Andretti e Cadillac: o grande projeto americano na F1. Só falta aprovar
Após a declaração do Presidente de FIA de que queria iniciar a entrada de novos times na F1, a Andretti anuncia ligação com a Cadillac
Não é de hoje que a F1 pede por ter um projeto de peso dos EUA na categoria. Não foram poucas as tentativas, que envolveu nomes pesados do automobilismo como Dan Gurney, Roger Penske, Parnelli Jones e Carl Haas. A última é com Gene Haas, que montou sua estrutura com capitais americanos, mas know-how italiano (Ferrari e Dallara) e uma base operacional no Reino Unido.
Quem acompanha a F1 também sabe que a Andretti tenta vir para a categoria não é de hoje. Já falamos deste tema várias vezes e quase que se concretizou com a compra da Sauber, o que não aconteceu nos minutos finais, segundo Michael Andretti.
Porém, a busca seguiu. Mas boa parte das equipes atuais não viam com bons olhos a chegada de mais um participante. Embora de acordo com as novas regras, um novo time tenha que pagar uma taxa de US$ 200 milhões para compensar as perdas que os outros tenham em premiações.
Entre os que torcem o nariz, Toto Wolff, chefe da Mercedes, foi mais direto: não adianta ter um interessado, mas que não traga algo que agregue à categoria. Ou seja, não bastava somente ter um nome, como a Andretti, porém trazer diferenciais que pudesse ajudar a valorizar a categoria e, principalmente, as receitas. Stefano Domenicali, o CEO da F1, deu falas que não fechavam a porta, mas que davam alento para que mais montadoras viessem a se juntar ao grupo.
A coisa parecia ir para um caminho em que não daria em nada. Porém, a Andretti seguiu com o seu plano de construção de uma nova sede em Indiana(EUA), que incluiria as instalações para a montagem de um F1.
Em entrevista dada no fim do ano passado, Mario Andretti falou que o processo de preparação seguia em frente e que teríamos novidades em breve. E elas vieram através da fala do Presidente da FIA, Bem Sulayem, dizendo que estava orientando o lançamento de um processo de consulta a novos interessados na F1 (falamos aqui).
Sulayem vem na sua jogada de tentar colocar a FIA mais no controle da F1 e, por tabela, garantir maiores receitas para a entidade, que vem passando por questões financeiras pouco confortáveis. O anúncio foi cirurgico.
Nesta quinta, veio a notícia: A Andretti anuncia acordo com a Cadillac para se candidatar a uma vaga na F1, tão logo seja aberto o processo de consulta pela FIA. Um time 100% norte-americano, como fez questão de frisar no comunicado à imprensa.
Esta solução é o verdadeiro xeque-mate dos Andretti: ela era acusada de não ter um grande apoio por trás para seu projeto. Agora traz uma marca de peso de uma montadora americana, a General Motors. Em uma hora em que a F1 tem donos americanos e se expande nos EUA, é um belíssimo chamariz.
O que se sabe é que vai ter um piloto americano (Colton Herta é o mais cotado) e uma base na Inglaterra. O restante seria tocado da nova sede. Além disso, haveria o apoio da gigante financeira Gainbridge e outros apoiadores, que dariam o suporte para a taxa de inscrição (os famigerados US$ 200 milhões) e demais ações.
A grande dúvida que surge é: como a Cadillac entraria neste processo? Os americanos tem uma tradição de corridas, participaram de Le Mans na década de 50 e nos últimos anos tem tido um foco nos protótipos da IMSA. Mais recentemente, anunciou que também participará do WEC, aproveitando a convergência de regulamentos.
Dado o grande alcance da F1 no mundo e o crescente aumento da participação dos EUA no publico que acompanha a categoria e no seu calendário, a escolha para que a Cadillac entre neste processo faz sentido se houver uma expansão de atuação ou reforço em um publico mais jovem. Embora esteja entrando com força no campo dos elétricos, a Cadillac vem trabalhando em um modelo de SUV menor do que seus carros em linha para tentar ampliar seu publico (inclusive sendo testado no campo de provas da GM em SP).
Em relação aos motores, que fornece hoje para os protótipos é a ECR Engines, empresa de propriedade de Richard Childress, um dos papas da NASCAR, e que cuida também dos motores da GM na categoria. Aí a dúvida: estaria a ECR preparada para este serviço? Iria bater na porta da Ilmor, que atualmente presta serviços para a Chevrolet na Indy?
O fato é que, caso entre em 2026, a Cadillac teria que apresentar sua concordância às regras estabelecidas para os novos motores. Então, de novo a pergunta: estaria indo em conjunto com alguma existente ou partiria do zero? Todo caso, haveria a necessidade de uma aprovação tardia...
Das atuais marcas que deram a sua concordância com as novas regras, a Andretti tem ligação com a Honda na Indy e agora também terá na IMSA através da Wayne-Taylor Racing, que usa os Acura (divisão esportiva da Honda para o mercado norte-americano).
Todo caso, é uma dupla de respeito. Ben Sulayem levantou a bola e a Andretti veio cortando. Agora, é ver como os times irão tratar isso, bem como a Liberty Media. Afinal de contas, a Liberty tinha dito que “via com bons olhos” a entrada de novas montadoras. Mas e as equipes? Nós já vimos este filme antes...
Ainda há um ponto interessante para se ver: na atual conjuntura, temos 1 equipe que está em uma situação no mínimo duvidosa que a Williams (mais uma vez aumentam os rumores da Porsche entrando na situação). Além disso, a McLaren navega em águas agitadas por conta das finanças e a Alpha Tauri que é uma satélite da Red Bull. Poderia haver alguma jogada para manter os 10 times mesmo com a entrada da Andretti? A resposta é sim.
Muita coisa está para acontecer e podem ter certeza que os bastidores estão pegando fogo. A política da F1 está a todo vapor.