Jonathan Palmer: o outro campeão da temporada 1987 da F1
A temporada da F1 1987 teve um campeão além de Piquet. Os aspirados tiveram um campeonato para chamar de seu e foi ganho por Jonathan Palmer
Neste dia 7 de novembro, o britânico Jonathan Palmer completou 66 anos. Embora tenha obtido bons resultados na base (foi campeão da F3 britânica e da F2), teve uma carreira discreta na F1. Estreou em 83 em uma corrida extracampeonato pela Williams e foi perambulando pela RAM e Zakspeed, sem conseguir brilho.
Mas em 1987, Palmer teve a chance de mostrar um pouco mais de trabalho. Naquele ano, a F1 começava a transição para a era totalmente aspirada em 1989. Para garantir as equipes pequenas e utilizar o estoque de motores Cosworth existente e que a F3000 não utilizava inteiramente, foram reintroduzidas as unidades aspiradas, porém com a cilindrada ampliada de 3 litros para 3,5 litros (até porque nenhuma outra fabricante de peso tinha motores disponíveis para atender esta demanda).
Os turbos seguiam permitidos e conviveriam com os aspirados. Só que a diferença àquela altura era algo terrível. Para iniciar uma convergência e segurar o desempenho, a FIA trouxe dos EUA a ideia das válvulas de alívio no turbos. Ao atingir uma determinada pressão, a válvula abria, fazendo perder pressão e assim potência, respectivamente.
Antes, os turbos usavam até 6bar (medida de pressão) nas classificações, o que faziam os motores alcanças potências entre 1200/1500cv nos treinos. A partir de 87, o uso das válvulas limitando em 4 bar o fim de semana todo, fez um corte de cerca de 850cv para os treinos. A diferença para os aspirados caiu para a casa de 250cv/300cv. Para tentar compensar mais, a FIA autorizou que os aspirados não tinham limite de combustível (os turbos poderiam usar até 195 litros) e pesar 500 kg no mínimo (os turbo ficavam em 540kg).
Para dar uma animada nos times que usariam os motores aspirados, a FIA criou um campeonato específico para eles: o Troféu Jim Clark para os pilotos e o Troféu Colin Chapman para os aspirados. Os times pontuariam no campeonato principal, mas teriam esta “bolha” para eles.
A brecha dos aspirados abriu a porta para novos times. A March voltava após uma ausência de 5 temporadas; as francesas Larrousse/Camels e AGS estreavam. Alguns outros pensavam em vir, mas pensavam em 88. Porém, as estabelecidas também consideraram abraçar os motores de “respiração natural”. Minardi e Zakspeed pensaram, mas viram o uso do turbo como uma possibilidade de pontuar. A Osella flertou, mas o velho Alfa Turbo vinha sem custo. Ligier ficou sem o Alfa Turbo na véspera da temporada e chamou o uso dos aspirados de “andar com os mortos”.
Um nome de peso que viu uma oportunidade nisso foi a Tyrrell. Um dos últimos times que abraçaram os motores turbo (e até levaram um golpe, contei esta história aqui), a equipe de Tio Ken estava sem perspectivas com a saída da Renault no fim de 1986. Com a abertura da volta dos aspirados, era o momento de voltar a usar os Cosworth V8, que ele foi cliente fiel de 1968 a 1985.
Com o apoio dos americanos da Data General (computadores) e da gigante britânica de produtos químicos Courtaulds, a dupla Maurice Phillipe e Brian Lisles projetou em curto tempo um carro descomplicado, de aparência bojuda, mas extremamente funcional. Nascia o Tyrrell DG016.
Para pilotar um dos carros, Phillipe Streiff era mantido, graças ao dinheiro francês, especialmente da Elf, histórico apoiador da Tyrrell. Para o segundo posto, muitos pilotos foram considerados, especialmente por conta do orçamento. Palmer foi contratado uma semana antes do começo da temporada, o GP do Brasil, em 12 de abril.
O Tyrrell não era o mais rápido do grupo, mas a experiência do time ajudou nestas horas. Mesmo tendo problemas de ignição e alguns acidentes, como o aparatoso acidente no início do GP da Bélgica com seus dois carros, o time não teve problemas em dominar o Troféu dos Aspirados.
Um fato foi que, por boa parte da temporada, foi a única equipe a alinhar com 2 carros (a Larrousse só foi ter um segundo carro no México). A disputa acabou ficando entre Streiff e Palmer. Mesmo com os problemas de ritmo, a Tyrrell conseguiu resultados improváveis, como 2 quartos lugares na Alemanha e Austrália. E Palmer acabou sendo o campeão do Troféu Jim Clark, com 95 pontos, 21 a mais do que seu companheiro de equipe.
Desta forma, podemos dizer que a temporada 1987 da F1 teve 2 campeões de pilotos: Nelson Piquet pelo geral e Jonathan Palmer pelos aspirados. E o britânico acabou sendo o único vencedor da história, pois em 1988 a disputa foi descontinuada por conta das mudanças no regulamento para aproximar mais os turbos dos aspirados e o aumento do número de carros com motor aspirados.
Posteriormente, Palmer seguiu na F1 até 1989, quando foi trocado por Jean Alesi na Tyrrell. Ainda ficou algum tempo como piloto de testes da McLaren (chegou a aparecer na lista de inscritos para a temporada de 1990 por conta da confusão Senna x Ballestre), ajudando a desenvolver os carros de F1 e o primeiro automóvel de rua. Ao pendurar o capacete, se tornou empresário e hoje e dono de diversas pistas na Grã-Bretanha, além de ter orientado a carreira do filho, Jolyon.