Menos é mais: eis a F1 2026, com carros menores e DRS duplo
Após muita especulação, FIA e F1 mostram a primeira projeção do carro para 2026. Menores, estreitos e com menos pressão. Tudo pelo show
Após muitas idas e vindas, a FIA e a F1 apresentaram nesta quinta (06/06), as linhas gerais do novo regulamento técnico da F1 para 2026. Após divulgarem as diretrizes para os novos motores, que contarão com mais geração elétrica, agora finalmente veio a apresentação do conceito.
Desde quando se definiu a entrada de um novo regulamento técnico para o ciclo 2026/2030, a F1 perseguia o objetivo de fazer um carro menor e mais leve. Os carros atuais ficaram com a percepção de “jamantas” pelo público. Em um tempo em que a F1 quer soar mais ecologicamente responsável, era interessante pensar nisso.
Neste aspecto, a categoria optou por aprofundar o uso de energia elétrica (híbrido) e abraço os combustíveis sustentáveis. A potência do motor a combustão cai e a parte elétrica ganha mais importância. Só que com isso, o peso das baterias aumentou e tornou o desafio de cumprir as metas estabelecidas um pouco mais complicado...
Sem contar que um desafio que a F1 tinha era fazer um carro menor e mais leve sem impactar na segurança. Afinal de contas, nos últimos anos, parte do aumento de peso e de tamanho veio do incremento de ações de segurança nos monopostos. Aparentemente, este ponto foi cumprido.
Mas o que teremos para a F1 2026:
- Carros menores e mais leves:
Este aspecto foi um dos mais batidos e no final, foi estabelecido que o carro terá 20cm a menos no entreeixos atual. Dos 3,60m atuais, o carro terá um máximo de 3,40m. Em termos práticos, isso deve dar uma redução final entre 10 a 15cm em relação aos 5,75m do regulamento corrente.
Para reduzir o arrasto, também houve um movimento de estreitar o carro; o F1 2026 terá uma largura de 1,90m, 10cm a menos do que os atuais. Além disso, também emagrecerá cerca de 30kg: dos 798kg de hoje, passará para 768kg, sendo 722kg do conjunto carro/piloto e mais 46kg dos pneus.
Sobre os pneus, eles seguirão com o aro 18”. Mas ficarão mais estreitos: 2,5cm a menos na frente e 3cm na traseira. Isso também ajuda na questão do peso geral.
-30kg, -10cm width, -20cm wheel base, the 2026 Formula 1 car will be lighter, smaller and more nimble than its predecessor! 🏎️
Go more in depth into the 2026 FIA Formula 1 Technical Regulation on FIA YouTube channel ➡️ https://t.co/v8lwl0CRwN#FIA @F1 pic.twitter.com/QsoVappCAp
— FIA (@fia) June 6, 2024
- Menos pressão aerodinâmica e arrasto
A redução de dimensões ajuda a reduzir o arrasto dos carros. A F1 foi mais além e mais uma vez foi no caminho de reduzir a pressão aerodinâmica dos carros. Todas as principais mudanças de regulamento foram nesta direção e os técnicos sempre faziam cambalhotas para recuperar. Desta vez, não foi diferente.
Retomando a linha de diminuir a turbulência, deixar os carros mais próximos e compensar uma parte da velocidade perdida com a mudança dos motores, a F1 mexeu na configuração dos carros: retirou os defletores sobre as rodas dianteiras. Em compensação, criou uma espécie de túnel no painel lateral para tratar de jogar o ar para fora do carro (o chamado outwash).
Só que para reduzir o trabalho dos técnicos para bolarem meios de jogar o ar para fora do carro (assim aumentando a turbulência e o chamado “ar sujo”, prejudicando que os carros andem juntos), a frente foi mais alterada: o bico foi mais separado do spoiler dianteiro e retomado um esquema em “colher”, que foi visto na F1 de 1995 até 2008. Isso deixa a frente gerando mais pressão comparativamente do que o desenho atual, embora seja 10cm mais estreita.
As aletas laterais (bargeboards), que ficam na entrada das laterais, também serão reposicionadas: ficarão agora mais no extremo das laterais. O objetivo é disciplinar o ar que vem dos pneus e evitar que sejam jogado para fora, aumentando a turbulência.
Em conjunto, o conceito foi pensado para que o ar fosse jogado mais para dentro do carro (inwash) e ainda uma redução do efeito solo: os tuneis ainda seguem no assoalho, mas uma área volta a ser plana (nem tanto quanto antes de 2022) e o difusor traseiro deixa de ter tanta importância.
As asas passam a ter um desenho mais reto. Aqui entra o conceito ampliado da aerodinâmica ativa. Hoje, a F1 já usa o DRS na traseira para reduzir o arrasto e facilitar as ultrapassagens. A partir de 2026, a asas dianteiras também passam a ter o mesmo mecanismo. Assim, nas retas, as asas dianteiras e traseiras funcionarão em conjunto, apelidado de “X-Mode”, para permitir uma maior redução da resistência ao ar. Junte isso com o novo “Modo de Ultrapassagem”, oficializado hoje (falamos nisso aqui).
A primeira versão do novo regulamento técnico deverá vir à publico no final deste mês de junho, logo depois da sua aprovação pelo Conselho Desportivo Mundial da FIA, previsto para se reunir no dia 28.
Inicialmente, podemos indicar que a F1 dá um passo atrás em conceito para poder ter mais competição: teremos carros menos dependentes da aerodinâmica por baixo do carro, ligeiramente menores (menos do que se esperava) e deverão ser um pouco mais difíceis de pilotar pela perda de pressão aerodinâmica, mesmo permitindo que possa usar acertos de suspensão menos duros e menos baixos. Com um difusor menos potente, poderemos ver a volta das traseiras mais inclinadas, o chamado rake, para fazer com que não se perca tanta pressão aerodinamica gerada pelo fundo do carro (o objetivo é fazer com que o ar passe o mais depressa possível por baixo em relação ao fluxo que passa por cima do carro, assim o prendendo ao chão).
Mas a primeira impressão que fica é que a F1 bebeu nos conceitos da F1 que víamos no início dos 2000 até 2008 e os atualizou. Temos que lembrar que a apresentação de hoje foi feita em cima de projeções. Como vimos anos atrás, as imagens atuais dão uma boa mostra do que será, mas temos que vem o que cada equipe interpretará do regulamento.
A grande pergunta é: até onde será a liberdade dos técnicos? O regulamento atual já é bastante amarrado e vimos o que eles fazem a cada final de semana. Na apresentação, a FIA deixou claro que algumas partes seguirão sendo mandatórias. Ou seja, as equipes têm que obrigatoriamente seguir o que está no regulamento.
São movimentos que soam interessantes, na direção correta, mas que talvez ainda tenham que ser mais aprofundados. Ainda teremos muita discussão até 2026, já que, oficialmente, os times só poderão começar a trabalhar nestes carros em janeiro do ano que vem...