Na Garagem: Schumacher se aposenta em dia de tri de Vettel e vitória de Button no Brasil
Segunda — e definitiva — aposentadoria de Michael Schumacher aconteceu em dia de corrida histórica no Brasil, que marcou tricampeonato mundial de Sebastian Vettel na Fórmula 1
Se o dia 25 de novembro de 2012 já seria marcante na história da Fórmula 1 pelo GP do Brasil caótico ocorrido naquele dia, em Interlagos, a despedida definitiva de Michael Schumacher da categoria conseguiu imortalizá-lo de vez. Em uma prova que contou com incríveis 147 manobras de ultrapassagem bem-sucedidas, os holofotes estavam todos virados para aquele que reinava sozinho, até então, como único heptacampeão da história.
O primeiro 'até logo' do alemão à F1 aconteceu no fim da temporada 2006, que marcou o bicampeonato mundial de Fernando Alonso, mas 'Schumi' não resistiu à falta de adrenalina que representava sua ausência da categoria. Assim, Michael abraçou o projeto da conterrânea Mercedes, que decidira se tornar de novo uma equipe na F1 e contava com a experiência de Ross Brawn, justamente aquele que fez parte da época de ouro de Schumacher na Ferrari.
No entanto, a união entre as partes — que teve seu início em 2010 — não surtiu o efeito esperado. Schumacher retornou longe da forma que tinha em seus dias de grandeza, e a Mercedes não produziu um carro que permitisse ao alemão sonhar mais alto: como resultado, Michael terminou sua primeira temporada em nono lugar, com apenas 72 pontos.
O panorama se alterou muito pouco nos dois anos seguintes, e 2013 trouxe o estopim: longe de suas melhores atuações e com um carro que não conseguia controlar o desgaste dos pneus, Schumacher até teve alguns lampejos — como em Mônaco e Valência —, mas acumulou erros e atuações apagadas. Foram cinco abandonos nas sete primeiras corridas do ano, e o alemão só marcou pontos em oito das 20 corridas de 2012. Muito pouco.
Assim, 'Schumi' acabou substituído pelo britânico Lewis Hamilton — na época, com apenas um título — e resolveu anunciar a aposentadoria no fim de semana no GP do Japão, 15ª corrida do ano — que previa 20 etapas.
Com seu melhor resultado pela equipe justamente em 2012, no terceiro lugar do GP da Europa, Schumacher chegou à última corrida do ano sem possibilidades de galgar posições no campeonato — mas com a intenção de finalizar uma carreira brilhante de maneira digna.
A classificação não foi boa para o heptacampeão, que optou por um acerto misto — esperando pela chuva — e largou em 13º. Seu companheiro Nico Rosberg também não conseguiu um resultado muito melhor, com o nono lugar do grid, enquanto a McLaren dominou a primeira fila: Hamilton na pole, Jenson Button em segundo. Naquele fim de semana derradeiro da temporada, Sebastian Vettel tentava garantir o tricampeonato mundial, em batalha que envolvia apenas ele e Alonso.
A ordem do grid, entretanto, mudou completamente assim que a corrida começou. Com a chuva começando a desabar em Interlagos, com apenas dez minutos restantes para o início da prova, todas as equipes optaram pelos pneus macios. Assim, Vettel teve um início terrível e se envolveu em acidente com Bruno Senna, que imediatamente se viu sem saída ao acertar a traseira de Sergio Pérez. Na volta seguinte, Pastor Maldonado perdeu o controle do carro na curva 3 e também foi direto na barreira de proteção.
Nem Schumacher conseguiu escapar da confusão. O alemão teve um pneu furado logo na quinta volta da disputa, o que alterou completamente os planos da corrida e trouxe a necessidade de retornar aos boxes da Mercedes. De volta à pista em último, Michael passou a imprimir um ritmo alucinante para encostar novamente no pelotão.
O caos começou de verdade quando a chuva apertou em Interlagos, o que fez várias equipes optarem pela troca por pneus intermediários. No entanto, a estratégia de permanecer na pista se mostrou acertada, já que a chuva não se intensificou e os pneus para pista seca rendiam mais. Na volta 18, Nico Hülkenberg deixou Button para trás e assumiu a ponta.
Enquanto isso, Schumacher fazia uma corrida de recuperação. Andando em último, o alemão deu um suspiro de alívio quando o safety-car foi acionado na volta 23, o que enfim o aproximou de vez do pelotão. Enquanto isso, a pista secava cada vez mais, e os pilotos já haviam retirado os compostos intermediários.
A relargada só aconteceu seis voltas depois, e Vettel passou a sentir cada vez mais os danos sofridos na largada conforme o asfalto secava. Assim, o alemão foi perdendo posições e viu Kamui Kobayashi e Felipe Massa passarem sem maiores problemas. Na briga pela ponta, Hamilton deixou Button para trás e foi para cima de Hülkenberg, que acabou escorregando e acertando o inglês — que abandonou na volta 54.
Por algumas voltas, como se a Fórmula 1 decidisse que seria necessário realizar um show em sua despedida, Schumacher passou a empilhar ultrapassagens quando a chuva voltou a ficar forte em São Paulo. Aproveitando as paradas dos rivais e calçando pneus intermediários, o heptacampeão reviveu os velhos tempos e escalou o pelotão, assumindo o sexto lugar nas últimas voltas.
Por outro lado, a batalha pelo título se desenrolava de forma dramática para Vettel, que chegou a se encaminhar aos boxes da Red Bull e encontrou a equipe sem os pneus — o alemão estava com um problema no rádio, e os taurinos nem sequer sabiam de sua chegada ao pit-lane.
Por fim, o último ato de Schumacher na Fórmula 1 reservou um roteiro absolutamente inesperado, mas que foi extremamente simbólico na despedida de um gigante. Maior ídolo da carreira do então bicampeão Vettel, Michael cedeu a sexta posição para o alemão nos instantes finais da corrida, o que rendeu — além do tricampeonato mundial — um agradecimento de 'Seb' no momento da ultrapassagem.
No fim, Paul di Resta bateu na reta principal e ativou o safety-car, que não deixou mais a pista até o fim da corrida. Button ficou com a vitória, Alonso e Massa completaram o pódio, enquanto Mark Webber, Hülkenberg, Vettel, Schumacher, Jean-Èric Vergne, Kobayashi e Kimi Räikkönen fecharam o top-10.
"Eu tentei fazer essa missão ser bem-sucedida. Não funcionou desta vez, mas estou muito feliz de terminar por aqui e ter uma vida diferente de novo. Nos últimos meses, houve momentos em que não quis lidar com a Fórmula 1 ou mesmo me preparar para o próximo GP", resumiu o histórico heptacampeão, admitindo o cansaço com a vida de esportista.
A despedida significou um verdadeiro alívio, nas palavras de Schumacher, que já havia admitido a vontade de parar de correr. Em sua última participação, o universo automobilístico brindou o público brasileiro com uma corrida de tirar o fôlego, uma atuação consistente e a cereja do bolo no fim — a passagem de bastão à jovem estrela alemã, que ainda conquistaria mais um título mundial em 2013.
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