F1: Por poder, a Red Bull briga e sangra diante de todos
A briga interna pelo poder dentro da Red Bull cresce de nível e pode chegar a danos irreparáveis para a sua continuidade
Se os fãs de novelas e series andam entediados com falta de tramas rocambolescas, sugiro acompanhar com atenção a guerra interna da Red Bull. São tantas idas e vindas que deixam os melhores roteiristas no chinelo e detalhe: sem ter vilões ou mocinhos bem definidos...
O que chamou mais a atenção nos últimos tempos foi a questão da acusação de assédio sobre Christian Horner, da qual uma investigação independente conduzida pela Matriz da Red Bull julgou as acusações inconclusivas e absolveu o chefe de equipe.
Embora tenha sido livrado internamente, uma série de dúvidas abateram a equipe por todos os lados. Parceiros como a Honda e a Ford cobraram uma posição clara sobre tudo, a FIA também levantou a situação e uma parte considerável do público também se juntou aos que querem saber o que realmente aconteceu.
A situação teve um ponto final. Mas não significa o fim.
O fato é que foi mais um capítulo de uma guerra por poder dentro da Red Bull. Se lembrarmos bem, ano passado não foram poucas as notícias de que Christian Horner estava querendo isolar e até mesmo afastar Helmut Marko, o todo poderoso Consultor do time.
Marko foi um dos alicerces do crescimento da Red Bull, sendo responsável direto pelo impiedoso e funcional programa de pilotos dos taurinos. Mas com a morte de Dietrich Mateschitz, perdeu um pouco de seu poder na estrutura interna. Aqui entra a ação de Horner.
Não podemos ignorar o seu papel aqui. Ele era um jovem dono de equipe de F3000 quando lhe foi dada a tarefa de tocar a equipe, após um período altamente traumático da Jaguar; pode-se questionar maneiras, mas não a competência. E justamente neste momento em que o time resplandece, viu a oportunidade de consolidar seu poder no mundo Red Bull.
Horner conseguiu o apoio dos tailandeses, que tem 51% das ações da empresa de energéticos. Marko conta com o apoio austríaco e com uma carta na manga: a lealdade de Max Verstappen. Afinal de contas, foi por conta de Helmut Marko que ele se bandeou para o lado taurino e teve a promessa de ser titular, coisa que Toto Wolff na época não quis fazer.
Mas não se pode deixar se fazer uma pergunta: se estivesse tudo acertado internamente, este pretenso caso de assédio de Horner viria à tona? Afinal de contas, para que isso viesse à público, houve um vazamento de informações extremamente cirúrgico. E esta hoje é a dúvida que está sob a cabeça de Marko, se não seria ele o responsável por isso tudo ter vindo à público. Inclusive estaria sendo investigado por isso da mesma forma de Horner foi.
A equipe agora tenta seguir sem se abalar com estes movimentos fora da pista. O RB20 se mostra extremamente bem-nascido e nas mãos de Max Verstappen, é uma arma letal. Mas conseguirá o time sobreviver a este tsunami interno? A história mostra que foram pouquíssimos os casos em que times na F1 sobreviveram a tamanhas tempestades internas sem que houvesse problemas.
Enquanto isso, muita coisa vai ficando para trás. Uma mulher que se sentiu acuada, teve sua acusação descartada, foi suspensa e que agora deve ir para as vias judiciais, aumentando mais ainda a exposição; Um piloto que tem sido o esteio do sucesso do time e que marca posição clara em torno de um dos lados, além de não fazer segredo de que conversa com outros (Toto Wolff está sabendo ler o quadro e faz seu jogo tanto para a galera quanto internamente); Um chefe de equipe que, aparentemente, tem feito tudo para manter o seu poder, mas à custa de muito sangue. E ainda um homem que sabe seu poder e não quer se descartado de qualquer forma.
Ainda não podemos descartar que, com esta confusão, os responsáveis pela parte técnica possam ir embora para outros lugares. Adrian Newey e Pierra Waché não fazem tudo sozinhos, mas são parte importante deste sucesso e não são poucas as notícias de que poderiam sair da Red Bull diante do quadro presente.
São muitas incognitas para uma mesma equação...
As cabeças pensantes da Red Bull têm que pensar bem seus movimentos. Hoje, as atividades de corrida envolvem 1600 pessoas, parcerias com grandes corporações e um faturamento que beira os 500 milhões de dólares, sem contar o valor gerado pela exposição da marca na mídia. Decisões erradas podem fazer este belo castelo de cartas desmoronar.
Podereremos ter vencedores? Sim, mas a que custo?
Como dizem um velho ditado, não é bom ficar perto de um monolito se desfazendo...