Guia F1 2023 – Alfa Romeo quer boa temporada (de despedida?)
Oficialmente, o nome Alfa Romeo entra em seu último ano na F1. Meta é manter a boa forma de 2022 mesmo após saída de chefe de equipe
Nome oficial: Alfa Romeo F1 Team Stake // Carro: C43 // Motor: Ferrari 066/10 // Pilotos: #77 Valtteri Bottas e #24 Guanyu Zhou // Posição em 2021: 6º de 10
A equipe
A Alfa Romeo pode estar com os dias contados na Fórmula 1. A tradicional fabricante italiana, como se sabe, não é uma equipe de fábrica como Mercedes, Ferrari ou Alpine. Trata-se de uma parceria entre a marca de carros e a equipe Sauber, que é quem está por trás de toda a operação. A Sauber entra com a expertise, a Alfa Romeo entra com o nome.
Acontece que a Sauber já anunciou para o mundo que se aliará a outra grande fabricante em 2026: a Audi. Será uma ligação ainda mais estreita, com a empresa alemã comprando ações da Sauber e participando ativamente do dia-a-dia da equipe. Haverá, inclusive, motores próprios. E onde fica a Alfa Romeo nisso tudo?
Bom, não fica. Pelo menos por enquanto. O que se sabe é que o contrato entre Sauber e Alfa expira em 2023 e, a princípio, a equipe correrá com o velho nome Sauber por dois anos, até que a Audi esteja pronta para entrar no jogo. Há boatos que ligam a Alfa Romeo à Haas, e não está descartada nem mesmo uma renovação da parceria atual. Mas, até que se prove o contrário, a Alfa Romeo como conhecemos hoje entra em sua última temporada como equipe de Fórmula 1.
Na pista, a Alfa não tem do que reclamar de 2022. Depois de três temporadas fracas, a equipe ganhou fôlego sob o novo regulamento e terminou em um bom 6º lugar entre os construtores. Valtteri Bottas se adaptou bem ao time e foi figura constante na zona de pontuação na primeira metade da temporada, enquanto a vantagem inicial do C42 ainda estava presente. Mais do que marcador de pontos, ele teve o papel de mentor para o novato Guanyu Zhou, que fez temporada de estreia discreta, mas honesta.
A equipe mantém a dupla no comando de seus carros em 2023. Fora deles, uma mudança importante: Fredric Vasseur, chefe da equipe desde 2017, deixa o time após aceitar proposta para comandar a Ferrari. A Alfa não tardou em buscar Andreas Seidl na McLaren. Ele chega para ser o CEO da equipe. A princípio, Seidl não vai nomear um chefe de equipe tradicional, como era Vasseur. Alessandro Alunni Bravi, engenheiro de carreira da Sauber, será o representante da equipe nas funções de chefia quando essa figura se fizer necessária.
A dupla de pilotos
#77 Valtteri Bottas:
O finlandês de 33 anos vive uma fase bastante interessante na carreira. Foram 5 anos de Mercedes, quando sabia ter um carro imbatível nas mãos, mas dividia equipe com um dos melhores pilotos de todos os tempos. Havia uma constante tensão por andar sempre tão perto de títulos e vitórias e, ao mesmo tempo, tão longe. Uma cobrança interna, um fardo pesado.
Na Alfa, a pressão é outra. Ele chegou com status de líder da equipe e grande referência técnica, mas ciente de que o patamar da equipe era incomparavelmente inferior ao que havia se acostumado. E a mudança de mostrou positiva. Mais leve e brincalhão, Bottas mudou até de estilo no visual, e correspondeu ao que se esperava dele na pista.
Em certos momentos de 2022, chegou a brigar com as Mercedes e flertar com o pódio. Para uma equipe que vinha combalida como a Alfa, sua chegada e suas performances foram uma injeção de ânimo muito necessária. Para 2023, seu foco deve ser seguir nessa boa fase, dentro e fora das pistas, e manter a Alfa competitiva na briga do meião de tabela.
