Alpine: um túnel em busca de uma luz de saída na F1
Se tem algo difícil de entender na F1 atual é a Alpine: os franceses tentam se encontrar para vencer, mas só conseguem se perder ainda mais
Um dos mistérios da F1 é a Alpine. Um time que tem apoio de um dos maiores grupos automotivos do mundo(Renault/Nissan) e uma série de recursos de força, como uma fábrica em Enstone (Inglaterra) e um centro de desenvolvimento de motores em Viry-Chatillon (França). Quando se pensa que a equipe vai achar um rumo, o destino se encarrega de deixar as coisas confusas...
Desde quando a Renault anunciou o seu retorno em 2015, vários projetos de crescimento e vitórias foram anunciados. Porém, se fossemos fazer um bingo de decisões equivocadas nos últimos 18 meses, a Alpine talvez preencheria umas 2 cartelas: dois CEOs da marca, demissão sumária de Chefe de Equipe e Diretor Esportivo (que estava lá há mais de 20 anos), saída do comando da área técnica e o mais novo anúncio: Esteban Ocon sai do time no fim do ano. Embora este já fosse um movimento esperado...
É um quadro muito distante do que o pensado em 2021, quando o CEO da Renault, Luca de Meo, anunciou o “Renaulution”, que era uma reestruturação imensa da marca por conta da COVID-19. Naquele momento, o fim do time na F1 era dado como certo e Di Meo tirou a marca Alpine da manga, a transformando na imagem esportiva do conglomerado e a usando na F1.
Por um lado, a marca nunca teve uma exposição tão grande como nos últimos tempos e a F1 teve participação nisso. Não é à toa que a controladora viu a oportunidade e vendeu parte das ações do time para um grupo de investidores em 2023. E a Alpine vem batendo recordes de venda para seus padrões.
O problema é que os sinais que chegam da França são confusos: por hora, o comando segue nas mãos de Bruno Famin, que originalmente veio como responsável pela área de motores da Alpine, depois foi alçado ao posto de Vice-Presidente e respondendo pela área de competições (aqui falamos do FIA WEC, gestão da academia de pilotos e outras coisas).
2024 tem sido de choro e ranger de dentes: logo após a definição do projeto do A524, houve uma grande varrida da área técnica, com direito a saída de Diretor Técnico. Sem contar que o time optou por não fazer como os demais e promover uma mudança mais radical em seu trem traseiro para tentar obter mais pressão aerodinâmica.
Junte a isso o uso do trem de força mais fraco do grid atualmente e que ainda levou uma chamada da FIA após ter pedido uma verificação junto aos demais para verificar a possibilidade de mexer na unidade de força, o que foi negado, pois a diferença observada pela FIA era bem menor do que a alegada pelos franceses...
Até agora, o flamante CEO da Renault não deu as caras no paddock. Se esperava uma visita em Monaco, já que é uma prova “caseira” da Renault. Mas não houve presença e ainda se busca uma saída. O projeto F1 da Alpine não deixa de ser uma aposta pessoal de Di Meo.
Embora ainda haja esta situação toda, há um movimento em cortar a maré negativa: semanas atrás, David Sanchez, ex-Ferrari e que havia sido contratado pela McLaren, mas não ficou 3 meses, foi trazido para comandar a área técnica. Além disso, mais técnicos de outros times também vieram, mas para tratar também do motor de 2026...
Até algumas semanas atrás, a posição da cúpula da Renault era manter o envolvimento e tentar botar a casa em ordem. Até porque há uma cobrança por parte dos acionistas da equipe, que gastaram cerca de 200 milhões de euros para ter 24% das ações.
Porém, a ordem é: vamos manter, mas sem descartar uma venda. Hoje, a Alpine consegue com as receitas vindas de premiação e patrocínios bancar boa parte da operação. Em um momento em que a Renault vem apresentando bons números financeiros, a situação ainda se justifica. Porém, a imagem que fica é complicada...
Uma das conversas que se teria para uma potencial venda seria com a Andretti, com quem os franceses tinham um pré-acordo de fornecimento de motor e peças. Agora, uma opção que aparece é a chinesa Geely, que formalizou dias atrás uma empresa em união com a Renault para o desenvolvimento e fabricação de motores a combustão chamada HORSE. O mais curioso neste caso é que os chineses também são acionistas na Aston Martin (montadora) e são donos de uma marca que já bateu ponto na carenagem dos atuais carros entre 2012 e 2015: Lotus.
Em princípio, o acordo que forma a HORSE não prevê a inclusão da unidade de Viry-Chatillon no negócio (onde são desenvolvidos e construídos os motores da F1). Mas se a Geely oferecesse um negócio interessante, com certeza Di Meo consideraria.
Alguns jornalistas que acompanham a categoria de perto ainda dizem que a Alpine tem como uma opção adotar um modelo semelhante ao da Alfa Romeo (vender o time e só entrar como patrocinador principal, desembolsando bem menos) e ainda contratar um outro fornecedor de motores, deixando de lado o desenvolvimento que está sendo feito até agora e se estima um gasto de mais de US$ 200 milhões até aqui.
Para quem está de fora, este é um quadro que assusta muita gente. Se fala em uma nova chefia definitiva para começar a pensar o futuro e até mesmo na volta de Flavio Briatore assumindo um papel de Consultor. Por mais que haja recursos e uma possível vontade de investir, falta direção. Fica difícil recrutar pessoal se não há uma visão clara do que se pensa e quer fazer.
Todo caso, a Alpine é um túnel em busca de uma luz de saída.