Porque mandar Binotto embora da Ferrari pode ser um erro
Mais uma vez a demissão de Mattia Binotto é dada como certa. Após um trabalho árduo de reestruturação interna, é hora de mandá-lo embora?
Já fui jocosamente apelidado de “Advogado de Michael Masi” após todo o rolo de Abu Dhabi ano passado. E agora vou ser mais um defensor de causa perdida. Após ver as notícias desta terça (15/11) que a saída de Mattia Binotto do comando da Ferrari é dada como certa. Vários nomes aparecem, sendo o de Frederic Vasseur, atualmente na Sauber/Alfa, como o principal. Mas aí que está: é hora de trocar Binotto?
Quando ele assumiu o posto de chefe de equipe, escrevi que ele era uma bomba-relógio. Era estritamente um homem da organização. Fez sua carreira inteira na Ferrari (em uma entrevista este ano, falou que se não fosse a Ferrari talvez fosse carpinteiro) e conseguiu ir crescendo, saindo da equipe de testes até chegar ao comando do time de F1.
Binotto veio com uma missão de lançar as bases de uma nova Ferrari, com carta branca do Presidente Louis Camileri e principalmente de John Elkann, Presidente do Conselho de Administração da Ferrari (acumulou a direção por algum tempo) e representante do principal acionista da empresa. A gestão de Maurizio Arrivabene em termos organizacionais não foi das melhores, criando verdadeiro cisma interno.
Os resultados em pista foram vindo aos poucos. 2020 foi um ano terrível por conta do “acordo secreto” com a FIA pela questão do motor. 2021 foi mais um passo dadas as restrições de regulamento. Mas foi feito um trabalho de reorganização interna, chegada de novas pessoas e recomposição técnica (recalibração e modernização do túnel de vento, construção do novo simulador).
Olhando o copo meio cheio, o F1-75 foi um belo salto. Até agora, não se confirma, porém, é dada como quase certa a participação de Rory Byrne, um dos arquitetos da era Schumacher, e que estava como um consultor encostado. O carro andou bem desde o início e teve sua chance. Só que a Ferrari se perdeu em suas falhas. A opção por ter mais potência abriu problemas de confiabilidade e as estratégias em certos momentos foram, no mínimo, questionáveis.
Binotto fala volta e meia que a Ferrari precisa construir uma mentalidade vencedora. John Elkann, em entrevista, disse que o objetivo era acabar com a filosofia de “porta giratória” na equipe, dando tempo para o desenvolvimento de um projeto de bases sólidas.
A Ferrari é imediatista. Mas é inegável que está em melhor forma do que anos atrás. Embora se questione bastante a gestão de pessoas, Binotto conseguiu dar um norte para a Ferrari. Ajustes são necessários? Sim. Mas a base está pronta. Tirá-lo agora pode ser uma ação precipitada. Mal ou bem, Binotto acaba por receber boa parte das críticas e proteger o seu pessoal.
A pressão para retirá-lo aumenta cada vez mais e não será a primeira vez que acontecer. Nomes como os de Laurent Mekies (atual Diretor Esportivo e que assume o lugar de Binotto quando este não vai as provas) e Antonello Coletta (responsável pelo programa GT e WEC) aparecem e seriam soluções caseiras. Frederic Vasseur seria um bom nome também.
Agora, a bola está nas mãos de Benedetto Vigna (CEO) e John Elkann. Este último foi o patrocinador da ascensão de Binotto e seu fiador até aqui. Qualquer mudança tem o seu OK. A negativa vinda da Ferrari esta semana tem sabor de “frigideira ligada”. Em futebol, quando há uma coisa do tipo, diz-se que o “treinador está prestigiado” e logo depois é demitido.
Para muitos, Binotto é um sobrevivente no posto. Já entrou no cargo sendo devidamente metralhado e aguentou firme. Mandá-lo agora é justificável, porém não é recomendável. Trabalhar na Ferrari é estar à beira de um vulcao em erupção. Mas agora é preciso sangue frio.