AlphaTauri se afunda sozinha e vira maior rival de Gasly na Fórmula 1 2022
Pierre Gasly carregou a AlphaTauri nas costas por dois anos e meio, mas simplesmente não tem tido como repetir o feito em 2022. É que, por mais que ainda seja rápido e extremamente talentoso, o francês vai sofrendo com uma série de problemas de confiabilidade e estratégia. Em uma 'F1 B' tão acirrada, a maior rival de Gasly tem sido sua própria equipe
A classificação da Fórmula 1 2022 aponta Yuki Tsunoda com 11 pontos, enquanto Pierre Gasly tem apenas 6, mas um rápido exercício de retrospectiva explica como isso está acontecendo. Gasly não perdeu velocidade, não desaprendeu, segue um ótimo piloto. Acontece que a maré que mistura azar e incompetência da AlphaTauri tem acometido violentamente o francês no início da temporada.
É por isso que, em uma primeira análise, é justo dizer que Pierre deixou de brigar com a dupla da Alpine, com o pessoal da McLaren e agora começa a enfrentar a própria equipe antes de tudo. Em sete corridas, teve quebras em três delas, além de corriqueiros problemas de estratégia, o mais recente deles na classificação em Mônaco, simplesmente a definição de grid mais importante do ano.
Não é exagero afirmar, por exemplo, que Gasly poderia ter pontuado em todas as corridas de 2022 não fosse a AlphaTauri. A única exceção seria o GP da Emília-Romanha, mas ali entrou o fator azar: tomou uma paulada de Guanyu Zhou na Sprint Race e teve de ir de último para 12º. Numa corrida que Tsunoda foi sétimo.
Pierre Gasly com problemas tem sido algo normal em 2022 (Foto: Reprodução)
Mas vamos relembrar o restante da campanha do francês. No Bahrein, brigava por top-8 quando o motor quebrou, no primeiro problema de confiabilidade da lista. Em Jedá, foi oitavo, enquanto que na Austrália chegou na nona colocação. A partir da batida de Zhou em Ímola, o fio virou e tudo começou a dar errado.
Chegou o estreante GP de Miami e Gasly quebrou quando, de novo, estava na zona de pontos antes da janela de paradas. Na Espanha, a quebra veio ainda nos treinos livres e o francês correu com um carro estragado o tempo inteiro, parando em 13º. No GP de Mônaco, por fim, andou perto do top-5 em todas as atividades, mas caiu no Q1 da classificação ao sequer conseguir abrir a última volta rápida a tempo, num erro de cálculo primário da equipe após bandeira vermelha causada pelo próprio Tsunoda.
Foi depois disso que deu para ver uma versão de Pierre que era quase que desconhecida até aqui, ao menos na AlphaTauri. Foi um Gasly incomodado, chateado, bravo com tudo que vinha acontecendo. Era um cara que, no fim das contas, provavelmente já sabia que a Red Bull iria renovar com Sergio Pérez e, ao mesmo tempo, via a equipe que carregou nas costas pelos últimos anos naufragando sozinha, se enrolando nas próprias pernas.
"Extremamente frustrado hoje. Fomos rápidos o fim de semana todo, é muito frustrante jogar essa chance fora. Não estou feliz com a estratégia de hoje como um todo, mas principalmente porque deixamos os boxes tão tarde no Q1 e aí não pude abrir a última volta antes de acabar a sessão. Precisamos repensar muita coisa, nós tínhamos ritmo para top-6 e, no fim, não vamos largar nem perto de onde merecíamos", comentou o piloto que, no domingo, faria ótima corrida, basicamente realizando as únicas ultrapassagens da prova e, mesmo assim, terminaria fora dos pontos por pit-stops lentíssimos.
Pierre Gasly adorou a chuva em Mônaco, mas não foi aos pontos (Foto: AlphaTauri)
E aí, mesmo que Tsunoda esteja tendo um ano bem decente, com tanta coisa dando errado para Gasly, a AlphaTauri se afunda. A meta de brigar, pelo menos, por top-5 já parece ter ido para o saco. Primeiro porque o carro é consideravelmente pior que os dos últimos anos, mas muito pelo festival de quebras e erros estratégicos. A briga dos italianos, por enquanto, é com Haas e Aston Martin, pela modesta sétima posição.
Com um histórico de evoluir muito pouco durante os campeonatos, qual a perspectiva que tem a AlphaTauri em um ano assim? Não parece errado dizer que é se manter na frente de Haas, Aston Martin e Williams e pensar em 2023, mas como fica Gasly nessa história? Andar nessa faixa do grid é pouco, muito pouco para o talento do francês.
Com Max Verstappen e Pérez renovados na Red Bull, Pierre está, de novo, condenado a seguir na AlphaTauri para 2023. É isso ou buscar novos caminhos, o que realmente parece ser a melhor opção no momento. Helmut Marko, consultor dos austríacos, no entanto, quer manter o talento na organização. Mas sabe que não tem nada a oferecer de novo.
Helmut Marko quer manter Pierre Gasly no grupo, mas sabe que vai ser difícil (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
"Antes de Pérez assinar seu contrato, é claro que falei com Gasly", disse Marko, numa entrevista ao site alemão Formel1. "Temos de ver o que acontecerá depois de 2023. Qual é a alternativa para ele? Não acho que no momento exista uma alternativa que seja significativamente melhor que a AlphaTauri", acrescentou.
Marko até tem razão pensando de forma oficial, mas a própria McLaren já admite que pode rasgar o contrato e Daniel Ricciardo. Ir para Woking não seria melhor do que esperar uma chance nova na Red Bull que talvez nunca venha? Provavelmente, sim.
Ainda é cedo para projetar o que vai ser de Gasly em 2023, mas o francês nunca pareceu tão fora do grupo Red Bull quanto em 2022. Para o restante do ano, porém, já parece seguro dizer que as perspectivas são baixíssimas. É seguir fazendo o que sabe e torcer para, finalmente, os astros voltarem a se alinhar.
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