#24 Guanyu Zhou: o jovem chinês vai para sua segunda temporada na Fórmula 1. A primeira pode ser resumida em uma palavra: aprendizado. Zhou pode não ser um potencial campeão do mundo, mas não pode ser acusado de não se esforçar. Dedicado e humilde, soube ouvir e aprender com Bottas, que se mostrou um bom mentor. O finlandês chegou, inclusive, a passar orientações a Zhou via rádio através da equipe.
Guanyu causou uma boa impressão logo em sua estreia, pontuando em sua corrida inaugural. O desempenho chamou a atenção, e foi importante para tirar a pressão e poder contar com o respaldo desse bom resultado para evoluir e errar eventualmente – algo totalmente normal para um novato. Sua temporada, no geral, foi discreta, mas sem grandes pontos negativos. O momento de maior protagonismo, para seu azar, foi o terrível acidente em Silverstone, do qual não teve a menor culpa...
Passada a fase do aprendizado mais puro, Zhou tem como missão em 2023 melhorar seu rendimento. No ano passado, ele fez apenas 12% dos pontos de Bottas. Pensar em superar o experiente colega pode ser sonhar alto demais, mas é preciso andar mais perto. É importante para a equipe, que precisa de dois pilotos competitivos na briga, e importante para sua própria carreira.
O carro
Carros bonitos são, provavelmente, a primeira coisa que vem à mente quando se pensa em Alfa Romeo. A marca italiana é famosa pelo design irretocável de seus carros de rua há muitas décadas. Na Fórmula 1, é quase uma obrigação da equipe manter esse legado de elegância e qualidade estética da empresa.
O C43 é uma evolução do C42, mas traz mudanças visuais significativas em relação ao carro do ano passado. Diferente, porém, igualmente bonito, como manda a tradição alfista. O tom vinho permanece, enquanto o branco foi trocado pelo preto. Assim como em praticamente todas as outras equipes, o preto está presente no visual do carro por razões puramente técnicas: sem o peso da tinta, a fibra de carbono do carro fica exposta. Na Alfa, o resultado ficou particularmente bom – ainda que parecido demais com a Ferrari...
Entre os patrocinadores, a falta mais sentida será a petrolífera polonesa Orlen, que bancava Robert Kubica como terceiro piloto do time. A empresa encerrou a parceria com a Alfa e assinou com a AlphaTauri. O espaço master do carro passa a ser ocupado pela Stake, um site de apostas. O novo parceiro, inclusive, entra no nome oficial da equipe: Alfa Romeo F1 Team Stake.
Expectativa para 2023
O bom ano de 2022 foi importante para a Alfa Romeo. Depois de algum tempo, a equipe pôde, finalmente, voltar a pleitear posições melhores na tabela de pontos. Bom para o moral, para a competitividade e, claro, para o bolso. Foram algumas temporadas oscilando entre os sofridos 8º e 9º lugares. O 6º posto traz uma boa injeção para o caixa do time.
Como motivação adicional, há o fato de 2023 ser, possivelmente, o último ano da Alfa Romeo na Fórmula 1. Manter a boa fase e deixar a categoria como uma equipe competitiva é algo que a empresa deve almejar.
Nos testes de pré-temporada, a Alfa Romeo surpreendeu com algumas boas voltas de Bottas e Zhou, aparecendo na parte de cima da tabela. Com a escassez de informações concretas, assume-se que as voltas foram feitas com carro leve e acerto mais agressivo, cenário que não foi testado por todos. É cedo para dizer se esses tempos serão correspondidos na realidade do campeonato, mas não deixa de ser motivo de otimismo dentro da equipe. Ajuda o fato de o carro ter acumulado boa quilometragem e não ter apresentado maiores problemas de confiabilidade – um dos pontos de melhoria do carro no ano passado.
A (possível) última dança da Alfa Romeo merece um carro competitivo para uma saída digna. Se não à altura do passado glorioso da marca, pelo menos que lembre os melhores momentos dessa sua terceira passagem pela categoria. Manter o 6º lugar é uma meta que parece bastante plausível para a Alfa – especialmente se Zhou conseguir andar mais próximo de Bottas ao longo do ano.