F1: Como a Jordan levou um patrocinador a mudar suas cores
Ao fechar um acordo de patrocínio, a Jordan conseguiu convencer seu patrocinador a mudar todo seu esquema de cores para aparecer no carro.
Existem várias empresas no mundo que você só precisa de uma cor para reconhecer a marca e uma delas com certeza é o amarelo da DHL. Os logotipos, banners e automóveis podem ser reconhecidos com quilômetros de distância.
No entanto, embora a cor amarela e vermelha tenham se tornado incrivelmente populares, muitas pessoas não fazem ideia que nem sempre foram as cores da DHL e o mais curioso de tudo: isso é culpa de uma equipe de F1!
Tudo mudou em 2002, quando a DHL decidiu patrocinar a simpática Jordan Grand Prix, que apesar de não ser a equipe mais competitiva, era com certeza uma das mais carismáticas de todo o grid, graças ao ainda mais carismático Eddie Jordan.
Jordan, ex-piloto fracassado e empresário irlandês, fundou a própria equipe de F1 em 1991. Nas próprias palavras “Eu só comecei uma equipe na F1 porque eu estava desempregado”. Então tá, né?
Diferente da DHL, a equipe nunca conseguiu alcançar tanto sucesso. Suas maiores conquistas foram a revelação do Schumacher em 1991 com a icônica pintura da 7up e a impressionante temporada de 1999, onde Heinz Harald Frentzen conquistou um inesperado 3º lugar no mundial de pilotos vencendo duas corridas com a equipe irlandesa.
Ainda sim, se tinha uma coisa que o Eddie Jordan sabia fazer, diferente de construir uma equipe de sucesso, era mexer na parte empresarial da coisa, ele tinha talento para atrair patrocinadores.
Em 1996, Jordan garantiu um grande apoio da empresa de tabaco Benson & Hedges que continuaria ao lado da equipe na F1 até seu fim em 2005. No entanto, como muito bem sabemos, a FIA acabou endurecendo muito as regras sobre a divulgação de marcas de cigarros nos carros. Isso obrigou a B&H e a Jordan a encontrarem “saídas” em relação à publicidade. Criando nomes como Bitten Hisses, Bitten Heroes e o meu favorito de todos: Buzzing Hornets. Mesmo com as dificuldades, a B&H nunca abandonou a Jordan.
Tendo esse contexto, nós chegamos no ano de 2000, quando a empresa de logística alemã Deutsche Post se juntou à Jordan como patrocinadora, auxiliando a equipe por duas temporadas inteiras. Até que em 2002, buscando expandir seus negócios, comprou sua concorrente americana, a DHL.
E já que o objetivo era aumentar o reconhecimento internacional da marca, pensaram, “Por que não colocamos ela como a principal patrocinadora da Jordan?”. Levaram então essa proposta para Eddie, também ressaltando que para essa parceria ocorrer, teria que mudar a cor dos carros para o branco e vermelho, as principais cores da empresa. Ele concordou.
Mas havia um pequeno problema nessa parceria: a B&H ainda era uma das principais patrocinadoras da equipe na época e enviou uma carta destacando a obrigação contratual de que os carros da Jordan deveriam ser amarelos, as cores principais da empresa. Isso deixou Jordan em apuros. Se não mudasse a cor para branco, perderia o forte apoio financeiro da DHL, agora, caso mudasse para o branco, perderia o apoio histórico da B&H. Participando de um podcast com o ex-piloto de F1 David Coulthard, Jordan relembrou o que fez para escapar dessa situação.
Ao invés de sucumbir à pressão, teve uma ideia genial. Marcou uma reunião com a Deutsche Post e a DHL para explicar a situação. Nela, montou uma apresentação de slides, no primeiro haviam 7 vans brancas, no segundo, 3 aviões brancos, no terceiro, 5 vans brancas e 2 amarelas, por fim, no quarto slide, 2 aviões brancos e 1 amarelo.
“Vocês me pediram para tentar fazer da DHL a maior marca de logística do mundo e, na situação atual, não posso fazer isso”, disse ele aos diretores presentes. "Todo especialista de marketing dirá que você nunca deve mudar as cores de sua marca, mas aqui você precisa arriscar para ter ganhos a longo prazo."
Esse é um princípio básico do marketing, as pessoas vão olhar primeiro para as cores que se destacam do resto. A DHL se impressionou com a visão de Jordan e realmente decidiram mudar suas cores para amarelo e vermelho. E cerca de 21 anos depois, ainda está operando sob o agora famoso esquema de cores, com Eddie recebendo royalties pela ideia até os dias de hoje.
Já a Jordan F1, por outro lado, não viveu para ver esse sucesso, fechando as portas em 2005. Onde um ano antes, em 2004, a DHL tornou-se o parceiro logístico global oficial da F1.
Quanto aos sucessores da Jordan F1, a equipe se tornou a Midland Racing em 2006, depois a Spyker (2007), a Force India (2008), a Racing Point (2018) e, em 2021, a Aston Martin.
Toda esta história foi contada aqui neste vídeo do Clube da F1