1º de Maio e Ayrton Senna: ligados eternamente na F1
Todo 1º de Maio bate à porta o tema e o fã de F1 não fica indiferente. Senna marcou a data para sempre e eis aqui o que significa para mim
O 1º de Maio acaba tendo um enorme simbolismo para o fã da F1. Não se pode passar indiferente após 1994. Mesmo para os haters, o fim de semana do GP de San Marino daquele ano é um dos pontos que merecem atenção. Não é o mais trágico da categoria (Monza 1961 tem um peso maior), Mas pelo fato de ter sido amplamente captado, tem um impacto maior.
Neste ponto também acaba entrando Ayrton Senna. Claro que seus feitos foram enormes, mas também foram catapultados por ter sido na grande onda da ampliação das transmissões pela TV e da transformação do Planeta em uma Aldeia Global. As distancias se reduziram e nos anos 80, a F1 soube se aproveitar muito bem para se transformar no colosso atual.
Para nós brasileiros, Senna era o Brasil que dava certo. Em um período de grande desesperança, em que nada parecia dar certo, suas vitórias eram um grande alento. Para o resto do mundo, um homem que fazia das corridas a razão de respirar e um daqueles seres que aparecem de tempos em tempos para fazer coisas extraordinárias.
Senna talvez tenha sido o meu primeiro herói. F1 começou a fazer parte da minha vida aos 6 anos e foi algo natural, não tive ninguém para me apresentar a categoria. O carro preto com capacete amarelo me chamou a atenção 1 ano antes e a consciência posteriormente me fez segui-lo com afinco e admiração.
A paixão pela F1 e por aquele moço me fazia acordar cedo aos domingos para ver tudo. Quantos rabiscos foram feitos tentando transmitir no papel o que se sentia. Tantas revistas compradas e devidamente recortadas para fazer colagens. A festa de 8 anos de idade foi de que? F1 obviamente.
O dia em que tive a chance de vê-lo de perto e cumprimentá-lo foi um dos mais emocionantes. Era 1990 e Senna havia sido recebido pelo então Presidente Collor e este, ainda gozando de certa popularidade, fazia um evento toda sexta-feira chamado de “Descida da Rampa”. Como estava em Brasília, fomos até lá. Após a descida, a multidão foi para cima. E por um momento, estava ele lá, em minha frente. Aturdido pela multidão, de terno e gravata, sendo chamado.
Rapidamente, tive a chance de apertar sua mão. Para um garoto de 10 anos, aquele talvez seria o ponto alto de uma vida até então. Estar frente a frente ao seu ídolo foi algo que não acontece todo dia.
O tempo passou e esse carinho permaneceu. Em 94, a paixão pela F1 era a que prevalecia, mas Senna ainda era o favorito. E curiosamente, quando Williams 2 bateu na Tamburello, o susto veio, mas estranhamente, fui acometido por uma calma tensão, talvez um torpor. Acompanhava tudo, mas não me desmontei. Minha mãe, que acabou gostando de corridas por minha causa, quando soube do que aconteceu, acabou-se em lágrimas.
Mesmo quando a morte foi confirmada, segui em frente. A tristeza estava ali, mas não houve lágrima. No dia seguinte, toda a escola foi falar comigo (sim, eu já era o maluquinho por corridas) e até mesmo o jornaleiro se preocupou em separar tudo que havia saído para mim. Eu tive depois dúvidas se seguiria acompanhando a F1 depois de tudo. Mas tudo seguiu e estamos aqui até hoje.
Hoje, o carinho e a admiração seguem aqui. Dos que vi até hoje, ele me chamou a atenção. Devemos sim lembrar do que ele fez e ter como um exemplo de perseverança e de fazer bem as coisas. O importante é ter esta visão positiva, sem grandes doses de fanatismo. Talvez seja este último ponto que incomode ao ver tanta gente falando dele em certas horas.
Mas se entende: Senna representou muito em determinado momento para o Brasil, como falamos. Era humano, como todos. O melhor? Dos que vi, sim. Mas em relação aos outros? Aí fica da avaliação de cada um. Afinal, o fator emocional entra em ação nestas horas e faz a diferença. E deve ser respeitada essa visão.
Deixemos as boas lembranças e imaginemos as possibilidades do que poderia ter acontecido se ele tivesse saído vivo daquela batida na Tamburello. Quero ter sim comigo a imagem borrada daquele 21 de abril de 1985, quando tive o primeiro contato consciente com a F1 e disparou a paixão por algo que tragou comigo até hoje.
Obrigado, Senna!