FIA, F1 e novos times: Sulayem ataca e joga para a galera
Em declarações durante o GP do Catar, o Presidente da FIA fala tudo que o público quer ouvir e deixa a Liberty Media e os times em xeque
Tudo na vida é uma questão de narrativas. Na F1, não é diferente. Ao longo dos últimos meses, a novela “A entrada de novas equipes na F1” vem tendo tudo que um bom melodrama pede: embates, risadas, mudanças de rumo e até mesmo os personagens avulsos.
O último grande capítulo foi o anúncio da aprovação da Andretti pela FIA para continuar o processo de entrada na F1, porém com o expresso indicativo de que agora a bola estaria com a Liberty Media, dona da categoria.
Ato contínuo, embora saudada com alegria pelo público, a notícia foi recebida com a animação de um velório entre as equipes. O ponto mais alto da indiferença talvez tenha sido a declaração de Lawrence Stroll à Sky Sports britânica, dizendo que a F1 está muito bem com 10 equipes e que não via a necessidade de mais um time. “Se não está quebrado, não mexa”, essa foi a frase que definiu seu discurso.
Na tentativa de botar mais ainda o bode no meio da sala, Mohammed Ben Sulayem, Presidente da FIA, deu uma entrevista à Reuters neste fim de semana (o link está aqui) e simplesmente abriu o verbo: que não via problemas em mais equipes na categoria, que não era um problema de estrutura (“os circuitos têm espaço para 12 times e estamos tendo uma equipe de Hollywood este ano”) e que a categoria tem provas demais.
Basicamente, o Presidente da FIA jogou para a galera e falou tudo o que o grande público quer ouvir e parte da imprensa defente. E deixa a Liberty Media e as equipes com a difícil tarefa de explicar o porquê de terem tanto receio que novos entrantes venham para a F1 (falei da visão dos times aqui).
Sulayem não é um cara que chegou de paraquedas neste meio. Falamos disso no ano passado, quando começou a confrontar os americanos. Candidamente, Sulayem diz que não há uma briga de poder, que ”não quer encurralar ninguém em um canto”, mas que “está ali para manter o espírito do esporte”.
De certa forma, seu questionamento não está errado, que já que a FIA é a dona e cedeu os direitos comerciais para a FOM. No fim, o que ele quer é que a entidade tenha mais peso nas decisões e, principalmente, participe mais nas receitas da F1, reforçando os combalidos cofres da entidade.
A Liberty tem suas diferenças com a FIA, mas não quer ter o ônus do rompimento (alguém lembra da cisão CART x IRL aí?) e assumir toda a responsabilidade pela parte “chata” da brincadeira, que é tratar da parte técnica e desportiva. Além dos mais, várias montadoras têm sua ligação com a entidade e em outros campos e não quer bater de frente.
Mais uma vez, o impasse. Ambos os lados têm suas razões e a Andretti fica no meio, bem como o distinto público, analisando toda esta movimentação. Pelo menos agora, Sulayem, mesmo com a sua gestão um tanto quanto instável para a F1, fez um belíssimo movimento para conquistar corações e mentes do distinto público.