Peso e desidratação são temores de pilotos no GP do Bahrein
O Grande Prêmio do Bahrein de Fórmula 1 será disputado à noite pela primeira vez, mas o debate a respeito do desgaste físico dos pilotos na prova em Sakhir não perder força por conta da opção da organização. Mesmo com temperaturas elevadas, há casos de pilotos dispostos a correr abaixo do peso ou menos hidratados para diminuir o peso do carro – e, consequentemente, ganhar tempo.
Com 59 kg, Felipe Massa é um dos pilotos mais leves do grid atual, enquanto os alemães Nico Hulkenberg (Force India) e Adrian Sutil (Sauber), com 75 kg, estão entre os mais pesados. Com o uniforme de corrida dos pilotos (macacão antichamas, meias, luvas, balaclava, sapatilhas, capacete e Hans), os pilotos ganham mais cerca de 5 kg. O próprio site oficial da Fórmula 1 admite que a massa dos pilotos causa impacto nos tempos de volta.
Em Sakhir, por exemplo, cada 10 kg a mais em um conjunto carro-piloto pode adicionar 0s4 por volta no circuito, que tem 5,412 km. Parece pouco, mas o primeiro treino livre para o GP da Malásia teve os 11 pilotos mais rápidos andando dentro do mesmo segundo. Como o peso mínimo dos conjuntos subiu de 642 kg (em 2013) para 691 kg (2014), cada piloto e cada equipe se viram como pode para deixar os carros no limite do peso, para conseguir leveza e competitividade.
Para se adaptar à nova rotina, Jenson Button (McLaren) perdeu peso no começo do ano, em cenário batizado pelo jornal espanhol Marca de “operação biquíni”. Ele diz ter perdido 1 kg de seus 71 kg, mas a imprensa afirma que ele chegou a 66,8 kg antes. Depois de cinco dias na Malásia, sofrendo com a umidade em um campo de treinamento ao lado do triatleta Chris McCormack, ele se disse aliviado por não sofrer mais com o problema de peso que acreditava sofrer antes.
“Eu estava treinando com quarto atletas profissionais, e aquilo foi muito duro – mas muito bom”, disse Button, que treinava quatro horas por dia. “Eram três horas pedalando, uma nadando e alguma corrida de vez em quando. Era muito bom: uma atmosfera muito boa, uma dieta apropriada, com toda a informação nutricional a respeito de carboidratos, gordura, proteína”, completou o britânico, afirmando não ter problemas com peso e poder comer sem traumas.
O campeão de 2009 admitiu, no entanto, que alguns pilotos estão sofrendo para perder peso. É o caso de Sutil, um dos pilotos mais pesados do grid. “Estou certo de que eles (pilotos pesados) estão se desidratando, porque é o que eu faria – vá para a sauna e não beba ou coma nada até o treino de classificação. Você toma o café da manhã sem carboidratos, apenas com coisas que são absorvidas rapidamente”, sugeriu, lamentando por pilotos que tenham que passar por tal regime.
Na Mercedes, Lewis Hamilton sofreu para manter o peso atual – acredita-se que cerca de 72 kg com o uniforme. “No momento, tenho certeza de que é hardcore o que estão fazendo”, disse o britânico, ex-companheiro de Jenson Button na McLaren. “Você vai para o treino de classificação desidratado. Ouvi que havia gente fazendo isso, se exaurindo. No dia seguinte, você se hidrata porque a corrida é diferente. Somos quase como jóqueis”, analisou.
O britânico da Mercedes acredita ser bom ter um desafio para o começo da temporada, mas afirma: não quer se tornar um anoréxico. “É legal, desde que você não entre em uma área de riscoSe alguém me dissesse para chegar ao peso de Massa, por exemplo, seria uma burrice”, disse. “Mas no momento está tudo bem – o carro tem um peso razoável, e nós estamos aptos a continuar bem dentro do limite de peso. Mas para pilotos pesados, não posso imaginar como é. Há poucos que eles possam fazer, fisicamente falando, antes de cortar fora um braço”, completou, jocoso.
Sutil é um dos casos que se enquadra nessa lista de pilotos pesados que Hamilton destacou. O alemão da Sauber admitiu que disputará o Grande Prêmio do Bahrein sem garrafas d’água no carro. A estratégia já foi adotada na Austrália pelo piloto da Sauber, cujo carro já tem cerca de 20 kg a mais que o esperado.
“No Bahrein, serão cerca de 90 minutos de pilotagem sem beber”, disse Sutil. “Normalmente, você tem um 1 l, ou 1,5 l na Malásia para beber, mas na minha situação, você está falando de 300 ou 400 kg (soma de todo o peso por volta ao fim da prova). Isso é muito. Você tem que pensar na garrafa vazia, que pesa 500 g”, destacou.
Assim como Button e Hamilton, Sutil se mostra preocupado com a repercussão negativa que um piloto desidratado pode ter na Fórmula 1, uma vez ser sabido que atletas em condições adversas têm desempenho inferior. “Você pilota a 300 km/h nas retas e precisa estar em boas situações física e mental”, disse. “Não é mais tão fácil. Você não pode garantir que cada piloto esteja 100% do ponto de vista físico.”