da Jaguar, com Evans e Bird, se impuseram. Na última curva, sobrou emoção, e a vitória ficou mesmo com a escuderia britânica. Do mesmo modo como foram todas as etapas da temporada 2022-23 até aqui, o pole position não levou o troféu.
"Os treinos classificatórios têm sido bons, o ritmo de corrida também, não tinha motivo para não converter em resultado", iniciou Evans, que também comentou a disputa com o compatriota com que batalha por vitórias desde os seis anos de idade. "Hoje, pela dificuldade de gerir a corrida, ele (Cassidy) foi muito bem. Eu tive um pouco de sorte em algumas partes da corrida. Dirigir contra esses caras, Vandoorne, António, é como jogar xadrez todo dia. Foi um resultado excelente para o time."
BRASILEIROS
Lucas di Grassi largou do último lugar após bater no treino classificatório e não conseguir marcar uma volta rápida. Ao sair do cockpit, o paulistano não escondeu a decepção, socou uma mesa e bateu a porta da sala dos pilotos nos boxes da equipe Mahindra. Na corrida, era necessária uma prova de recuperação. Experiente, foi ganhando posições e deixou para trás o compatriota Sérgio Sette Câmara, da Nio 333. Finalizou a prova em 13º.
O paulistano lamentou o resultado obtido em casa e disse não ter perspectiva de melhora para o restante da temporada. "Prometeram um carro competitivo e não é isso que temos hoje. Eu subestimei as diferenças que poderiam haver esse ano entre as equipes. Estamos fazendo um trabalho árduo e de longo prazo", afirmou di Grassi, que analisou positivamente o evento, mas vê margem para melhora. "A pista é bem legal, mas as ondulações precisam ser corrigidas. O meu carro chegou a 268 km/h. É uma pista, do ponto de vista técnico, legal, mas pode melhorar".
Sette Câmara, como previa, fez um treino classificatório positivo, mas foi punido e o carro não teve o mesmo rendimento na corrida. O mineiro não conseguiu fugir do meio do pelotão e ficou brigando por lugares intermediários. Nas últimas voltas, perdeu novas posições e encerrou sua participação em 17º, último lugar entre os pilotos que terminaram a prova.
Após a prova, o mineiro disse que esperava que a entrada de novos satefy cars o ajudassem a ganhar posições. Um dos problemas verificado por Sette Câmara na pista foi a reta do Sambódromo, em que faltava aderência, os carros eram obrigados a andar no traçado ideal e abdicaram de tentar ultrapassagens pelo risco de passar direto na primeira chicane. Apesar do mau resultado, o brasileiro entende que o evento foi positivo para aproximar o público da Fórmula E e espera voltar em 2024 com um carro melhor.
"Foi um E-Prix especial. Estava um pouco ansioso, mas é uma experiência que quero repetir. Tive de largar em 16º, fiquei no meio daquela pancadaria. Usei a energia nos momentos errados. Também ninguém queria liderar a prova, causando um efeito sanfona, com os líderes não andando rápido. Para ultrapassar, vira uma confusão, e eu não soube administrar isso muito bem. Não dava para pontuar hoje, fui para o 'tudo ou nada', mas não deu certo", avaliou.
CLASSIFICAÇÃO
- Mitch Evans (NZE - Jaguar), 35 voltas
- Nick Cassidy (NZE - Envision), +0s284
- Sam Bird (GBR - Jaguar), +0s507
- António Félix da Costa (POR - Porsche), +3s487
- Jean-Éric Vergne (FRA - DS Penske), +4s042
- Stoffel Vandoorne (BEL - DS Penske), +4s576
- Pascal Wehrlein (ALE - Porsche), +5s659
- Jake Hughes (FRA - McLaren), +6s141
- René Rast (ALE - McLaren), +7s403
- Sébastien Buemi (SUI - Envision), +7s976
- Max Günther (ALE - Maserati), +15s192
- André Lotterer (ALE - Andretti), +15s345
- Lucas di Grassi (BRA - Mahindra), +19s247
- Dan Ticktum (GBR - Nio 333), +19s398
- Robin Frijns (HOL - ABT), +20s751
- Oliver Rowland (GBR - Mahindra), +26s465
- Sérgio Sette Câmara (BRA - Nio 333), +31s514
NÃO TERMINARAM
- Nico Müller (SUI - ABT)
- Edoardo Mortara (SUI - Maserati)
- Jake Dennis (GBR - Andretti)
- Sacha Fenestraz (FRA - Nissan)
- Norman Nato (FRA - Nissan)
ENTORNO
A organização estima que 23 mil pessoas acompanharam o E-Prix. Durante os treinos livre e classificatório, as arquibancadas ficaram esvaziadas. A maior parte do público, no período da manhã, preferiu aproveitar as atividades montadas pela organização no entorno do Sambódromo. Havia simuladores de corrida para o fã se sentir dentro de um carro de Fórmula E, exposições interativas, tênis de mesa, escorredores, DJs e outras gincanas. Na corrida, a presença de público melhorou, mas não houve lotação. Camarotes contaram com a presença de ex-pilotos de Fórmula 1, como Emerson Fittipaldi e Luciano Burti, e a skatista Letícia Bufoni.
"A Fórmula 1 tem mais de 70 anos, enquanto a Fórmula E não tem dez. A experiência dos carros elétricos deixa o futuro cada vez mais perto de nós. A F-1 sempre será a F-1, mas os carros elétricos vão aumentando sua importância com a nova geração. É o futuro", afirmou Fittipaldi.
Ao ingressar no circuito, o público, majoritariamente jovem, recebeu uma pulseira que serviria como um cartão, sendo carregado com determinado valor para ser gasto nos quiosques de alimentação. Água foi distribuída gratuitamente em bebedouros para evitar geração de mais lixo plástico.
No grid de largada, a organização levou um casal de mestre-sala e porta-bandeira para uma exibição. Componentes de escolas de samba ficaram posicionados fantasiados diante dos carros, em atuação semelhante às grid girls. O forte calor causou um leve mal-estar em uma delas, que foi amparada e retirada da pista pela equipe médica.
PRÓXIMA PARADA
A Fórmula E desembarcará em Berlim, capital da Alemanha, para a próxima etapa da temporada no dia 22 de abril. Será uma rodada dupla, com corridas no sábado e no domingo. A categoria ainda passa por Mônaco, Jacarta (Indonésia), Portland (EUA), Roma (Itália) e Londres (Grã-Bretanha).
A liderança do campeonato segue nas mãos do alemão Pascal Wehrlein, da Porsche, com 86 pontos. seguido por Jake Dennis, da Andretti, com 62, e Nick Cassidy, com 61.