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Fórmula E na Cidade do Cabo quer recolocar África do Sul no mapa da elite do automobilismo

País tem apenas um piloto na categoria de carros elétricos e luta para reencontrar espaço no esporte a motor

24 fev 2023 - 20h11
(atualizado às 20h42)
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CIDADE DO CABO (África do Sul) - A África do Sul está afastada da elite do automobilismo mundial desde 1993. Único país africano a receber um Grande Prêmio de Fórmula 1, a África do Sul busca reconstruir sua relação com o esporte a motor tendo a Fórmula E, categoria de carros exclusivamente elétricos, como propulsor. Neste sábado, a Cidade do Cabo é palco da quinta etapa da temporada 2022-2023 da F-E.

Na Fórmula E, há apenas um piloto sul-africano, Kelvin van der Linde. A princípio, Van der Linde não tem garantias de que continuará no cockpit da equipe ABT no restante da temporada. Ele substitui o holandês Robin Frijns, que quebrou o pulso e sofreu fratura quádrupla na mão esquerda durante o E-Prix do México, na inauguração do campeonato. Frijns precisou passar por cirurgia e não há previsão certa para retorno. Sem muito sucesso até aqui, o sul-africano conseguiu apenas 16º e 18º lugares na Arábia Saudita e não terminou a prova da Índia.

"Correr na Cidade do Cabo será mais uma boa oportunidade dada a mim pela Fórmula E. Agradeço também à ABT pela chance viver este fim de semana especial no meu país. Espero que o Frijns esteja cada vez melhor para poder continuar sua recuperação e estar na pista em São Paulo", afirma Van der Linde.

PASSADO E FUTURO

Van der Linde é o primeiro africano a participar da Fórmula E, mas a ausência de pilotos do continente não é novidade na elite do esporte a motor. A África do Sul é uma pequena exceção à regra. Entre as décadas de 1960 e 1970, era comum que nas corridas de Fórmula 1 no país, pilotos locais se lançassem na prova. Assim, uma série de pilotos sul-africanos participou de corridas da F-1, no entanto, não estiverem na temporada completa.

Jody Scheckter é o grande nome para o automobilismo da África do Sul. Participando da Fórmula 1 de 1972 a 1980, o ex-piloto, agora com 73 anos, foi campeão mundial em 1979 com a Ferrari. Scheckter ficou em segundo lugar em 1977 e finalizou o campeonato na terceira posição em outras duas oportunidades, em 1974 e 1976.

Depois de Scheckter, nenhum outro piloto africano guiou um Fórmula 1. São 43 anos sem representação na categoria máxima do automobilismo mundial. Ter um piloto da Fórmula E, portanto, se torna motivo de orgulho para o país e serve de incentivo para que mais pessoas acompanhem o E-Prix da Cidade do Cabo, que acontece no Green Point, no entorno do estádio que recebeu partidas da Copa do Mundo de futebol de 2010.

"Para a Cidade do Cabo, este evento é muito importante, pois colocou a cidade no mapa do automobilismo com uma pista do centro da cidade abaixo da icônica Table Mountain. A corrida terá uma sensação de correr em Mônaco. Também é importante para a África do Sul, porque os sul-africanos estão pedindo o retorno das corridas internacionais", avaliou ao Estadão Alan Winde, premiê da província de Western Cape, cuja capital é a Cidade do Cabo.

O presidente da Federação Sul-Africana de Automobilismo (Motorsport South Africa), Anton Roux, acredita que o investimento na formação de novos pilotos é fator essencial para elevar a participação do continente no automobilismo mundial.

"A própria Fórmula E não levará necessariamente mais africanos a participar do automobilismo, no entanto, estamos desenvolvendo o esporte desde os níveis de base, apoiando o kart e trabalhando em um campeonato de kart entre países africanos. Estamos fazendo com a ajuda da FIA", afirma Roux em contato com a reportagem do Estadão.

"Tenho certeza de que esta corrida influenciará tantas pessoas em suas escolhas de carreira daqui para frente que agora pensarão em veículos elétricos, armazenamento de bateria, eletrônica e engenharia elétrica. Esta corrida é o nosso futuro e mal posso esperar", complementa o premiê Winde.

