40 anos atrás, Villeneuve e Pironi marcavam seus destinos na F1
40 anos atrás, uma das páginas mais controversas da F1 era escrita em Ímola, detonando uma fase extremamente negativa para a Ferrari
Para aqueles fãs que gostam da história da F1, o dia 25 de abril de 1982 tem um grande simbolismo. Especialmente para os ferraristas pois, neste dia, por conta de uma manobra, a sorte da equipe mudou totalmente no resto do ano.
Nesta data, se disputava o GP de San Marino, o 4º da temporada 1982. Uma grande discussão politica acabou marcando aqui. A FISA (atual FIA), então comandada por Jean Marie Balestre, estava em pé de guerra com a Associação de Construtores, a FOCA, comandada por Bernie Ecclestone, basicamente formada pelas equipes inglesas.
Desde o ano anterior, as partes vinham em uma briga tremenda por conta da aplicação do efeito solo, que Balestre era contra. Em 1982, a crise se aprofundou pela questão da Superlicença (que motivou a greve dos pilotos na Africa do Sul) e depois do uso das caixas de água para completar o peso dos carros (especialmente pelas equipes que ainda usavam os carros aspirados).
Este último item entrou na pauta por conta da desclassificação de Nelson Piquet e Keke Rosberg do GP do Brasil. Uma semana antes de San Marino, o Tribinal da FISA decidiu pela manutenção da desclassificação, confirmando a vitória de Alain Prost (Renault), que estava do lado da FISA. Esta decisão desencadeou uma decisão por parte da FOCA de boicotar o GP de San Marino.
Ainda havia outro fator: o GP seria na casa da Ferrari, que compunha o lado dos “legalistas” (Ferrari, Renault e Alfa Romeo). Após várias deliberações e tentativas de composição, as equipes da FOCA decidiram não participar do GP.
Bernie Ecclestone, também como promotor, ordenou o cancelamento das transmissões. Mas houve o contra-ataque: As equipes legalistas alinhariam para a prova e teriam o reforço da Osella, Toleman e Tyrrell. Estas duas, embora inglesas, tinham patrocinadores italianos e não poderiam se dar ao luxo de bancar. A alemã ATS também alinhou seus carros. E a RAI fez a transmissão do GP.
No dia 25 de abril, 14 carros alinhariam para o GP de San Marino. Porém Derek Warwick (Toleman) e Ricardo Paletti (Osella) tiveram problemas. O inglês não largou e o italiano saiu dos boxes. Recentemente, apareceu uma matéria dando conta que, para garantir a disputa da prova, o Diretor de Prova pediu para Renault e Ferrari segurassem o ritmo e gerassem um duelo pela liderança.
Se procede, não se sabe até agora. O fato é que os quatro carros saíram na liderança e Arnoux foi abrindo diferença. Se um plano de uma falsa disputa existia, foi ligeiramente prejudicado com o abandono de Prost com o motor quebrado na volta 7. Os três carros restantes seguiam embolados, bem distante dos demais.
Villeneuve e Pironi já vinham trocando de posições e Arnoux também entrou na jogada. E vao em uma briga encarniçada, até que na volta 44, o turbo da Renault quebra e Arnoux tem que abandonar. A partir daí, uma briga aberta pela vitória entre as duas Ferrari acontece, faltando 15 voltas para o final.
Até o final, 3 trocas de posição acontecem entre Villeneuve e Pironi. O box, comandado por Marco Piccinini e Mauro Forghieri, mandavam sinais para os dois para que reduzissem o ritmo. Na penúltima volta, Villeneuve ganhou a liderança e acreditava que assim ficaria. Afinal, tinha mais tempo de casa e, por conta da sua fidelidade ao longo dos anos, entendia que aquela hora seria sua vez de ser priorizado. Mas Pironi não entendeu desta forma e fez um ataque ao canadense na última volta, o ultrapassando na aproximação para a freada da Tosa.
Para a torcida, tudo lindo e maravilhoso. Duas Ferrari ganhando na Itália. Mas foi o início de uma fase extremamente negativa para os italianos. Antes amigos muito próximos, Villeneuve nunca perdoou Pironi por esta manobra. Já no pódio a reação do canadense era de extrema irritação.
Os dois não fizeram as pazes. Villeneuve começou a considerar o impensável e sair da Ferrari. Seu contrato estava no fim e havia uma intenção da Williams em contar com seus serviços. No GP seguinte, o da Bélgica, um entendimento havia sido alcançado e todos voltaram a disputar o campeonato. Villeneuve estava atras de Pironi nos treinos e saiu para uma ultima volta.
A Ferrari 27 se enganchou na traseira da March de Jochen Mass e levantou voo. Villeneuve foi ejetado do carro e não sobreviveu. Pironi foi até o local do acidente e recolheu o capacete do seu amigo. A Ferrari não alinhou para este GP.
Pironi só foi ter um novo companheiro 4 corridas depois, na Holanda. Patrick Tambay veio para principalmente ajudar a Ferrari nos Construtores. Quando o clima parecia desanuviar, com Pironi na liderança do campeonato após o GP da França, veio o GP da Alemanha...
No treino livre de sábado, debaixo de forte chuva e com péssima visibilidade, Pironi sobe no carro de Alain Prost, decola, percorre cerca de 100m, quica e cai no chão de frente. O francês fica com seu carro destruído e as duas pernas quebradas. Daí que se alega que vem a dificuldade de Prost em andar na chuva.
Pironi se salvou, mas a Ferrari acabou perdendo o título de pilotos, embora tenha conseguido o título de Construtores. Porém, o custo foi muito grande e marcou para sempre a história do time. Se a ordem do box tivesse sido cumprida por Pironi em Ímola, as coisas poderiam ter sido diferentes? Sim. Mas nunca saberemos se poderíamos ter o mesmo desfecho.
O fato é que Didier Pironi ficou marcado por não ter feito as pazes com seu amigo. E logo depois de sua morte, em 1987, sua namorada colocou em seus filhos gêmeos os nomes de Gilles e Didier. E agora, após de vários anos na Mercedes, Gilles Pironi vai para a Ferrari trabalhar no projeto do hipercarro para Le Mans. É a vida cumprindo seus designios de maneira impressionante.