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Fora de filme, Emerson foi chamado para vaga de Lauda na Ferrari; relembre

Brasileiro foi chamado por Enzo Ferrari para ocupar vaga de Niki Lauda após acidente em GP da Alemanha de 1976, mas recusou; austríaco voltou antes do previsto

13 set 2013 - 12h01
(atualizado às 13h09)
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<p>Emerson Fittipaldi foi convidado por Enzo Ferrari para assumir vaga, mas Niki Lauda se recuperou a tempo</p>
Emerson Fittipaldi foi convidado por Enzo Ferrari para assumir vaga, mas Niki Lauda se recuperou a tempo
Foto: Getty Images

Quem seria o ator ideal para interpretar Emerson Fittipaldi no filme Rush – No Limite da Emoção, que entra em cartaz nesta sexta-feira (13)? Pense na pergunta até o fim deste texto (que é longo), porque ela será importante adiante. Embora bastante aguardada pelos fãs do automobilismo, a obra da dirigida por Ron Howard (um fã de Fórmula 1) peca por não abordar uma página pouco conhecida da temporada de 1976 da F1, e fundamental para contar o dramático acidente de Niki Lauda no Grande Prêmio da Alemanha Ocidental daquela temporada: o convite para Emerson Fittipaldi substituí-lo na Ferrari.

F1 Onboard:  'Rush' é espetacular, encanta fãs de F1 e quem não conhece Lauda

Emerson poderia ter sido o primeiro brasileiro a pilotar pela equipe italiana, embora não tenha sido o primeiro brasileiro convidado – Chico Landi seria piloto oficial da equipe em 1951, mas dizem que não houve acordo com o Comendador Enzo Ferrari porque o paulista queria pintar seu carro de verde e amarelo. A nova chance veio apenas em 1976, com Emerson, e mais uma vez não se concretizou. O Brasil só conseguiu correr na escuderia de Maranello em 2000, quando Rubens Barrichello aceitou deixar a Stewart para competir ao lado do então bicampeão Michael Schumacher.

Veja trailer do filme 'Rush', que mostra rivalidade entre Lauda e Hunt:

Voltemos a 1976, ano da disputa entre o inglês James Hunt (McLaren) e o austríaco Niki Lauda (Ferrari) na qual Rush – No Limite da Emoção se concentra. Antes do acidente em Nurburgring, décima etapa do ano, os dois pilotos já haviam sido pivôs de polêmica na corrida anterior, em Brands Hatch (Inglaterra). Naquela prova, a Ferrari dominou a primeira fila do grid de largada: Lauda em primeiro e o companheiro Clay Regazzoni em segundo. Porém, já na primeira volta, os dois se espremeram e o suíço rodou em uma curva, causando um grande acidente. Os organizadores então deram bandeira vermelha.

James Hunt foi um dos prejudicados na batida. Para se recuperar para a relargada, o britânico da McLaren pegou um atalho e foi para os boxes. Com o carro original consertado (exigência feita pela organização para que os pilotos relargassem), o piloto da casa partiu, para delírio do público que lotava as arquibancadas para gritar “we want Hunt” (nós queremos Hunt). Não só isso: na 45ª volta da corrida (que teve 76), o ousado competidor da McLaren partiu para cima do líder Lauda e conquistou a primeira posição, que manteve até o fim da corrida.

<p>Acidente no GP da Inglaterra de 1976 acirrou os ânimos na Fórmula 1: James Hunt (carro 11, à direita) escapou, relargou e venceu, mas perdeu o primeiro lugar após protesto formal da Ferrari</p>
Acidente no GP da Inglaterra de 1976 acirrou os ânimos na Fórmula 1: James Hunt (carro 11, à direita) escapou, relargou e venceu, mas perdeu o primeiro lugar após protesto formal da Ferrari
Foto: Getty Images

A festa dos mais de 70 mil torcedores e da McLaren, no entanto, durou pouco. Após a corrida, a Ferrari entrou com um protesto para denunciar o atalho que Hunt tomou após a batida da primeira largada e pediu sua exclusão da prova. “As regras permitiam que eu fizesse isso. Era meu trabalho protestar, porque James pegou o atalho”, justificou Daniele Audetto, gerente de competições da Ferrari na época, em entrevista para a série documental Clash of Titans, da BBC. A apelação foi aceita, e James Hunt foi desclassificado. Assim, as seis primeiras posições ficaram com Niki Lauda (Ferrari), Jody Scheckter (Tyrrell), John Watson (Penske), Tom Pryce (Shadow), Alan Jones (Surtees) e Emerson Fittipaldi (Copersucar).

