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Colton Herta deve ter a Superlicença a qualquer custo na F1?

A busca por um piloto americano faz a F1 queimar etapas para conseguir logo o objetivo. Colton Herta merece ir, mas de qualquer jeito?

31 ago 2022 - 14h00
(atualizado às 14h22)
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Colton Herta: mais uma vez na bolha para entrar na F1. A FIA vai aprovar?
Colton Herta: mais uma vez na bolha para entrar na F1. A FIA vai aprovar?
Foto: Andretti Autosport / divulgação

Não é de hoje que se fala que Colton Herta vai entrar na F1. No ano passado, um grande burburinho foi formado em torno disso. Na esteira do acordo Andretti/Sauber, se falou até que faria o Treino Livre do GP da Itália. Porém, nada se confirmou e ficou por isso mesmo. De concreto, o anúncio de que faria parte de um “programa de desenvolvimento” pela McLaren.

O namoro segue e teve mais um capítulo quando Herta testou o McLaren MCL35M em Portimão (Portugal). Não foram divulgados tempos, porém tanto equipe e piloto falaram maravilhas. Um novo teste ficou de ser agendado, mas o importante é que Herta completou tranquilamente a quilometragem necessária (300km) para que se tornasse habilitado para participar de Treinos Livres.

Herta se preparando para andar na McLaren em Portimão (Portugal)
Herta se preparando para andar na McLaren em Portimão (Portugal)
Foto: McLaren / Divulgação

Desde quando a Liberty Media assumiu a F1, um dos objetivos era conquistar o mercado norte-americano. O crescimento é exponencial em diversos campos. Um dos pontos que se coloca como capital para este projeto é o aparecimento de um piloto americano na categoria. Mas não somente para participar, porém para ter uma efetiva possibilidade de vitória e conectar de vez o público.

Colton Herta é um piloto jovem e extremamente agressivo. Capaz de grandes corridas como de consideráveis falhas. Até aí, ok. Embora americano, sua base foi feita parcialmente na Europa. Mas como o lado financeiro pesou, seu pai Bryan Herta decidiu “voltar para casa” e fez a Indy Lights e a Indycar. Seria realmente um ótimo nome para ser trabalhado pela F1 nos Estados Unidos.

É tudo lindo e maravilhoso. Porém, temos um grande empecilho para que este casamento aconteça: a Superlicença. Este documento emitido pela FIA é mandatório para que um piloto chegue à F1. Só que Colton Herta está próximo de conseguir. Mas não tão simples assim.

Como falamos várias vezes aqui, para que um piloto possa ter acesso à Superlicença, ele tem que ter 40 pontos obtidos em 3 anos (em um total de 4 anos) de acordo com seus resultados. Várias categorias têm uma pontuação estabelecida pela FIA (e está no site da entidade, no famigerado Anexo L) e, uma vez conseguindo esta pontuação, um piloto pode ter o direito de ter. Mas é uma equipe de F1 que tem de solicitar junto à Federação nacional do piloto, desde que reconhecida junto à FIA.

Quadro de pontuação do Anexo L da FIA sobre as licenças. Eis a pontuação da Superlicença da Indy
Quadro de pontuação do Anexo L da FIA sobre as licenças. Eis a pontuação da Superlicença da Indy
Foto: FIA / Anexo L do ISC

Este sistema foi introduzido principalmente após a chegada de Max Verstappen à F1, de modo a colocar um pouco mais de ordem na escala de chegada na categoria. A cada ano, o processo vai sendo aprimorado, embora ainda permita que pilotos ditos “questionáveis” cheguem à F1 e se cometam injustiças (como é o caso da Indycar). Porém, deixou os critérios mais claros e valorizar as categorias de acesso. E aqui começa a questão.

Hoje, Colton Herta tem um total de 32 pontos na sua carteira para Superlicença (quadro abaixo). Esta pontuação juntamente com a quilometragem obtida em Portimão o permite participar de Treinos Livres através de uma Licença especial. No máximo, poderia participar de 2 Treinos Livres e acumular mais 2 pontos.

Quadro de pontuação de Superlicença de Colton Herta.
Quadro de pontuação de Superlicença de Colton Herta.
Foto: Sergio Milani

Esta semana, apareceu a conversa de que Helmut Marko estaria considerando o nome de Herta para a AlphaTauri. Até aí, faz parte do processo. Mas para ser titular, teria que haver uma verdadeira subversão das regras atuais.

O Anexo L, que rege todo o processo de emissão de licenças de competição, prevê que, pilotos que tem pelo menos 30 pontos, poderiam ter a emissão da Superlicença avaliada pela FIA desde que tenham acontecido problemas de força maior ou circunstâncias que fogem ao controle do piloto. Esta situação foi incluída principalmente por conta da COVID.

No caso de Herta, enquadrar nesta situação seria um processo muito mais político do que técnico. Atualmente, Herta está em 10º lugar no campeonato da Indy e pode chegar no máximo em 8º. Isto daria 3 pontos para a carteira de Superlicença. Mas pegando o período 2019-2022, seria a menor pontuação e manteria os 32 pontos.

Não há qualquer circunstância de que problemas tenham surgido que o impedissem de obter melhores resultados. E mesmo a sua 2ª posição na Indy Lights em 2018 não pode ser mais considerado, até porque o campeonato não se enquadrou nas regras estabelecidas para valer na totalidade, principalmente pela quantidade de pilotos participantes por prova. Ao contrário da F3 Regional Europeia, que foi muito prejudicada em 2020 pela COVID, a Indy Lights em 2018 teve em média 9 pilotos por etapa por incompetência da organização.

Herta só teria hoje como ter a pontuação se a FIA considerasse os pontos cheios da Indy Lights em 2018 (a 2ª posição daria 12 pontos). Mas há um precedente de não terem considerado este mesmo campeonato totalmente quando foi avaliado o processo de Pato O’Ward, que foi campeão este ano. Então fica difícil defender.

Em matéria na Motorsport, um membro de uma equipe falou, de forma anônima, que, caso Herta tivesse a Superlicença aprovada, iria enfraquecer muito o processo das categorias de base e prejudicaria o investimento em novos pilotos.

Ninguém questiona a capacidade de Herta e outros pilotos da Indy. O processo atual de Superlicença funciona, tem méritos, porém com várias imperfeições. A pontuação da Indy é uma delas e sabemos que Herta, O'Ward e outros na categoria tem condições de ir para a F1 tranquilamente. Porém, se for concedida a Superlicença a ele, dentro das regras atuais, é melhor a FIA jogar o Anexo L no lixo. Mudar a pontuação da Indy seria o mais justo a se fazer neste caso. Ou ainda criar uma "análise por notório saber". Mas uma interpretação "livre" das regras agora seria prejudicial.

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