Preso na AlphaTauri, Gasly é triste caso de quem não vai receber uma segunda chance
Pierre Gasly faz o necessário para merecer uma segunda chance na Red Bull. Ainda assim, não a recebe. O francês parece fadado a seguir sofrendo as consequências de um 2019 decepcionante
Pierre Gasly virou um nome altamente valorizado no mercado de pilotos. O francês é talentoso e faz por merecer um carro de ponta, mas está preso até segunda ordem na AlphaTauri, que segue incapaz de ser muito mais do que uma equipe competente do pelotão intermediário. É uma pena: o único grande momento de fraqueza de Pierre, o primeiro semestre de 2019, parece ter fechado portas na Red Bull em definitivo.
'Em definitivo' talvez seja uma expressão forte demais, mas essa é certamente a impressão de momento. Gasly entregou um 2020 de erros raríssimos na AlphaTauri e repete a dose em 2021. Se a equipe de Faenza serve para mostrar serviço e ser convincente antes de ir para a Red Bull, Pierre já cumpriu a tarefa com louvor. O problema é que uma série muito específica de circunstâncias joga contra.
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A primeira delas é que o status da AlphaTauri, antiga Toro Rosso, mudou com o passar do tempo. Oficialmente, os dirigentes se referem à escuderia como uma irmã da Red Bull. Ou seja, tentando se distanciar da condição de nanica do grid e se estabelecar como uma escuderia capaz de caminhar com as próprias pernas. Isso implica em ter um piloto capacitado para capitanear essa evolução nas pistas, e Gasly se encaixa como uma luva, tendo talento comprovado. A questão é justamente que esse talento parece ser grande demais para ser desperdiçado em lutas pelo sexto lugar, isso quando tudo dá certo.
A segunda circunstância é, ainda, o gosto amargo de 2019. Gasly já tinha ido bem na Toro Rosso em 2018, mesmo que em menor escala, e dava sinais de que poderia ser um substituto à altura de Daniel Ricciardo. O tempo passou e, com Pierre sendo trucidado por Max Verstappen, optou-se por chamar Alexander Albon para a vaga já no meio do ano. A decisão de demitir no meio do ano foi altamente questionada, mas muito mais por mostrar a Red Bull como um triturador de carne. Do ponto de vista dos resultados, fazia sentido se livrar de um cara que em certas ocasiões nem conseguia pontuar direito.
Gasly melhorou claramente de 2019 para cá, mas isso não satisfaz a Red Bull ainda. A lógica é simples: se não deu certo antes, como garantir que vai dar certo agora? Max Verstappen também melhorou nos últimos anos e será um desafio ainda maior na disputa interna. Além disso, a adaptação de Faenza para Milton Keynes pode ser turbulenta (de novo).
O azar de Gasly é que, até então, ninguém tinha sofrido tanto com Verstappen. A comparação do francês em 2019 foi Daniel Ricciardo, que conseguia pressionar o holandês. O tempo foi gentil com Pierre: Alexander Albon fez um trabalho quase idêntico no sentido de apenas coletar migalhas, sofrendo no segundo carro. Sergio Pérez, em que pese a garantia de que terá até o fim de 2022 para mostrar serviço, ainda tem um grande déficit também.
Verstappen, verdade seja dita, virou um piloto próximo do imbatível dentro da Red Bull. Se três pilotos de bom nível - Gasly, Albon e Pérez - passam um sufoco dos grandes, quem será capaz de brigar de igual para igual? Cabe lembrar que Daniel Ricciardo, normalmente considerado ainda melhor do que esses outros três, já ficou bem atrás de Max em 2018, ano de maior amadurecimento.
Gasly se queimou por ser comparado com um gigante, mas que na época ainda não era reconhecido como tal. Sabendo como a Red Bull funciona, como uma teimosia em dar o braço a torcer, é difícil de crer que a opinião do consultor Helmut Marko mude tão facilmente. Estar queimado é estar queimado, ponto.
A carreira de Gasly na F1 não está acabada. O francês ainda tem chance de ir para uma equipe que o valorize, que o veja como um verdadeiro piloto de ponta. Até lá, o jeito é aturar a condição de líder de uma equipe caçula da F1.