<p>Temendo características do Circuito de Nurburgring, Niki Lauda propôs boicotes ao Grande Prêmio da Alemanha Ocidental, mas foi voto vencido</p>
Temendo características do Circuito de Nurburgring, Niki Lauda propôs boicotes ao Grande Prêmio da Alemanha Ocidental, mas foi voto vencido
Foto: Getty Images

Duas semanas depois, a Fórmula 1 chegava à Alemanha Ocidental para a décima etapa da temporada. Antes mesmo da largada, a prova já era marcada por um ambiente de tensão: o próprio Niki Lauda liderava um movimento para que os pilotos boicotassem o Grande Prêmio, uma vez que a pista de Nurburgring era considerada perigosa. O traçado estreito tinha intermináveis 22,8 km de extensão, o que obrigava os competidores a passar por características excessivamente diversas (pista seca e molhada, por exemplo) com um mesmo acerto. O boicote, no entanto, foi descartado pelos próprios pilotos em votação.

Sem surpresas, foi o que aconteceu naquele 1º de agosto de 1976. Com chuva na largada, a maior parte dos pilotos optou por iniciar com pneus para asfalto molhado – apenas Jochen Mass (McLaren), esperando a virada do tempo, escolheu compostos para tempo seco. Hunt fez a pole position, mas foi superado por Regazzoni logo nos primeiros quilômetros. Em desvantagem, Lauda aproveitou que o tempo melhorava e foi para os boxes mudar os pneus. “Niki decidiu trocar os pneus, de chuva para pista seca. Foi um dos primeiros, muito cedo. Estrategicamente, foi uma ótima decisão, mas, infelizmente, o circuito ainda estava molhado”, contou Audetto à BBC.

O austríaco vinha forçando o ritmo para recuperar terreno quando o acidente aconteceu: na segunda volta, ao entrar na Curva Bergwerk, a Ferrari perdeu o controle e se chocou contra o guard-rail à direita, explodindo em chamas, rodopiando e atravessando a pista. Guy Edwards (Hesketh) vinha atrás e desviou, mas Harald Ertl (Hesketh) e Brett Lunger (Surtees) acertaram o carro de Lauda. Os três pararam para ajudar no resgate, e logo ganharam o reforço do italiano Arturo Merzario (Wolf-Williams). Preso no carro, Lauda respirou gases por quase um minuto. Levado de helicóptero para o hospital, só saberia depois o resultado final da corrida, reiniciada mais tarde: James Hunt em primeiro, Jody Scheckter em segundo, Jochen Mass em terceiro, com pouca festa no pódio após 14 voltas.

Resultado final do GP da Alemanha de 1976
Posição Piloto País Equipe Tempo
1 James Hunt GBR McLaren Ford 1h41min42s7
2 Jody Scheckter AFS Tyrrell Ford +27s7
3 Jochen Mass ALE McLaren Ford +52s4
4 José C. Pace BRA Brabham Alfa Romeo +54s2
5 Gunnar Nilson SUE Lotus Ford +1min57s3
6 Rolf Stommelen ALE Brabham Alfa Romeo +2min30s3
7 John Watson GBR Penske Ford +2min33s9
8 Tom Pryce GBR Shadow Ford +2min48s2
9 Clay Regazzoni SUI Ferrari +3min46s0
10 Alan Jones AUS Surtees Ford +3min47s3
11 Jean-Pierre Jarier FRA Shadow Ford +4min51s7
12 Mario Andretti EUA Lotus Ford +4min58s1
13 Emerson Fittipaldi BRA Copersucar Ford +5min25s2
14 Alessandro P. Rossi ITA Tyrrell Ford + 1 volta
15 Guy Edwards GBR Hesketh Ford + 1 volta
Abandono Arturo Merzario ITA Wolf-Williams Ford  
Abandono Vittorio Brambilla ITA March Ford  
Abandono Patrick Depailler FRA Tyrrell Ford  
Abandono Carlos Reutemann ARG Brabham Alfa Romeo  
Abandono Ronnie Peterson SUE March Ford  
Abandono Hans-Joachim Stuck ALE March Ford  
Abandono Jacques Lafitte FRA Ligier Matra  
Abandono Chris Amon NZL Ensign Ford  
Abandono Niki Lauda AUT Ferrari  
Abandono Brett Lunger EUA Surtees Ford  
Abandono Harald Ertl AUT Hesketh Ford  
DNQ Lella Lombardi ITA Brabham Ford  
DNQ Henri Pescarolo FRA Surtees Ford  

