F1: Porque os pneus apresentaram problemas no GP do Catar
Os problemas apresentados nos pneus no GP do Catar chamaram a atenção do público da F1 e as ações. Aqui, tentamos explicar
Um terremoto passou pelo Catar neste sábado quando a FIA soltou um comunicado em conjunto com a Pirelli anunciando uma série de restrições ao uso de pneus e a alteração de limites de pista nas curvas 12 e 13 (mudaram em 80 cm mais para dentro da pista, diminuindo a área de uso).
O que chamou a atenção foi a fala da Pirelli que disse “que localizou falhas na junção entre a banda de rodagem e a lateral do pneu”, o que pode ocasionar a delaminação dos pneus e a possibilidade de acidentes. Mario Isola, responsável da Pirelli, até declarou que as ações são preventivas, especialmente a redução da duração da Sprint Race e o estabelecimento de paradas obrigatórias.
De certa forma, é o mesmo problema que a Michelin foi acometida em Indianápolis 2005. Por mais que sejam feitos testes, nem tudo pode ser previsto. Lá atrás, o resultado foi a saída dos franceses e o fato da marca não querer ver a F1 por um bom tempo. Hoje, a Pirelli está em processo para a renovação de contrato com a categoria e este ponto não vem em boa hora.
Mas como um problema desse pode acontecer? Como o próprio Isola falou, o problema não é de construção ou de composto, mas sim de abordagem pelos pilotos e pelo tempo de que os pneus passam pela zebra. E deixou claro que a Pirelli não é consultada nestes casos.
Muita gente questionou a construção das zebras. Temos que lembrar que, para homologação do circuito, uma extensa documentação é passada à FIA e esta faz uma série de verificações e recomendações. E ainda há uma vistoria antes da prova para que esteja tudo liberado para que a corrida seja realizada. Esta parte é disponível no site da FIA (Anexo O do Código Desportivo Internacional, que pode ser acessado aqui).
O tipo de zebra que está no Catar não é algo que a F1 não tenha visto anteriormente. Só que os carros atuais têm uma série de situações que colocam os pneus sob um stress muito grande: as suspensões têm um curso limitado e um acerto que faz com que elas trabalhem em uma faixa mais estreita para que o efeito aerodinâmico gerado embaixo do carro possa ser maximizado. Bem contar as forças que atuam sobre o pneu principalmente nas curvas.
Sobre este último ponto, a Pirelli já tomou ações neste campo para evitar problemas com os reforços introduzidos em Silverstone. Como escrito aqui anteriormente, o pneu não é só composto de borracha. Ele tem cordões de ferro e camadas de kevlar justamente poder sustentar todos os esforços que os pneus são submetidos, tanto pelas mudanças de direção e de aerodinâmica.
Isola falou que foram observado o deslocamento microscópico da lateral com a banda de rodagem. A combinação desse deslocamento com um asfalto muito duro e muita areia na superfície faz com que haja um esforço muito grande e este tipo de situação aconteça.
Certamente a Pirelli deve rever mais uma vez seus pneus para evitar este problema. E aqui passa também a questão de ter poucos testes de pista com este carro. A Pirelli tinha dados de 2021 e se baseou em mais observações para decidir como agir. Não à toa que foi escolhida a 2ª gama mais dura para esta prova. Porém, isso não foi necessário para evitar esta situação.
Cabe agora à FIA estudar mais ainda a questão dos circuitos, bem como a Pirelli trabalhar mais em seus produtos. É mais uma situação que acaba por colocar a F1 em xeque em relação à sua imagem. Não basta somente ver a situação dos limites de pista, mas tratar de forma mais ampla a questão.