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Dinheiro: o motivo para as equipes não quererem a Andretti na F1

Em entrevista, Michael Andretti chamou as atuais equipes da F1 de "gananciosas". Ele não está errado, mas os times querem calçar seus bolsos

12 jan 2023 - 11h36
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Projeção da Andretti/Cadillac: não é só esportivo, mas é financeiro o problema
Projeção da Andretti/Cadillac: não é só esportivo, mas é financeiro o problema
Foto: Sean Bull Design / Twitter

As notícias sobre a resistência das equipes em que novatos venham para a categoria chama a atenção. Principalmente após o anúncio de que a Andretti viria junto com a Cadillac no possível processo de consulta da FIA.

Em entrevista à Forbes, Michael Andretti disse que as equipes são gananciosas, que estão pensando somente em seus interesses e não no esporte. E que está cumprindo todos os requisitos para que sua candidatura seja aprovada pela FIA.

Quem acompanha a F1 sabe da busca de aprovação de Andretti para entrar na categoria. Não fez segredo em Miami ao ir em cada equipe pedir uma espécie de apoio e só foi bem recebido por McLaren e Alpine, que são favoráveis ao acesso.

Os discursos da Liberty e da demais equipes é de indiferença. Stefano Domenicali já falou que prefere “qualidade à quantidade”. Toto Wolff (Mercedes) já falou que, quem entrar, tem que agregar valor. Gunther Steiner (Haas) foi mais sincero e resumiu a questão: é sobre dinheiro.

O fato é: com o novo Acordo Comercial firmado para o período 2021/2025, a F1 assumiu o mesmo formato de esportes americanos, como o Basquete e o Hóquei. Ou seja, as equipes se tornavam franquias.

Desta forma, as equipes fecham um grupo, um “número mágico”. Os manuais econômicos definem como um cartel. Não que novos sejam malvistos. Só que é um estilo: quer entrar? Compre alguém que já está dentro.

Para evitar problemas governamentais, parte esportiva e comercial foram separadas e a Liberty e a F1 deixaram uma porta aberta para que novas equipes entrassem. Além de passar pela aprovação da FIA, foi estabelecida uma taxa de US$ 200 milhões para novos entrantes para que se compensem as perdas de receita das outras equipes.

Esta taxa subiu tanto (era US$ 48 milhões), pois a os times que entrassem já teriam direito a receber dinheiro de premiação. Até o acordo anterior, os novatos pagavam a inscrição e só iriam receber premiação ao fim do segundo ano, além de receber de volta o valor pago em 24 meses.

Dentro das normas atuais, se um novo time entrasse, as equipes receberiam US$ 20 milhões cada para compensar esta perda. No primeiro ano, isso resolveria. Mas e depois?

Aqui reside a preocupação dos times. Atualmente, as equipes recebem cerca de metade das receitas obtidas pela Liberty com a F1. Se os americanos conseguem expandir as receitas, todos ganham. Mas em um cenário em que a velocidade do crescimento de ganhos vai caindo...ter mais um para dividir o bolo torna-se um problema.

Para aumentar receitas, a Liberty teria que partir a seguinte estratégia: busca novos patrocinadores e cobra mais dos atuais, o mesmo acontecendo com os organizadores de provas (o que força a busca por um calendário cada vez mais estufado e por locais que querem pagar cada vez mais) e veículos de transmissão.

Neste ponto, valia a pena ter considerado a proposta feito antes das equipes se tornarem sócias da F1. Atualmente, a participação delas estaria simplesmente valendo o dobro da época da venda (a Liberty desembolsou US$ 4 bi e assumiu outros 4 bi de dívida. Atualmente, a F1 vale cerca de US$ 15bi).

O fato é que, a avaliação feita pelos times é que os US$ 200 milhões não cobrem mais as necessidades de compensação. E dados alguns valores observados nos ultimos tempos na entrada de novos times nas franquias americanas, seria realmente muito abaixo do que realmente cada equipe da F1 (ou franquia) valeria.

Temos que lembrar que a Williams foi vendida por cerca de US$ 180 milhões e a venda de 26% da McLaren ficou em £185 milhões em 2020. Em uma lógica puramente financeira, realmente o valor estabelecido pelo acordo comercial 21/25 estaria defasado.

Como um novo time que entrasse agora na F1 já estaria sob o acordo 26/30, até seria cabível uma revisão. Uma estimativa entre US$ 600/700 milhões foi citada em algumas matérias, o que seria em linha com as citadas inclusões de times observadas nas ligas americanas. E próximo do valor que a Audi está desembolsando pela aquisição da Sauber.

Michael Andretti: um homem em uma missão
Michael Andretti: um homem em uma missão
Foto: Andretti Motorspot / Divulgação

Não é passar pano para as atuais equipes. Longe disso, até porque hoje elas estão gastando menos e tendo suas receitas mais ou menos estáveis em relação a anos anteriores. O objetivo da Liberty é tornar os times lucrativos e que gerem receita para a sua atividade. Exemplos? A Mercedes teve uma queda de 8% na receita e multiplicou seu lucro em 5 vezes em 2021. A Red Bull basicamente fez 2022 com o teto orçamentário coberto com os valores obtidos em patrocínio.

Desta forma, Michael Andretti não está errado quando fala que as equipes estão sendo gananciosas. Talvez os times de F1 hoje nunca estiveram tão lucrativos e com fundamentos financeiros positivos. É válido que defendam seus interesses? Sim. Mas não pode ser de forma a matar o lado esportivo.

Domenicali não está errado ao falar que prefere qualidade a quantidade. Tivemos vários exemplos no passado e hoje estamos em uma situação muito mais folgada. Não é errado querer dificultar a entrada, mas não adianta a postura de alguns terem mais facilidades do que outros. A diferença de tratamento de todos em relação a Audi e Andretti é notória.

Este acaba sendo um bom problema. Porém, muita politicagem vai ser desenvolvida nos próximos tempos. Até porque a Andretti não deverá ser a única solicitante e o regulamento hoje prevê um máximo de 13 equipes...

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