O capacete modificado de Lauda foi incapaz de conter as chamas, que destruíram sua orelha direita, parte de seu couro cabeludo, suas sobrancelhas e suas pálpebras. Por pouco não perdeu a visão. O piloto entrou em coma, e passou por uma cirurgia com o brasileiro Ivo Pitanguy para recuperar as pálpebras. Assim, a Ferrari optou por não disputar a etapa seguinte da temporada, na Áustria, 15 dias depois – vitória de John Watson (Penske), com Jacques Laffite (Ligier) em segundo, Gunnar Nilson (Lotus) em terceiro e James Hunt em quarto.

É neste intervalo que surge o convite da Ferrari para Emerson Fittipaldi. Com desempenho discreto na temporada até então, o já bicampeão foi convocado pelo próprio Enzo Ferrari para assumir o posto de companheiro de Clay Regazzoni. Ainda na Alemanha, o brasileiro - que tinha apenas três pontos em dez corridas com a Copersucar - recebeu uma ligação do comendador, que lhe ofereceu a vaga.

“Eu estava andando ao lado do quarto do Niki (no hospital), que praticamente tinha mínima chance de sobreviver. Meu médico pessoal estava com o Niki e saiu muito preocupado - ele estava totalmente intoxicado com a inalação que ele teve dos gases, o que foi o pior para o Niki. Ele queimou todo o pulmão por dentro, e o sangue começou a inverter. Você envenena o sangue, o sangue passa a ser um veneno. Ele estava crítico quando eu recebi o convite da Ferrari”, contou Emerson ao Terra.

Na época, o brasileiro não acertou com o time, e o argentino Carlos Reutemann acabou contratado para o posto de piloto para o restante da temporada. No entanto, os dois sul-americanos foram preteridos para o posto: Lauda, que admitiu que achou que fosse morrer, deixou o estado crítico em cinco dias, saiu do coma, recuperou a condição física e retornou às pistas em menos de um mês – neste intervalo, James Hunt venceu o GP da Holanda, no qual a Ferrari teve apenas Clay Regazzoni em ação. Evidentemente, Lauda trazia marcas e sequelas cobertas por curativos por toda a cabeça. Ainda assim, decidiu superar o pânico e disputar a prova na Itália, conquistando um improvável quarto lugar – Reutemann, em sua única prova com a prova naquele ano, correu com um terceiro carro e foi nono. Como James Hunt rodou, o austríaco ganhou terreno e permaneceu em primeiro na briga pelo título: 61 a 56.

<p>Um mês após o acidente que quase tirou sua vida, Niki Lauda compareceu ao GP da Itália para voltar a correr; cheio de marcas do acidente na Alemanha, superou o próprio trauma e conquistou o quarto lugar</p>
Um mês após o acidente que quase tirou sua vida, Niki Lauda compareceu ao GP da Itália para voltar a correr; cheio de marcas do acidente na Alemanha, superou o próprio trauma e conquistou o quarto lugar
Foto: Getty Images

“Isso mostra o mundo difícil que é a Fórmula 1. Me chocou na época quando o Comendador (Enzo Ferrari) me ligou para entrar no lugar do Niki, mas graças a Deus o Niki se recuperou. Em Monza, ele já foi para o Grande Prêmio da Itália”, disse Emerson, que dá a entender que não trocaria sua equipe para correr pela Ferrari a partir do Grande Prêmio da Itália. “Eu estava contratado da Copersucar, não podia. Mas isso foi verdade: o Niki estava morrendo e a Ferrari me convidou para entrar no lugar dele”, completou.

<p>Então piloto da Copersucar, brasileiro dá pistas de que não trocaria temporada discreta em sua equipe para poder assumir o posto do amigo austríaco</p>
Então piloto da Copersucar, brasileiro dá pistas de que não trocaria temporada discreta em sua equipe para poder assumir o posto do amigo austríaco
Foto: Getty Images

Nas duas corridas seguintes, entretanto, James Hunt diminuiu a diferença para o líder da temporada. O britânico venceu no Canadá e nos Estados Unidos (Leste), enquanto Niki Lauda foi respectivamente sexto e terceiro. Assim, após a prova em Detroit, o piloto da Ferrari tinha 68 pontos, contra 65 do rival da McLaren. Ao chegarem para a última prova da temporada, no Japão, Jody Scheckter era o terceiro com 49 pontos e já não tinha chances de brigar pelo título.

