Pilotos criticam possível saída de pista clássica da F1
Com inclusão de novas sedes, Spa-Francorchamps pode ficar de fora da F1 já a partir de 2023. Pilotos se manifestam em favor da pista belga
A Fórmula 1 começa a se preparar para o retorno após as férias de agosto. A volta da categoria se dará no lendário circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica. Mas não há garantias de que a F1 retorne para Spa após a etapa de 2022. Isso porque o contrato da pista com a F1 expira esse ano e ainda não há certeza alguma sobre uma renovação.
O circuito passou por reformas recentemente, ao custo de 80 milhões de euros. Áreas de escape foram ampliadas, inclusive na curva Eau Rouge, que também ganhou nova arquibancada. A estrutura no entorno do autódromo também foi revista para diminuir o problema de trânsito na região.
A reforma visa melhorar a segurança da pista e torná-la apta a receber também corridas de moto. E, é claro, tenta ser um trunfo para convencer a Liberty Media a renovar o contrato da organização do GP da Bélgica com a Fórmula 1. Mas um novo acordo não deve sair com facilidade.
Em um esforço de abraçar novos mercados, a F1 vem diminuindo cada vez mais a quantidade de corridas na Europa, sua base. Para o ano que vem, serão três etapas só nos Estados Unidos (Austin, Miami e Las Vegas), e outras quatro no Oriente Médio (Barein, Arábia Saudita, Abu Dhabi e Catar). A África está no radar da categoria para uma prova.
A categoria não pretende fazer mais do que 24 corridas no ano que vem, e o calendário parece estar se fechando. Além da inclusão de Las Vegas e do Catar, já confirmados, existe a possibilidade de um retorno à China - se as restrições para a covid assim permitirem - e rumores sobre uma prova na África do Sul já em 2023.
Como resultado dessa mudança de foco, a França já perdeu seu GP para o ano que vem. Pistas até então intocáveis, como Silverstone e Mônaco, tiveram relações estremecidas com os promotores da categoria e viram o futuro na F1 ameaçado. A Bélgica pode ser a próxima “vítima”, caso seja dado um ok para China e África do Sul.
“Minha pista favorita no mundo todo”
Ao contrário de Paul Ricard, na França, que divide opiniões e pode não deixar saudades em muita gente, Spa-Francorchamps é quase uma unanimidade. A pista é tida como uma das mais técnicas e desafiadoras para os pilotos. Uma eventual saída do calendário seria bastante sentida por pilotos, equipes e fãs da categoria. E alguns pilotos já começaram a se manifestar de forma contrária à possível não renovação.
O atual campeão Max Verstappen, apesar de correr com bandeira holandesa, é nascido na Bélgica e conta com grande torcida no país. Nos últimos anos, se tornou comum a imagem de arquibancadas lotadas pelo exército laranja na pista belga. Para ele, fã declarado de Spa, a retirada do circuito seria algo a se lamentar.
“Seria uma pena perder Spa. É minha pista favorita no mundo todo, e até pelas mudanças recentes que fizeram em áreas de escape essas coisas”, afirmou ao portal Autosport. “Acho que é uma pista incrível em um carro de Fórmula 1, ou em qualquer carro na verdade, com todas as curvas de alta velocidade e a fluidez que ela tem.”
Lando Norris, da McLaren, também lamentou a possível saída de Spa do calendário e foi direto ao “culpar” o dinheiro vindo de outras partes do mundo: “Vou ficar triste [se Spa for tirada]. Acho que muitas coisas são só pelo dinheiro hoje em dia, o que é a grande questão. É um negócio”, disse o inglês, também ao Autosport.
Norris, que sofreu um forte acidente na Eau Rouge durante a classificação de 2021, afirma que seria “uma pena” perder Spa, que ele considera “uma das pistas mais legais da temporada”. Ele acredita que pistas como Spa e outras clássicas deveriam ter lugar cativo na categoria.
“É uma corrida histórica para a Fórmula 1. É o mesmo que Mônaco, que, pelo que sei, nem paga para estar no calendário”, afirmou. “O mesmo vale para Monza e outras assim. Sinto que deveriam estar enquanto houver Fórmula 1.”
Sainz sugere rodízio
Carlos Sainz, da Ferrari, se mostrou um pouco mais compreensivo que os colegas, ainda que também queira continuar correndo em Spa e na França. Ele entende que o peso do dinheiro vindo de outras partes do mundo se torna importante demais para a F1 abrir mão, e sugere um rodízio entre os dois países europeus para que a categoria siga presente em ambos, mesmo que em menor frequência.
“Entendo que há um equilíbrio a ser encontrado, porque, no fim das contas, acho que todos nós amamos ir à França e à Spa, mas, ao mesmo tempo, o esporte está crescendo muito”, disse ao mesmo veículo. “Imagino que haja muitos lugares que estejam pagando bastante dinheiro para ser parte da Fórmula 1. E é difícil, de um ponto de vista de negócio, dizer não para isso.”
E segue: “Acho que o melhor seria um rodízio, e entendo que talvez a França e Spa não tenham como bancar estar no calendário todo ano, mas espero que pelo menos uma vez a cada dois ou três anos nós possamos visitar Spa em um carro de F1. Só desejo que mesmo com Vegas, África do Sul ou o que quer que esteja vindo, nós ainda possamos voltar à França e a Spa de vez em quando para continuar aproveitando esse tipo de circuito.”
O GP da Bélgica está programado para o próximo final de semana. As atividades de pista começam na sexta-feira (26), com os treinos livres 1 e 2, às 09h e às 12h, respectivamente. No sábado (27), o treino livre 3 é às 08h, enquanto a classificação acontece às 11h. A corrida é no domingo (28), às 10h.
Por enquanto, a previsão do tempo indica boas chances de chuva. Só esperamos que a corrida aconteça, ao contrário do ano passado. E que continue acontecendo nos próximos anos...
