F1: Ford repete a receita do passado para ganhar no futuro
Ford só entra em 2026 na F1, mas a receita de atuação é baseada na que deu certo 60 anos atrás. Vai funcionar novamente?
Um dos segredos mais mal guardados destes últimos tempos veio à mostra nesta última sexta (03): A Ford anunciou sua volta oficial à F1 depois de 22 anos. No evento de lançamento da Red Bull realizado em Nova Iorque, houve a confirmação do acordo com a divisão de motores dos taurinos a partir de 2026.
Este assunto já havia sido tratado aqui algumas vezes. Os americanos optaram por voltar à uma categoria onde marcaram seu nome de forme forte e a transformaram de uma forma importante. Não podemos ignorar que, em meados da década de 70, mais de 80% do grid usava motores Ford...
Entretanto, a pergunta que muita gente pergunta é: como a Ford vai entrar nesta brincadeira, já que a Red Bull Power Trains tem hoje a estrutura completa para desenvolver um novo motor, contando com mão de obra especializada vinda de Mercedes e Honda?
A resposta é bem simples: buscar repetir a receita de 60 anos atrás.
Você vai se perguntar: mas como assim?
Justamente, a grande glória da Ford na F1 veio desta forma: sem envolvimento técnico direto, porém bancando um projeto altamente promissor, com gente que entendia do riscado.
A Cosworth foi fundada em 1958 por dois ex-funcionários da Lotus, Frank Costin e Keith Duckworth. Inicialmente, eles modificavam motores “normais” Ford para uso em fórmulas menores e nos carros de rua da Lotus.
Com o sucesso obtido, Colin Chapman trabalhou para que a Ford bancasse o projeto de um motor para a F1, já que o regulamento mudaria para 1966 com a introdução dos motores de 3 litros. Um investimento de 100 mil libras foi feito (em valores atualizados. ficaria em menos de 2,5 milhões), o que equivalia ao orçamento de uma equipe de F1 para uma temporada.
Toda esta história foi contada tempos atrás neste espaço nesta coluna. E uma era determinante para a F1 foi escrita.
Se analisarmos, veremos que existem muitas semelhanças na abordagem. Só que, ao invés de somente 100 mil libras, estamos falando de um orçamento de, pelo menos, US$ 95 milhões nos próximos 2 anos no desenvolvimento da nova unidade de potência. Aliás, por ser considerada uma nova fornecedora, os taurinos teriam cerca de US$ 300 milhões até 2025...
Porém, neste caso, a Ford tende a ser mais participativa neste processo. A Red Bull tem a experiência na parte do motor a combustão, por conta das contratações vindas. Porém, nesta nova formatação, a parte elétrica ganha uma maior importância: a potência gerada triplica e a capacidade de eletricidade é 4 vezes maior.
Até agora algumas questões estão na mesa para resolver, mas a tecnologia está em uso. E as montadoras querem desenvolver esta parte para uso na pista (a F-E bateu em alguns pontos especialmente para conter custos e afastou alguns fabricantes). E aqui pode ser a grande contribuição da Ford nesta equação.
Até agora, a ligação é de lucro para ambos: a Red Bull consegue um parceiro com ganas de vencer e banca parte da operação, respeitando a sua independência; A Ford retorna à categoria que ajudou a divulgar seu nome em alto nível e se junta a uma marca extremamente vencedora.
Os desafios são grandes e agora a ver o que cada um vai fazer para que isso dê certo. A Red Bull quer se manter vencedora e a Ford quer voltar aos dias de glória.