Em 24 de outubro de 1976, o Circuito de Fuji amanheceu sob chuva – a mesma que provocou o acidente de Lauda 84 dias antes. Durante o briefing, os pilotos conversaram e, desta vez, concordaram em não largar caso o temporal continuasse forte. Porém, por pressão dos organizadores, a prova começou no horário previsto, com Mario Andretti (Lotus) na pole position, James Hunt em segundo e Niki Lauda em terceiro. E com o asfalto encharcado.

Os pontos para o título
Piloto ALE AUT HOL ITA CAN EUA JAP
Hunt 44 47 56 56 56 65 69
Lauda 58 58 58 61 64 68 68

Não demorou para o tempo feio cobrar seu preço: Andretti perdeu o primeiro lugar logo na largada para Hunt. Três voltas depois, Niki Lauda decidiu não arriscar e abandonou a prova, assim como fariam pouco depois José Carlos Pace (Brabham) e Emerson Fittipaldi. Jochen Mass continuou, mas se acidentou na chuva na volta 35. James Hunt, precavido, passou pelos boxes e trocou os pneus – voltou na quinta posição, que lhe tiraria o título por um ponto, mas ganhou as posições de Clay Regazzoni e Alan Jones para conquistar o terceiro lugar. Ali no pódio, ao lado de Mario Andretti e Patrick Depailler (Tyrrell), James Hunt conquistava o título da temporada de 1976 por um ponto: 69 a 68.

<p>Fã de Fórmula 1, diretor Ron Howard (à direita) preteriu papel de Emerson Fittipaldi em seu aguardado filme</p>
Fã de Fórmula 1, diretor Ron Howard (à direita) preteriu papel de Emerson Fittipaldi em seu aguardado filme
Foto: Divulgação

Era a vitória de um dos pilotos mais populares da época, talvez o mais, sobre um dos nomes mais técnicos e talentosos da história da F1. “Acho que é uma rivalidade que foi um pouco exagerada. Do jeito que aconteceu o campeonato, ninguém esperava que o James fosse ganhar”, comenta Emerson. “Na última prova em Fuji, eu também parei. Estava uma aquaplanagem absurda, você não via nada, você não tinha condição de pilotar o carro. O James continuou, terminou a corrida e passou na frente do Niki. Foi um fim de campeonato muito emocionante”, completou.

Os pilotos do filme e seus respectivos atores:

Piloto Equipe Ator
James Hunt McLaren Chris Hemsworth
Niki Lauda Ferrari Daniel Bruhl
Harald Ertl Hesketh Tom Wlaschiha
Clay Regazzoni Ferrari Pierfrancesco Flavino
Stirling Moss (já aposentado) Alistair Petrie
Arturo Merzario Wolf-Williams Cristian Solimeno
Mario Andretti Lotus Kristofer Dayne
Guy Edwards Hesketh James Norton
Hans-Joachim Stuck March Antti Hakala
Brett Lunger Surtees Robert Christopher Austin
Gunnar Nilsson Lotus Robert Finlay
John Watson Penske Butchy Davy
Jochen Mass McLaren Chris Penfold
Piloto francês (não identificado)   Xavier Laurent

Será esta a história resgatada por Rush – No Limite da Emoção, que entra em cartaz nesta sexta-feira. Com Chris Hemsworth (de Thor) no papel de James Hunt, e Daniel Bruhl (de Adeus, Lênin!) interpretando o papel de Niki Lauda, o filme retrata ainda diversos outros nomes conhecidos da época: Suzy Miller (então mulher de Hunt, interpretada por Olivia Wilde), Clay Regazzoni (papel de Pierfrancesco Favino) e Mario Andretti (Kristofer Dayne no filme), entre outros. Mas quase nada de Emerson Fittipaldi. preterido da obra de Ron Howard - o brasileiro é mencionado apenas uma vez, em uma passagem a respeito da contratação de pilotos da McLaren.

E então? Já pensou quem poderia interpretar Emerson Fittipaldi nas telas do cinema?

<p>''Rush - No Limite da Emoção'' estreia nesta sexta-feira no circuito internacional</p>
''Rush - No Limite da Emoção'' estreia nesta sexta-feira no circuito internacional
Foto: Divulgação

Fonte: Terra
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