Aston Martin AMR24: uma evolução ousada para ficar na frente
O time britânico apresenta seu novo carro em Silverstone e mostra soluções interessantes para tentar brigar de fato por vitórias em 2024
A temporada de F1 2024 iniciou com o shakedown do VF-24 da Haas dia 02 e a apresentação do AMR24 da Aston Martin dia 12. O carro da Aston Martin foi desenhado tendo como objetivo maximizar a eficiência aerodinâmica e ter um bom desempenho em pistas de média e baixa velocidade.
A temporada de apresentações da F1 2024 começou na semana passada, mas pudemos notar um festival de projeções com algumas indicações do que pode ser a “vida real”. Algumas coisas são interessantes, mas ainda ficam mais perguntas do que respostas...
De carros reais, a Alpine foi a primeira a mostrar. A Haas apresentou o VF-24 dia 02, mas o shakedown foi feito no dia 11. A Aston Martin apresentou o AMR24 nesta segunda (12) e logo foi para Silverstone usar a nova regra de 200 km de “dia de filmagem” para verificar o novo carro.
Inicialmente, mais projeções de computador foram apresentadas. Mas logo as imagens de pista apareceram e muita coisa interessante apareceu. Embora tenhamos um regulamento extremamente restritivo, não podemos diminuir o trabalho dos técnicos. Um exército de 300/400 pessoas (por baixo) se debruçam para obter os ganhos nos detalhes. E aqui nós entendemos o trabalho hercúleo da FIA em tentar restringir as brechas (é praticamente 1 técnica da FIA para 10 técnicos das equipes).
O Aston Martin AMR24 se mostra, como bem definiu o Diretor Técnico Dan Fellows, uma evolução. O carro do ano passado mostrou ser um salto de qualidade, mas o desenvolvimento se perdeu na segunda parte da temporada. O modelo deste ano fica claro que usa a base anterior, mas atacando os pontos fracos.
O que ficou claro é que o carro tinha um bom desempenho em pistas de média e baixa velocidade. Só que uma coisa que a Aston ficou tendo que lidar toda a temporada foi a baixa velocidade final. Em várias oportunidades vimos Alonso e Stroll na parte de baixo da tabela de velocidades máximas. A Aston Martin bem que tentou resolver um pouco isso, mas os ganhos não foram tão grandes, especialmente no final do ano.
Neste aspecto, o grupo comandado por Dan Fallows procurou trabalhar bastante neste campo. A frente mostra mais curta e um pouco mais alta do que a anterior, bem como spoilers dianteiros com perfis menores. Aliás, pelo menos nesta primeira aparição, o AMR24 tem aerofólios de perfil menor do que antes. Tudo pela eficiência aerodinâmica.
Outro ponto interessante foi o ligeiro arqueamento dos triângulos de suspensão dianteiros. A Aston Martin optou por manter o sistema pushrod na frente (o braço principal vindo do alto do bico do carro), mas mudando bastante a fixação. Isso impacta no que se chama de “anti-mergulho” e está diretamente ligada à dinâmica do carro em curvas e freadas. Em tempos de carros com suspensões duras para tentar se aproveitar ao máximo do efeito solo, é importante que não se perca tanto tempo de reação quando o carro perde velocidade nas freadas...
Mas o desenho escolhido acaba por ter uma função de direcionar mais o ar para cima do carro, para tentar reduzir o arrasto e disciplinar o fluxo para o difusor e o aerofólio. Além de jogar mais ar para baixo, para aumentar o efeito do assoalho gerar pressão, bem como potencializar o efeito de jogar o ar para fora do carro para a lateral (o chamado outwash).
O trabalho que chama mais os olhos tenha sido as laterais. A Aston Martin resolveu ir mais além no desenho, basicamente deixando uma pequena abertura para os radiadores e escavando mais ainda as laterais, usando o sistema anti intrusão como referência.
A escolha acaba por tentar direcionar ainda mais o ar por baixo da lateral, tentando levá-lo não só para fora do carro, mas também juntar na parte mais arredondada superior, o chamado “escorregador”, para levar o ar mais limpo para a asa inferior traseira e o difusor (este campo ainda há alguma liberdade para os técnicos usarem alguns flaps para gerar pressão e direcionar fluxos).
Chama também a atenção o capô mais “justo”, o que ajuda na aerodinâmica. Tudo isso aponta que a Mercedes fez um trabalho firme de reposicionamento da área de refrigeração, embora a abertura sob o piloto siga bem larga, mesmo ligeiramente diferente. Temos que lembrar que, embora as especificações principais sejam congeladas por regulamento, os fabricantes podem mexer em algumas coisas.
E um ponto que a Aston Martin teve que mudar por conta da Mercedes foi a suspensão traseira. O regulamento permitiu que para esta temporada, o desenho da caixa de câmbio pudesse ser mudado (falamos aqui nisso). Esta mudança permitiu que as equipes tivessem maior liberdade para definir suas configurações...
Só que a Aston Martin, como a Williams, é cliente da Mercedes incluindo todo o trem traseiro. Então o AMR24 adotou a mesma configuração que o W15 usará: pullrod (braço vindo da parte inferior do carro). Isso ajuda bastante a direcionar melhor o ar para a parte traseira, embora a regulagem se torne um pouco mais complicado pelo acesso.
A ver como se comportará na pista com os demais. Mas já de ter colocado para jogo o tradicional verde britânico, já valeu a pena