Ao montar um circuito de rua na Cidade do Cabo, a África do Sul busca mostrar especialmente à Federação Internacional de Automobilismo (FIA) sua capacidade para receber eventos desta magnitude. O país está na lista de candidatos a voltar a receber um Grande Prêmio de Fórmula 1. No entanto, as crises energética e econômica que a África do Sul vive são bloqueios para acordos.

A África do Sul convive com uma série de apagões que duram até 12 horas. O grave problema nas redes de abastecimento fez o presidente Cyril Ramaphosa decretar estado de catástrofe para desbloquear fundos e ajudar a empresa pública Eskom, responsável pelo fornecimento de energia elétrica, a se reorganizar financeira e estruturalmente.

Hotéis do centro da Cidade do Cabo distribuem a seus hóspedes um folheto com dicas de segurança para circular pela região. São apontados problemas que estamos acostumados a lidar nas grandes cidades brasileiras. A cartilha alerta para uso de celulares, laptops e câmeras nas ruas, ser seguido ao sacar dinheiro em caixas eletrônicos e distração ao deixar bolsas, celulares e carteiras sobre mesas de restaurantes.

NOVOS EVENTOS

Em 2019, a Cidade do Cabo recebeu um evento de promoção da Red Bull com um carro de Fórmula 1 acelerando nas ruas da cidade. Joanesburgo, cidade mais populosa da África do Sul, possui o Autódromo Kyalami, utilizado nas provas da F-1 de 1967 a 1985, e novamente entre 1992 e 1993.

"A MSA (Motorsport South Africa) regula mais de 300 eventos por ano na África do Sul. Neste fim de semana, temos dois eventos internacionais na África do Sul, a Fórmula E na Cidade do Cabo e as 9 horas de Kyalami do Intercontinental GT Challenge. Os sul-africanos são apaixonados por seus carros e temos o privilégio de poder usar esses eventos internacionais para mostrar a África do Sul", inicia Roux. "O maior beneficiado será o setor de turismo. Qualquer evento internacional de sucesso promoverá o país e, com sorte, levará a repeti-los na África do Sul".

"A Cidade do Cabo já é conhecida como a capital de eventos da África, mas eventos globais como este sempre mostram esta bela cidade e continente. Estamos hospedando o Campeonato Mundial de Hóquei no Gelo no momento, sediaremos a Copa do Mundo de Netball em alguns meses e já hospedamos com sucesso tantas copas de rúgbi e futebol. Mas também somos conhecidos por conferências globais como a Mining Indaba (maior conferência de mineração do mundo) realizada na semana passada e esta semana temos eventos artísticos aqui com pessoas vindas de todo o mundo, mas a Fórmula E está mais uma vez levando nosso destino para o próximo nível", afirma Winde.

Um dos entusiastas da África do Sul na Fórmula 1 é o heptacampeão mundial Lewis Hamilton. "Estamos em todos os outros continentes, então por que não correr na África? Nós vamos a muitos desses lugares para destacar esses países e essas comunidades, então não há razão para não fazer isso na África. Tenho trabalhado o máximo que posso com Stefano (Domenicali, CEO da F-1) nos bastidores para tentar fazer isso acontecer. Também é um sonho ter essa chance antes de eu parar de correr. Uma corrida na África seria incrível", destacou Hamilton.

Em meados de 2022, Domenicali fez uma visita à África do Sul para negociar a inclusão de um Grande Prêmio no país. Apesar das conversas avançadas, o acordo não prosperou para 2023, especialmente por questões financeiras. Para uma cidade receber a F-1 é necessário desembolsar uma boa quantia, conhecida como "fee". São Paulo, por exemplo, paga cerca de US$ 25 milhões por ano, R$ 130 milhões na cotação atual.

Há ao menos duas datas para serem preenchidas em 2024. É aí que moram as esperanças dos sul-africanos. "Há potencial para estarmos na África em breve. É um objetivo muito claro", disse Domenicali à época. Enquanto não garante a F-1, a África do Sul quer mostrar seu potencial com a Fórmula E na Cidade do Cabo. A avaliação da cidade não será feita apenas pelos organizadores da categoria, como também por pilotos e equipes.

E-Prix da Cidade do Cabo

Sábado - 25/02

  • 4h05 - Treino Livre
  • 6h40 - Treino classificatório
  • 11h03 - Corrida

Transmissão: BandSports e Band.

* O repórter viajou a convite da ABB FIA Formula E World Championship.

Estadão
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