F1: Como Verstappen fez funcionar a estratégia em Miami
Não basta ter um bom carro e uma boa equipe. Mesmo com toda a tecnologia, o piloto ainda faz diferença. E Verstappen mostrou em Miami.
Miami pode não ter sido um primor de corrida. Foi mais animada do que a do ano passado, até mesmo pelo grid bagunçado. Porém nos mostra situações bem interessantes e são exemplos do que os pilotos fazem atualmente e não se dá tanta importância.
Embora os carros mudem, a tecnologia se faça cada vez mais presente e se considere “fácil” conduzir um F1 atualmente, o piloto faz diferença. Não podemos esquecer que a F1 é um campeonato de equipes para ver quem faz o melhor carro dentro de determinadas regras. Mas o fator humano pesa. E pudemos ver isso neste domingo em Miami.
Tantas outras vezes aqui no Parabólica e em outros espaços, já escrevi que, não basta ter um bom carro, uma ótima equipe e uma estratégia acertada. Tem que fazer isso tudo funcionar. Antes, Hamilton e a Mercedes fizeram isso por várias vezes. Atualmente, vemos Verstappen e a Red Bull.
Um dos pontos em que Verstappen melhorou bastante ao longo dos últimos tempos foi a gestão de pneus. Ok, o carro ajuda e muito. Porém, se um piloto fizer uma tocada temerária, acaba por prejudicar totalmente a situação.
Para Miami, as equipes ficaram atentas, pois o novo asfalto tornou a situação mais complexa. A pista ficou mais veloz, mas a chuva no domingo à tarde aumentou os temores de um piso que gastasse mais pneu. Mesmo assim, foi mantido o plano inicial de uma parada somente.
Para quem estava na frente, a estratégia obvia parecia ser a mesma do ano passado: largar com os médios e depois trocar para os duros. Mal ou bem, estava se usando o mesmo tipo de composto do ano passado e até mantida a pressão dos pneus.
Para quem estava largando na frente como era o caso de Sergio Perez, seria algo tranquilo. Conseguindo largar na frente, o mexicano poderia aproveitar que estava “de cara para o vento” e manter o composto médio em boas condições. Naquela superfície que havia sido “lavada”, a escolha pelo médio era mais acertada.
Largar com os compostos duros seria uma jogada mais ousada. Mesmo não sendo o mais duro da gama (C2), o pneu demoraria um pouco para entrar na janela ótima de funcionamento, o que poderia levar a um desgaste prematuro. Porém, quem estava mais para trás poderia tentar fazer diferente, pois, se tudo desse certo, usaria os médios com uma pista mais fria e emborrachada com um carro mais leve.
Segundo Christian Horner, chefe da Red Bull, as opções foram colocadas aos pilotos e Verstappen optou por largar com pneus duros. Ele sairia da 9ª colocação e uma escalada teria que ser feita. A equipe ponderou as dificuldades, mas o bicampeão as bancou. E fez a estratégia funcionar.
Largando em 9º, Verstappen foi fazendo uma subida estratégica, aproveitando da ótima forma do RB19. Em 9 voltas, conseguiu chegar à 4ª posição. À sua frente, estavam Sainz, Alonso e Perez. E a diferença para o líder estava em 4,6 segundos. Aqui foi o momento que Verstappen começou a vencer a prova.
Se notar a evolução do tempo de Perez e Verstappen, viu que Perez não conseguiu andar mais rápido do que seu companheiro mesmo com composto mais macio. A estratégia era indicada, mas precisava ter uma diferença maior, diante de um Verstappen que estava com o jogo mais duro começando a funcionar e um médio que chegava ao final da sua vida média
A partir daí, Verstappen fez a diferença: mesmo com um pneu com 20 voltas a mais, conseguiu ser mais rápido do que Perez mais vezes entre as voltas 21 e 44. Isso deu uma diferença de 18,5 segundos. E o quadro aqui abaixo mostra.
A diferença não permitiria ainda que Verstappen voltasse na frente. Porém, voltou muito próximo. Aí cobrou a conta à Perez um pneu de 25 voltas de uso. O bicampeão tinha um jogo de pneus novos e um carro mais leve...foi uma questão de tempo.
Houve a possibilidade levantada pela Sky Sports de que a Red Bull não estaria dando à Perez a real situação do ritmo de Verstappen para não dar a possibilidade de que o mexicano não pudesse se defender. Sendo isso verdade, acaba sendo algo que impactaria no resultado. Mas vendo os rádios com calma, esta possibilidade se perde.
Mas Verstappen se impôs e se recolocou como dominante após um GP do Azerbaijão onde as coisas não andaram a contento. Max conseguiu faz a estratégia funcionar e ganhar mais uma, se igualando a Sebastian Vettel como maior vencedor da história da Red Bull, com 37 vitórias.
O RB19 é uma tremenda máquina? Sim. Tanto que leva Russell a repetir que não estão mostrando todo o seu potencial. Mas é preciso uma equipe azeitada e pilotos que saibam conduzir.