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Os motivos que levaram a Ferrari de volta às vitórias na F1

Ainda é cedo para dizer que a Ferrari campeã está de volta. Mas esta equipe está diferente...

19 abr 2022 - 22h17
(atualizado em 20/4/2022 às 11h45)
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Charles Leclerc no GP do Bahrein: o começo dos dias melhores?
Charles Leclerc no GP do Bahrein: o começo dos dias melhores?
Foto: Ferrari/Divulgação

No ano passado, escrevi um texto falando que o sol parecia brilhar novamente para a Ferrari (aqui). Após muito choro e ranger de dentes, os italianos pareciam estar em uma rota rumo a mares mais tranquilos. A esperança era o novo regulamento, em que praticamente tudo mudaria e, até aqui, tudo correndo bem, dando alegrias aos diversos tifosi.

Mas este não é um processo aleatório. Muito trabalho foi feito desde 2019, muita pressão foi sofrida e agora os resultados aparecem. Não quer dizer que será assim até o fim do ano e que uma nova dominância vermelha terá início. Mas o ambiente é outro. Vamos ver alguns dos aspectos que levaram ao quadro atual.

Fortalecimento do comando

Quando Mattia Binotto assumiu o comando da Ferrari, a equipe vinha de um período conturbado. Em 5 anos, o time italiano teve 3 comandantes:  Stefano Domenicali ( que não suportou o péssimo inicio da era híbrida), Marco Mattiacci e Maurizio Arrivabene. Este último veio com a benção da Phillip Morris (era executivo do marketing da tabaqueira) e seu estilo autocrata adiantou no início.

Dinheiro nunca foi problema e os recursos técnicos praticamente infinitos. Nisso a Ferrari se fiou. Mas Arrivabene era da política “eu ganho e eles perdem”. A dificuldade em gerir pessoas e principalmente a área técnica foi o seu grande problema, embora tenha comandado uma grande mudança técnica, sob a orientação de Sergio Marchionne, então CEO da empresa. E em 2018, uma guerra surda entre o pitwall e a área técnica, capitaneada por Mattia Binotto, estourou.

Um sinal de que as coisas não iam bem para ele foi justamente quando da definição do segundo piloto para 2019. Arrivabene era favorável da permanência de Kimi Raikkonen, mas a pressão vinda de Louis Camilleri, CEO da marca, pesou para Leclerc. Ali talvez tenha sido onde o seu destino tenha sido definido. Seu padrinho Marchionne havia falecido e perdeu seu grande apoio. Camileri já fazia parte do Conselho de Administração e conhecia bem as entranhas.

Para 2019, Mattia Binotto foi nomeado para o comando da equipe, acumulando o posto de Diretor Técnico. Como até escrevi na época, seu estilo calmo e controlado eram um contraste com o exasperado Arrivabene. A Ferrari tinha o bom SF90, mas o desenvolvimento não seguiu o rumo e a Mercedes ganhou mais um título. Uma grande reestruturação se fazia necessária.

Embora o acumulo de funções tenha sido ruim para Binotto, o que se refletiu no desempenho na pista, ele foi prestigiado. O suíço, que fez sua carreira inteira dentro da Ferrari, fez um trabalho de levantamento e traçou um plano de reconstrução da estrutura técnica e de pessoal.

Seu plano foi comprado por Camileri e principalmente por John Elkann, presidente do Conselho de Administração e homem forte da Exor, holding da família Agnelli (que criou a FIAT), maior acionista individual da Ferrari. A ideia também era trazer tranquilidade para fazer tudo. Em uma entrevista ao New York Times, Elkaan decretou o fim da “era da porta giratória”. Ou seja: Ao invés de sair trocando gente no impulso, vamos dar tranquilidade das pessoas chegarem e desenvolverem seu trabalho.

2020 foi um ano terrível para a equipe. O SF1000 nasceu errado e o motor simplesmente nçao rendia. Mas mesmo assim, Binotto seguiu no timão. A Ferrari contratou gente, investiu na modernização de seu túnel de vento e parque informático, além de um novo simulador. Aquela temporada seria de preparação para o novo regulamento.

O mais importante: nesta temporada, Binotto ficou somente com a responsabilidade de comandar a equipe. E ainda confiou nos técnicos que lá estavam. Se notarmos, os responsáveis pelas áreas são os mesmos. Mas uma série de processos e papeis foram revisados. Afinal, Binotto se definia como um “tutor, para ajudar cada um a entender e desempenhar seu papel da melhor forma possível”.

Com a casa mais arrumada em 2021, os resultados começaram a aparecer. E mesmo a mudança de comando não afetou os caminhos. E Binotto nunca esteve tão fortalecido no comando.

