Motores F1 2026: Ferrari tenta mostrar que ainda tem poder
A Ferrari vem tentando mostrar força para influenciar nos caminhos dos motores da F1 para 2026. A grande bronca é com a Red Bull. Entenda
O ano mal começa e as manchetes pipocam com força, especialmente na Internet e nas Redes Sociais. A última foi a questão de que a Ferrari não tinha ainda apresentado a sua aprovação às regras dos novos motores de 2026 e, que por este motivo, não teria sido permitida a participação em uma reunião de discussão.
Claro que uma notícia desta causa uma tremenda comoção. Afinal, estamos da Ferrari, a grande figura da F1, que está desde o início das atividades e não tem medo de usar o seu peso para conseguir o que quer. Então, vamos aos fatos.
- A Ferrari realmente não apresentou a sua concordância às regras publicadas em relação aos motores de 2026. Pelas regras, o prazo final seria 15 de outubro de 2022 e uma possível nova inscrição só poderia ser feita em 30 de junho deste ano. (item 1.1.2 do Anexo 5 do Regulamento Técnico de Motores de 2026)
Porém, no artigo seguinte, a FIA deixa claro que pode aceitar inscrições fora do prazo, de acordo com sua determinação, somente o fabricante tendo concordado com as normas estabelecidas.
Já tínhamos falado sobre isso antes em relação à Porsche, que se aplica neste mesmo caso (ver aqui);
-Em relação à parte técnica, a FIA e a F1 concordaram em lançar agora as linhas gerais das regras. Porém, ainda existem uma série de detalhes técnicos em discussão. A Ferrari vinha participando antes e já tinha conseguido vetar o pedido de Porsche e Audi em relação ao uso de alumínio e outras ligas para a fabricação de pistões.
As discussões que estão em curso não afetam as linhas gerais. Os italianos levantaram outras situações, como o uso de impressoras 3D para a confecção de certas peças e certas limitações eletrônicas (que será um dos pontos nervosos desta nova configuração). Mas até aqui, não são tão complicadas;
- O que é mais tenso para a Ferrari é a questão da Red Bull ser considerada uma nova fabricante. Atendendo ao solicitado pelo grupo VW, os novos entrantes tiveram direito a ter mais tempos de teste e mais dinheiro para gastar.
Neste ponto, os fabricantes terão que atender um novo pacote de regras no mesmo espírito do teto orçamentário das equipes. Os fabricantes poderão gastar até US$ 95 milhões/ano a partir de 2023. Os novos entrantes terão direito a gastar US$ 10 milhões acima do teto em 2023 e 2024, e US$ 5 milhões em 2025. Tudo isso para poderem entrar em condições de disputar com os fornecedores atuais.
A regra de motores, no item 5.1 do Anexo 5, prevê o que caracteriza um novo fabricante. Traduzimos aqui:
a) Não ter homologado uma unidade de potência pelo uma vez entre 2014 e 2021;
b) Não ter recebido qualquer Propriedade Intelectual de um fabricante de unidade de potência que não seja um novo fabricante de unidade de potência;
Além disso, a FIA ainda pede ao proponente que envie documentação sobre Infraestrutura e experiencia com motores a combustão e sistemas de recuperação de energia.
O item b) citado é onde a Ferrari grita. Ok, a Red Bull monta uma senhora estrutura em sua Sede em Milton Keynes para poder fabricar motores. Porém, os atuais motores em uso são de responsabilidade da Honda, que transferiu para a Red Bull a responsabilidade de uso e manutenção.
O acordo entre Red Bull e Honda, que foi estendido até 2025, prevê que os taurinos usem a propriedade intelectual da unidade de potência japonsesa em determinadas situações, mantidas algumas restrições.
Diante disso, a Ferrari alega que a Red Bull Power Trains não pode ser considerada uma nova fabricante, ainda mais com o agravante da Honda ter apresentado sua intenção de ser fornecedora em 2026.
Porém, o regulamento atual já prevê uma solução para este caso: há uma categoria de “Fabricante Parcialmente Novo” (item 5.2 do Anexo 5). Caso a FIA julgue que um Fabricante que se diga novo não se enquadre em todos os requisitos, ele terá um fator de redução a ser aplicado nas facilidades dadas aos novos. São os seguintes:
Agora, a FIA tem um belo problema: como a Ferrari tem poder de veto, ela pode embarreirar. Se a entidade atende ao pedido dos italianos, a Red Bull pode se melindrar e querer botar tudo a perder. Essa questão já entra na lista de tratativas de Frederic Vasseur para assumir o comando da Gestão Esportiva.
Lendo vários sites italianos, a impressão que se tem é que a Ferrari foi muito condescendente nos últimos anos, perdendo muita coisa. Agora, é chegada a hora de tentar recuperar algum poder. O CEO Benedetto Vigna, que assumiu o posto há pouco mais de um ano, quer começar a dar o seu toque na gestão e vê aqui a melhor chance de mostrar serviço.
Como este perfil aqui fala: corrida não se vence somente na pista.
Quem tiver a curiosidade de ler os documentos, eis aqui o link do site da FIA diretamente na parte de regras da F1.