Opinião GP: Rivais inertes e direção tosca: GP de Singapura reflete temporada letárgica da F1
O péssimo GP de Singapura resumiu de forma precisa os problemas da temporada 2022 da F1. O campeão vigente nada tem a ver com isso, porém. O holandês faz um campeonato primoroso, mas não deixa de ser sintomático que, em um dia ruim, a concorrência não consiga tirar proveito. E mais, a FIA tem grande parcela de culpa pela apatia que tomou conta do Mundial
Era pouco provável que a Fórmula 1 fosse capaz de reproduzir o enorme campeonato do ano passado. O novo regulamento por si só já seria um entrave, pois uma mudança radical como a que aconteceu em 2022 sempre demanda mais tempo de compreensão, e tudo bem. A história ainda ensina que são poucos aqueles que conseguem emendar sucessos. Portanto, ninguém esperava uma repetição de 2021, só que é certo dizer também que a F1 atravessa um ano altamente desastroso e decepcionante - de vários aspectos. E o GP de Singapura foi um resumo exato de tudo isso.
A começar pela direção de prova. Uma vez mais, ficou claro que a opção de revezar os chefes que comandam as ações na pista foi um erro. Não há uma unidade quanto à tomada de decisão e tudo parece sempre aleatório. Desta vez, tudo começa com a largada atrasada por conta da chuva - a intempérie se deu até mais ou menos 30 minutos antes do horário do início da corrida. Mas aí a direção de Eduardo Freitas decidiu adiar em uma 1h10 o apagar das luzes em Singapura. Preferiu esperar o asfalto praticamente secar para dar início aos procedimentos. É uma incoerência e um exagero. Tal como já havia acontecido em Mônaco.
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BRIEFING: A ANÁLISE DO GP DE SINGAPURA DE FÓRMULA 1
E isso abre algumas questões importantes e a principal delas é: a F1 não confia na eficiência dos pneus de chuva? A Pirelli fornece os compostos intermediários, que foram usados em boa parte da prova em Marina Bay, e também os de chuva extrema, que poderiam ter sido utilizados assim que a tempestade se desfez. Não houve nenhuma informação sobre isso, bem como a tardia permissão do DRS, que tirou muito do poder de movimentação em uma prova de difícil ultrapassagem.
A péssima corrida na cidade-estado só foi mesmo tumultuada por acidentes e quebras. O recurso do safety-car virtual foi usado ao menos três vezes, enquanto a entrada do carro de segurança se fez necessária em duas oportunidades. De novo, a direção demorou para lançar o SC e chegou a liberar a pista com fiscais tentando retirar detritos. Houve ainda o caso de Sergio Pérez.
O mexicano cometeu erros de procedimento em dois momentos com safety-car, quando não obedeceu ao espaço necessário para o veículo de segurança. Os comissários notaram a infração e optaram, inexplicavelmente, em só tomar uma decisão após o fim da corrida. E a confirmação sobre a punição ao piloto da Red Bull veio quase três horas depois da bandeirada em Singapura…
Mas se a direção de prova da F1 é falha, a competitividade da temporada também é insuficiente. No entanto, é preciso dizer antes que: Max Verstappen será bicampeão - basta apenas vencer o GP do Japão - e terá todos os méritos pela alta performance que apresentou durante todo o ano. Cometeu pouquíssimos erros e se aproveitou bem dos vacilos dos rivais. Portanto, o holandês nada tem a ver com a inercia e inabilidade de seus adversários, que é algo que puxa a nota do campeonato muito para baixo. Possivelmente, essa será uma temporada que vai precisar de recuperação.
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Mas não deixa de chamar a atenção o fato de que a concorrência se esvaiu rapidamente em 2022. Ainda não houvesse uma expectativa de um campeonato tão absurdo quanto o do último ano - que na real foi uma enorme exceção -, também é correto afirmar que, diante do começo do ano e das várias reviravoltas, se esperava ao menos um mínimo de combatividade. Só que Singapura mostrou que esse é um ponto que deixou de existir neste ano. Há uma irritante apatia entre os principais adversários da Red Bull e de Verstappen.
Sergio Pérez foi punido, mas manteve a vitória em Singapura (Foto: Red Bull Content Pool)
A Ferrari, que ainda possui um carro competitivo e rápido, não soube aproveitar por completo um raro erro da Red Bull. Pole, Charles Leclerc largou mal e perdeu a primeira colocação para Pérez. Depois, jamais esteve ao ponto de ameaçar a liderança do mexicano. A equipe trabalhou mal nos pits e se viu sem opções. Mais uma vez, provou que, com as pessoas que tem lá, não está pronta para disputar um título na Fórmula 1. E tende realmente a naufragar.
Em outra ponta, há a Mercedes, que entrou no fim de semana cheia de si, e a terceira colocação de Lewis Hamilton no grid era um indicativo de que havia uma esperança de tentar entrar na briga, ainda mais diante dos infortúnios de Verstappen. No entanto, o heptacampeão viveu um dia caótico de muitos erros. George Russell esteve fora de combate também e a decisão arriscada de usar os slicks de forma antecipada foi só a pá de cal em uma etapa calamitosa.
Ou seja, é preocupante quando os rivais sequer tentam tirar proveito das mazelas de quem está à frente. E lá estava a Red Bull no degrau mais alto do pódio em Singapura. Sem dar qualquer chance e tentando acertadamente preencher todas as lacunas, os taurinos souberam vencer quando sua estrela maior esteve fora dos holofotes. Era só isso que faltava aos energéticos, que caminham rumo ao título. Enquanto isso, os adversários e a própria temporada se apagam, inertes, em erros.
Será um duro exercício acompanhar o campeonato até o fim.
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