Após muito trabalho, Mattia Binotto consegue ter o gosto das vitórias
Após muito trabalho, Mattia Binotto consegue ter o gosto das vitórias
Foto: Ferrari/Divulgação

Recursos Técnicos

Binotto vendeu ao comando a necessidade de uma renovação de recursos. Um dos motivos que o SF90 naufragou ao longo do ano e impactou no desenvolvimento do SF1000 era a descalibração do túnel de vento e os meios de trabalho, o que impactava na decantada “correlação de dados” entre pista e fábrica.

Além de uma revisão no tunel de vento, foi encomendado um novo simulador, já que o utilizado estava atras da concorrência. Uma forte renovação do parque tecnológico foi realizado.

Junto com novos processos, o SF21 já se aproveitou do túnel de vento recalibrado. E depois de vários atrasos, o novo simulador ficou pronto a tempo de participar do desenvolvimento final do F1-75. Hoje, a Ferrari tem o mais moderno simulador dentre as equipes de F1.

Além disso, houve a valorização da equipe. Em outros tempos, teríamos um febril processo de mudança de caras. Mas Binotto fortaleceu quem estava, embora tenha feito contratações de outras equipes e investido em caras novas. A vinda de Laurent Mekies, que era da FIA (foi considerado até um futuro sucesso de Charlie Whiting), trouxe uma certa tranquilidade na beira da pista.

E até houve a valorização da experiencia. Simone Resta, que havia saído da equipe de modo estranho para a Alfa Romeo, voltou para ajudar no SF21 e depois foi para a Haas. Mais importante: Rory Byrne, um dos arquitetos da era de ouro da Ferrari, que estava escanteado com o pomposo cargo de “consultor”, se envolveu no projeto do F1-75. Afinal de contas, foi um dos caras que trabalhou com o efeito-solo. Por que que o F1-75 está indo tao bem? Então...

Junte ainda o fato do desempenho de 2020 ter permitido à Ferrari ter mais tempo de túnel de vento e computadores para desenvolver o carro em comparação a seus concorrentes diretos. A diferença em relação à Mercedes era na casa de 20% a mais tempo. Aparentemente, isso fez diferença agora...

Motor

A Ferrari teve sob sua suspeita em 2018 e 2019 que algo estava fora do regulamento. Mesmo jurando de pé junto que não havia nada de errado, no inicio de 2020, a equipe fechou um acordo com a FIA a respeito de questões de seu motor e que ajudaria a entidade em vários aspectos neste campo.

Até hoje, não se sabe o que aconteceu ao certo. Se desconfia que os italianos birlavam o controle de fluxo de combustível, mas nada se abriu. O fato é que naquele ano, o motor da Ferrari simplesmente era o mais fraco do grid.

O grupo coordenado por Enrico Gualtieri e Wolf Zimmerman se lançou a criar uma nova arquitetura para a Unidade de Potência e criou uma nova família: o Superfast. Com a ajuda da Mahle (fornecedora de pistões e do bloco), foi criado um novo esquema de queima de combustível, aumentando a potência e com economia. Em paralelo, um pesado trabalho para desenvolver os elementos elétricos para ajudar na recuperação de energia e gestão de potência.

O Tipo 065-6 usado em 2021 já trazia esta filosofia e recuperava parte da distancia aberta em relação aos concorrentes. Se falava em 2020 que a Ferrari estava cerca de 50 a 60cv atrás da Mercedes. Embora não tenha servido para voltar a vencer, os italianos e seus clientes tinham condições de, pelo menos, se defender em condições de mais velocidade.

Os resultados foram tão positivos que permitiram antecipar o uso do sistema hibrido previsto para este ano para o GP da Turquia. Embora o ganho trazido ficassem em cerca de 12cv, permitia Sainz e Leclerc usarem melhor o motor a  combustão e foi decisivo para que o time superasse a McLaren pelo terceiro lugar nos Construtores.

O Tipo 066-7 mostrou sua eficiencia logo cedo nos testes e, como o F1-75 tem um bom rendimento aerodinâmico e mecânico, permite que não seja usado toda a sua capacidade. Se espera que toda a potencia seja liberada na introdução da segunda unidade do ano, que pode acontecer em Miami, e trará uma versão revisada do sistema híbrido, que terá sua especificação “congelada” em setembro.

Este é um resumo de fatores que explicam esta “ressurreição” ferrarista. Como dito antes, é cedo para dar o título ou falar em nova era vermelha. Mas que as bases par um futuro brilhante estão lançadas, é inegável.

Uma imagem que não se via há muito: uma Ferrari comemorativa
Uma imagem que não se via há muito: uma Ferrari comemorativa
Foto: Ferrari/Divulgação
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