F1 cede à pressão das equipes gigantes e mostra quem manda ao afrouxar teto de gastos
As equipes mais fortes do grid pressionaram e a F1 cedeu: o teto orçamentário foi relaxado já para 2022 e a expectativa é de novas manobras para o futuro. Enquanto isso, Porsche e Audi se preparam para entrar no grid de 2026, em novo regulamento de motores
Um dos temas borbulhantes na F1 atual é o teto orçamentário e o impacto na ordem de forças das equipes. De certa forma, foi o mecanismo que tornou mais difícil, por exemplo, a recuperação da Mercedes após um início muito fraco em ano de mudança radical de regulamento. O time multicampeão reagiu, é fato, mas muito mais porque é extremamente capaz e criativa e bem menos porque gastos mundos e fundos com atualizações.
Acontece que esse tipo de complicação pode estar com os dias contados. É que, na primeira pressão mais firme das equipes de ponta, a F1 já cedeu. E cedeu consideravelmente. Com a justificativa de que a inflação cresceu fortemente no mundo, os times conseguiram que a categoria subisse em 3,1% o teto já em 2022. Isso pode parecer pouco, mas em números absolutos tem um impacto gigantesco.
As equipes vão poder gastar mais que os US$ 140 milhões (R$ 723 mi, na cotação atual) do teto orçamentário até o final da temporada. Em nota, a FIA concordou em liberar um reajuste de 3,1% sobre o teto atual, que deve gerar um acréscimo em torno de US$ 5 milhões (R$ 26 milhões). Na prática, a porcentagem acabou levando a F1 de volta ao teto do ano passado, que era de US$ 145 milhões.
A Mercedes é peça fundamental no xadrez da F1 (Foto: Mercedes AMG-F1/Steve Etherington)
E é aí que está talvez a principal manchete. Se você, leitor, não considera R$ 26 milhões grandes coisas, pense que o teto voltando ao patamar do ano passado acaba logo com uma das premissas originais da medida financeira: a de abaixar progressivamente temporada após temporada. Isso já foi por terra em uma canetada, logo no primeiro ano do regulamento novo.
O ponto é que FIA e F1 cederam às súplicas dos maiores times do grid - e aqui leia-se Ferrari, Mercedes e Red Bull, principalmente - e afrouxou suas medidas. É natural que ambas tenham medo deperder marcas tão importantes e vitoriosas, mas a outra ponta do iceberg não pode ser esquecida. E situações como as da Haas precisam, sim, ser motivo de preocupação grande.
"Se continuarmos com esse teto de gastos e as regras atuais, os times do meio vão ficar mais próximos aos de ponta. Temos de cumprir com o limite orçamentário. Não tenho emprego se disser ao meu chefe que não chegarei ao final da temporada. Esse é o meu trabalho. Precisamos realizá-lo porque se você não terminar a temporada, no ano seguinte você não ganha dinheiro", comentou Günther Steiner, chefe do time americano e que já demonstrou, inúmeras vezes, preocupação com o futuro da Haas sem grandes patrocinadores. Só que o teto já não seguirá igual.
Assim como a Haas, outras equipes como Alfa Romeo, Williams e Alpine já tinham se manifestado algumas vezes em defesa da limitação de orçamento. Fato é que as três gigantes continuam muito na frente das rivais mesmo com o teto. Com ele afrouxado, então, a distância tende a aumentar e, principalmente, quem tá no fim da fila vai passar ainda mais sufoco.
A Haas, de Günther Steiner, é sinônimo de sufoco na F1 (Foto: Eric Calduch/GRANDE PRÊMIO)
Novos motores e marcas em 2026
Outra grande notícia da primeira parte da temporada 2022 da Fórmula 1 foi o tão esperado sinal verde dado pela Volkswagen. Depois de muitos anos de especulação e de uma novela arrastada toda vida, o grupo alemão confirmou que vai entrar no grid em 2026. E mais: com duas de suas marcas, a Audi e a Porsche.
O anúncio foi feito no início de maio por Herbert Diess, diretor-executivo da Volkswagen e já indicava que as duas marcas teriam caminhos diferentes na F1: a Porsche buscaria uma parceria técnica com alguém já bem estabelecido, enquanto que a Audi chegaria para ter uma equipe dela. E é a partir disso que as coisas vão caminhando.
Não demorou muito para que ficasse claro que a Porsche buscaria a Red Bull, em um rumor também que já era bem antigo. Os alemães já têm, inclusive, um acordo por 50% de participação na equipe, assumindo a parte de tecnologia a partir de 2026. Até 2025, portanto, os austríacos seguiriam como estão, inclusive já de vínculo renovado com a Honda nos moldes atuais: motor Red Bull, inteligência japonesa.
Red Bull e Porsche estão juntas para 2026 (Foto: Jeroen Claus/Instagram)
A Audi, enquanto isso, ainda vai tateando o terreno. A primeira possibilidade levantada foi com a McLaren, que de cara fez questão de descartar a venda do time. Ou seja, a equipe de Woking até poderia topar uma parceria, mas isso iria na contramão do que os alemães desejam. Nada feito, pois.
O cenário mais provável de momento é com a Alfa Romeo, que pede que a Audi decida logo os passos a tomar para pensar no que faz da vida. O grande empecilho ali provavelmente passe pela Sauber, que detém direitos na equipe e já emperrou negociações passadas, como a com a Andretti, que até hoje bate na porta da F1.
A luz verde para a entrada de Audi e Porsche já foi dada pela FIA, que confirmou os novos moldes da geração de motores que chega em 2026. Tudo ali parece fazer parte exatamente dos planos que os alemães tinham para entrar na F1: menos custos, mais sustentabilidade e mais equilíbrio de forças, já que se trata de uma especificação bem diferente da atual.
O único ponto que é contraditório na história - e que cruza com a outra grande manchete da temporada até aqui - é a questão do teto orçamentário afrouxado. Afinal de contas, a Volkswagen sempre deixou claro que achava a F1 extremamente cara. E o que os alemães fariam se os valores voltassem a subir nos próximos anos?
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