Mais rua, mais dinheiro: escolha por Madri mostra a via da F1
F1 anuncia acordo de 10 anos com Madri a partir de 2026 para receber GP da Espanha. Mais um circuito de rua e a pergunta: este é o caminho?
Foi anunciado nesta terça que Madri e F1 assinam um acordo para que o GP da Espanha seja disputado na cidade por 10 anos, com circuito montado nas ruas. O custo da construção, manutenção e os transtornos locais são menores com circuitos temporários, sendo mais lucrativo para o organizador e a Liberty Media, empresa com ações em bolsa.
O que parecia um grande golpe de marketing ou inicialmente uma jogada para pressionar Barcelona, foi oficializado nesta terça, 23: Madri e F1 anunciaram um acordo para que o GP da Espanha seja disputado na cidade por 10 anos, a partir de 2026.
O fator mais intrigante deste anúncio é que se confirmou que o circuito madrilenho será montado nas ruas da cidade. O projeto da pista de 5.474m e 20 curvas prevê inicialmente passar perto do IFEMA, parque de exposições criado em 1980, e que, entre vários eventos, sediou a F1 Exibition durante 2023.
Let’s go racing in Madrid!
Say hello to the brand-new circuit built around the @IFEMA Exhibition Centre ✨#F1 pic.twitter.com/klysY8HAiT
— Formula 1 (@F1) January 23, 2024
Nos últimos anos, temos visto o crescimento da participação das pistas de rua no calendário. Com a entrada de Madri, seria o nono circuito urbano em 24 provas (Australia e Canadá entram nesta conta). Elas sempre bateram ponto e fazem parte do jogo. Afinal de contas, Monaco é o que? Entretanto, o que os fãs questionam é: Por que cada vez mais a F1 busca circuito urbanos quando se tem tantas pistas permanentes disponíveis?
A grande questão é que o custo de construção e, principalmente, manutenção de um circuito dentro dos padrões que a F1 exige (Nível 1 da FIA) é muito alto. Não são todos os locais que conseguem ter um calendário de forma a garantir de viabilidade do negócio. Um grande exemplo disso no exterior é Silverstone, que tem uma série de atividades no circuito para manter a lucratividade.
Como o organizador já tem um alto gasto para sediar o GP e nem sempre há um apoio governamental para isso (afinal de contas, muitos lugares veem estas provas internacionais como uma boa forma de divulgação...São Paulo entra aqui), a solução de montar uma estrutura provisória acaba por ser mais fácil de viabilizar o evento, mesmo que exija uma série de transtornos locais (vimos isso com Miami e Las Vegas).
Os transtornos são transitórios e, por isso, entram na conta do organizador. Os padrões da FIA são obedecidos e o tempo de montagem e desmontagem acaba sendo muito menor do que a construção de um circuito permanente (coisa entre 18 e 24 meses). Por isso que temos tido este aumento da aparição das pistas urbanas.
Para a Liberty Media, é um exercício interessante, pois cria um cenário “diferente” e ainda dá a possibilidade de levar provas para locais que ela considera “cidades-destino”. Ou seja, locais em que a afluência de pessoas já é grande e a F1 poderia se aproveitar disso e alavancar mais ainda o público.
Para o modelo de negócio e as finanças, isso soa como música para os ouvidos. Não podemos esquecer que a Liberty Media é uma empresa com ações em bolsa e nos últimos anos é que vem conseguindo que a F1 seja uma geradora efetiva de caixa para o grupo. É algo muito importante, mas a que custo?
Uma das coisas que os fãs se perguntam é justamente se vale a pena a F1 correr em tantas pistas de rua. Outros dirão ainda que está indo contra toda a história da categoria e que justamente a Fórmula E, que se é tida como o futuro da F1, está em um movimento contrário e procurando cada vez mais os circuitos permanentes...
Tempos atrás, o CEO da F1, Stefano Domenicali, falou da necessidade da categoria chegar a novos mercados, mas sem esquecer sua essência e história. Olhar para frente é sempre necessário, mas não se pode ignorar o passado. No caso específico do anúncio de Madri, a cidade tem uma certa tradição, afinal Jarama recebeu a F1 entre 1968 e 1981. Mas o local onde a prova acontecerá soa extremamente fria e impessoal, em torno do IFEMA e próxima à Cidade Desportiva do Real Madrid, embora a Prefeitura local diga que o deslocamento até o local se fará através de transporte público, reduzindo a emissão de poluentes. Soa como música aos ouvidos da Liberty Media, louca para soar mais ecológica.
Hoje foi Madri. Este ano, já saiu o balão de ensaio de Osaka no lugar de Suzuka com mais um traçado urbano e se fala também em Coreia do Sul, que gastou rios de dinheiro para fazer Yeongam tempos atrás. Antes de tudo, não é uma situação de ir contra novas situações e garantir a saúde financeira da F1, mas sim de evitar o risco de se jogar toda uma história pela janela.