GP da Europa de 1993: a obra prima eterna de um gênio
A primeira volta de Ayrton Senna em Donington completa 30 anos hoje e é um dos momentos que marcam o fã de automobilismo para sempre.
11 de abril de 1993. Um domingo de pascoa chuvoso na Inglaterra. A F1 voltava oficialmente a Donington Park depois de 55 anos (em 1938, a pista sediou uma corrida de Fórmula Livre e a vitória foi de Tazio Nuvolari). Com o cancelamento da prova prevista em Autópolis (Japão), abriu-se um espaço no calendário.
A escolhida para preencher este espaço foi a simpática pista encravada nas Midlands britânicas. Após ter sido usada como campo de pouco pelo Ministério da Defesa na 2ª Guerra, Tom Wheatcroft, um louco por corridas, comprou a pista e foi a reformando. Volta e meia era usada para testes de F1. Como era amigo de Bernie Ecclerstone, este fez uma graça e colocou Donington no calendário com o título de GP da Europa.
Com chuva, a corrida prometia mais emoção. Mesmo sendo uma pista curta e acanhada para os padrões da F1, as Williams voaram em pista seca e garantiram a primeira fila. Alain Prost na frente e Damon Hill em segundo. Na terceira posição, Michael Schumacher, que estreava o novíssimo B193B, superava Ayrton Senna por pouco mais de um décimo.
Senna, embora líder do campeonato, ainda fazia o esquema de fechar um acordo por corrida. Tudo dentro da estratégia firmada por ele e Ron Dennis para arrancar mais dinheiro da Philip Morris. O MP4/8 mostrava suas qualidades em baixa e médias velocidades, mas não era o bastante para superar as Williams.
Porém, na chuva, estas qualidades superavam as Williams. O fato do motor Ford ter menos potência do que os Renault e a eletrônica da McLaren ser superior à da Williams acabava por ajudar o brasileiro. Tanto que, nos treinos de sexta, sob chuva, Senna foi o mais rápido.
Foi com esta esperança que Senna alinhou o seu McLaren número 8 na segunda fila. As Williams largavam na frente e tinham o favoritismo a seu favor. Porém, uma conjunção de fatores aconteceu e permitiu ver um dos grandes momentos da história do automobilismo....
Quando a luz verde apareceu, Senna não largou bem. Prost e Hill foram na frente e acreditando na previsão de que o tempo melhoraria. As escolhas de acerto dos carros foram neste sentido. Karl Wendlinger, da Sauber e então largava em quinto, se aproveitou da embolação Schumacher e Senna e pulou para terceiro...
A partir daí, a conjunção MP4/8 com ótima tração, motor Ford com torque mais suave, controle de tração e suspensão ativa eficiente, aliada à tenacidade de Senna, fez a festa. Logo na saída da Red Gate, o brasileiro se livrou de Schumacher e foi ao ataque de Wendlinger.
Preparou o ataque na Craner indo por fora e na aproximação do Old Harpin colocou de lado e ganhou a terceira posição. Naquele momento, aquele bólido vermelho e branco era algo imparável, onde máquina e homem eram uma coisa só.
Hill era a próxima vítima e Senna não tomou conhecimento, o passando como se estivesse parado na tomada da McLeans. Naquele momento, a aproximação em Prost era uma questão de tempo. A Williams poderia até ser o carro de outro planeta, mas Senna e a McLaren eram de outra dimensão.
Na chegada para a freada para o grampo da Melbourne, o movimento com requinte de crueldade: Senna retarda a freada, poe por dentro e passa Prost. A partir daí, foi um verdadeiro passeio, ajudado pelos problemas de freio e a aposta da Williams que o tempo melhoraria. Mas fica para a história.
Mesmo aqueles que tem suas diferenças com Senna, tem que reconhecer aquele momento que durou cerca de um minuto e meio foi a mostra do que um gênio pode fazer. A sorte é que tivemos como gravar e ver quantas vezes quiséramos. Alguns mais antigos dirão que Clark fez algo semelhante ou até melhor. Até mesmo outros.
Mas a vitória de Senna foi definitiva e ajudou a colocar mais uma peça no quebra-cabeça que fez o mito. E que será lembrada para sempre pelos verdadeiros fãs de automobilismo não só nestes 30 anos, mas para a eternidade.