Depois de Porsche e Audi, podemos ter mais montadoras na F1?
Com o novo regulamento de motores a partir de 2026 e a iminente entrada de Porsche e Audi, mais montadoras podem aparecer na F1.
Não é de hoje que se fala que a F1 voltou a ser um chamariz para público, patrocinadores e...montadoras. Talvez este tenha sido o grande mérito da Liberty Media: saber empacotar a F1 de modo a se tornar grande. Embora os números de audiência de TV tenham recuado, os americanos jogaram pesado nas redes sociais e no streaming. A F1 voltou a atrair a atenção e ser atraente.
O maior termômetro agora seja a volta da fila de locais querendo receber a categoria, pagando valores altíssimos, e a procura de um grande número de diversos ramos econômicos para atrelar suas marcas aos times e categorias. Sem contar a valorização dos times, o que motiva a entrada de investidores...
Para as montadoras, a F1 vinha se tornando algo que não trazia atenção. A mudança para a era hibrida, embora tecnologicamente importante, não trouxe os ganhos esperados, embora tenha ajudado a transformar a F1 em um exemplo de rendimento energético para motores a combustão. Mas a percepção foi pouca, a aplicação prática quase nula e os gastos enormes.
Parece longe o tempo em que a F1 tinha simplesmente 9 fornecedores de motor, entre montadoras e produtores independentes. Uma ginástica teve que ser feita para que a Honda não fosse embora em 2018 e ainda muito convencimento para manter a Renault. Mercedes também foi uma que falou bastante em reavaliar seu papel...
A pandemia da COVID ajudou a redimensionar o tamanho da F1. Restrições técnicas e de gastos vieram e ajudaram a criar este atual cenário. Ainda se gasta muito dinheiro (o teto orçamentário estipulado daria para bancar boa parte de grids como o da NASCAR e da Fórmula Indy em alto nível, por exemplo), mas comparado a outros tempos, é bem menor. Por exemplo, não é segredo que se fala que a Honda gastou cerca de US$ 1 bilhão em 2008 em sua operação da F1.
A Liberty Media foi por uma linha que soou como música para as montadoras de automóveis: restrição de custos. Faltava a relevância tecnológica. Afinal, a indústria hoje se vê no meio de uma gigantesca mudança de filosofia. Neste sentido, a Fórmula E, criada para ser um laboratório, se tornava muito mais atrativa, já que o futuro apontava para a mobilidade elétrica, ainda mais nos grandes centros urbanos.
Deste jeito, um desenho foi feito para trazer de volta. Então foi desenhada uma simplificação dos motores atuais, além de uma escolha pelo uso de combustíveis sustentáveis. Este é um caminho que ajuda a viabilizar a continuidade do uso dos motores a combustão, diante das complicações para geração de energia limpa e seus custos.
Para as novas regras que virão em 2026, já são dadas como certas as entradas de Porsche e Audi, sendo questão de tempo o anúncio oficial. Entretanto, abre-se a porta para que novos entrantes possam se chegar...
O primeiro nome que aparece é o da Honda. Embora não admitam claramente, os japoneses se arrependeram da saída formal (ainda seguem bem envolvidos com a divisão de motores da Red Bull, que cuida das unidades da Red Bull e AlphaTauri). Mesmo fora, participaram das discussões das novas regras e se fala que estariam considerando a aquisição de um time. A Red Bull teria sido consultada e teria oferecido a AlphaTauri. Não se nega, porém não se confirma. O fato é que, até 2025, os japoneses seguirão de alguma forma na categoria.
Outra que olha comprido para a F1 é a Stellantis, o conglomerado que se formou com a fusão entre a FCA (Fiat, Jeep, Chrysler, entre outras) e PSA (Peugeot, Citroen). Hoje, a empresa bate ponto na categoria com a Alfa Romeo. Mas o acordo com a Sauber só envolve patrocínio. Há uma colaboração no desenvolvimento de produtos, mas bem restrita. Hoje, a marca italiana é voltada para o mercado premium (Audi, Mercedes) e suas vendas são bem baixas. Oficialmente, a Alfa diz que está satisfeita com o retorno dado pelo investimento e deve ficar no time até 2025.
Hoje, além disso, a Stellantis tem atuação em automobilismo com a DS na Fórmula E e a Peugeot retomando no WEC. A partir de 2023, a Maserati assumirá as atividades da Venturi na Fórmula E a DS se juntará à Dragon. Há planos de volta da Lancia no WRC. Mas a F1 ficaria descoberta. Com o interesse dos EUA na F1, seria interessante colocar marca como a Dodge e a Chrysler? Ou porque não seguir o exemplo da sua concorrente Renault e estender a atividade da Peugeot na F1? O atual CEO, o português Carlos Tavares, é um doido por velocidade, mas tem uma visão muito pragmática sobre o papel do automobilismo na indústria.
Uma marca que corre por fora e que vem aos poucos mostrando um envolvimento em competições é a Hyundai. A coreana quer ganhar escala mundial e atualmente está investindo firme no WRC (duas vezes campeã de construtores). Hoje, a F1 seria uma bela vitrine para mostrar que a Hyundai tem condições de se posicionar de uma forma mais firme no cenário do mercado automotivo. O que se fala é que Eric Boullier, ex-chefe de equipe da Renault e da McLaren e atual CEO do GP da França, seria o mais novo comandante do time de Rally e ajudaria na estruturação do projeto.
Muita gente pergunta das americanas Ford e General Motors. A primeira tem um envolvimento histórico com a F1, mas após a ressaca do projeto da Jaguar, não houve mais clima. Nas discussões de novo regulamento, nem se considerou, hoje a marca está somente na NASCAR e no WRC. Já a GM tem se envolvido um pouco mais com a Cadillac e a Corvette, além da NASCAR e Indy. Mas não dá mostras de que daria um passo neste sentido, embora tenha lidado com os híbridos atrás do projeto IMSA/WEC por conta da Cadillac e da própria Indy.
Antes de marcas, o importante é que a F1 voltou a atrair as montadoras. Embora não se possa ficar mais reféns delas como em anos anteriores, são parte importante do processo que podem fazer a máquina crescer um pouco mais. E neste momento em que a indústria automotiva se reinventa, a F1 pode ser uma ótima forma.