30 anos sem Senna: A presença que ainda segue na memória
Um relato sobre o que Ayrton Senna representa para mim e que transformou sempre minha vida, não somente em relação à F1
A marca de 30 anos da morte de Senna já me assola por um tempo. Falar de Senna é complicado, pois falar de uma figura tão enorme é algo complexo e se parece que não há mais o que ser dito sem cair em repetição e no sentimentalismo.
Um dos culpados por eu gostar desta coisa de carrinho dar voltas em círculos é Senna. A minha primeira lembrança de F1 é justamente aquele 21 de abril de 1985, quando aquele carro preto com um cara de capacete amarelo ia navegando no aguaceiro em Portugal. E naquele mesmo ano, lembro de ter a porta do meu quarto com alguns cartazes da tabaqueira que patrocinava a Lotus.
No ano seguinte, posso dizer que comecei a acompanhar para valer a F1. E elegi Senna como o meu favorito. Desde então, a vontade de acompanhar o brasileiro foi se transformando em amor pela velocidade. Mas como tantos brasileiros àquela altura, a motivação principal era sim ver o que Senna fazia.
Naquele momento, a F1 era um escape para um Brasil que sofria com crise econômica, baixa auto estima, nada parecia dar certo...Senna soube capitalizar sua imagem e com a competência e talento, conseguiu construir esta ligação junto ao público. Mas não dá para se dizer que foi um fenômeno exclusivamente nacional: Senna tornou-se um icone mundial. Seu desempenho calhou de pegar um momento em que as telecomunicações deram um salto exponencial e a F1 teve uma expansão de alcance mundial aproveitando esta onda.
Curioso que o momento que mais me marca em relação a ele nem é a sua morte. Como falei algumas vezes com amigos, eu acompanhei tudo com total consciência (tinha 14 anos), fiquei muito triste, mas não foi uma situação que me atingiu tanto. Vendo em retrospectiva, me espanta até hoje como não me mexeu como vejo muitos falarem. Porém, nada foi como antes. Mesmo seguindo vendo a F1, a percepção mudou de alguma forma.
Mas a lembrança que mais me marca de Senna é o GP do Brasil de 1991. A epopéia que envolveu todo o GP, principalmente o final, é algo que ecoa e me emociona até hoje quando revejo as imagens com a narração de Galvão Bueno. A explosão pós-corrida (com direito a palavrão ao vivo) e o esforço do pódio são coisas que até hoje ressoa.
Pode parecer piegas e deve ser mesmo. Mas nestas horas não dá para ser imparcial. Embora me veja como um torcedor de Senna, não o coloco em um pedestal. Ele errou muito, falou bobagem...antes de tudo, era humano. Mas extremamente competente no que fazia e deixou sua marca na F1 e no coração dos fãs de velocidade, embora tenha muito picareta que tente usurpar...
A F1 pode sim ter uma fase considerada antes e depois de Senna: ele transformou a abordagem de corrida, de preparação física, de uma ênfase em velocidade pura... e depois sim de tudo que aconteceu em termos de segurança para que um final de semana como de Imola 1994 viesse a acontecer.
Para encerrar este artigo, um fato pitoresco. Em dezembro de 1990, Senna participou de um evento chamado "Descida da Rampa" com o Presidente de então, Fernando Collor. Naquela época, ainda surfando em certa popularidade, Collor organizava na sexta-feira uma descida da rampa do Palácio do Planalto no final da tarde. Era uma forma de ter contato com o povo e aproveitar de popularidade de personalidades.
Normalmente, por questões familiares, meus finais de ano eram em Brasília. E quando estava lá, numa dessas sextas, Senna iria descer a rampa com Collor. Meu coração de garoto de 10 anos de idade ficou louco e claro que foi todo mundo para a Praça dos Três Poderes para tentar ver alguma coisa.
Para entender: normalmente às 17 horas, um grupo comandado por Collor descia a rampa do Palácio e o publico era autorizado a invadir a pista que separava o Palácio da Praça. Uma verdadeira bagunça e que deixava a segurança insadecida.
E esta sexta não foi diferente: 17 horas, pontualmente, aquele batalhão com Collor e Senna vinha em direção àquela massa de gente. E se deu a loucura: o publico foi para cima.
No meio da conufusão, estávamos todos juntos. Como algo inesperado, naquela balbúrdia: quem apareceu na nossa frente: Ayrton Senna da Silva.
Ele estava de terno e extremamente assustado com aquele assédio todo e sem nenhuma segurança aparente. Fomos em direção a ele e simplesmente apertei sua mão. Foi o troféu máximo do dia. Hoje em dia, seria um festival de fotos, vídeos e o escambau. Mas só restou a memória...
Obrigado, Senna. Você nunca sairá do pensamento daqueles que amam o automobilismo. Para mim, uma presença que mudou tanto e segue inspirando.