Red Bull domina 2022, mas já parte para 2023 com princípio de crise para lidar
O GP de São Paulo de F1 revelou que nem tudo são flores e festa dentro da garagem da campeã Red Bull em 2022. Apesar do sucesso nos Mundiais de Pilotos e Construtores, há um ressentimento grave entre a dupla de pilotos - algo que já coloca alguns pontos de interrogação sobre como os taurinos vão lidar com uma eventual disputa interna em 2023, sem contar a chance que abre para os rivais
Depois de ganhar tudo na Fórmula 1 2022, a Red Bull se vira para apagar um incêndio de grandes proporções que tomou conta de sua garagem. Diriam os mais maldosos que há problemas no paraíso. De fato, os ânimos dentro dos boxes taurinos se exaltaram de tal forma nas voltas finais do GP de São Paulo que o time precisou dar um passo para trás. Só que agora ficou evidente que há arestas que deixaram de ser aparadas no tempo devido e que estão de volta, cobrando um preço alto nesta reta derradeira da temporada.
Isso porque a turbulência que a equipe das bebidas energéticas enfrenta neste momento brotou absolutamente do nada, em uma etapa em que os rubro-taurinos se viram em dificuldades e longe de qualquer chance de vitória. A insatisfação de Max Verstappen com Sergio Pérez - que parece estar guardada há meses - foi uma surpresa e revelou um lado amargurado do bicampeão. Que, aliás, ainda segue sem muita explicação, mas com um potencial altamente explosivo.
Tudo começou já na parte final da corrida em Interlagos. Max vinha sustentando uma discreta sexta posição, depois que o toque com Lewis Hamilton, ainda no início da prova, o obrigou a fazer uma parada extra nos pits. Pérez, por sua vez, buscava ganhar pontos para tentar não perder tanto em relação a Charles Leclerc, rival na luta pelo vice, que figurava em quarto.
Foi então que a Red Bull pediu a Verstappen que cedesse a colocação ao companheiro de equipe, pensando no Mundial de Pilotos. O dono do carro #1 ignorou esse pedido e um outro logo na sequência. Ao cruzar a linha de chegada, o holandês ouviu do engenheiro Gianpiero Lambiase: "Max, o que houve?"
Foi aí que o campeão escancarou toda a sua animosidade em uma mensagem de rádio que agora já entra para a história da F1. "Eu já disse da última vez. Vocês não me peçam nada disso de novo, ok? Fui claro o suficiente daquela vez. Eu dei minhas razões e continuo a defendê-las", disse, irritado.
Mas isso nem foi o pior. A bronca de Verstappen abriu margem para uma série de especulações sobre as tais razões. Quem primeiro levantou a lebre foi a imprensa holandesa: o motivo da recusa de Max tinha a ver com o acidente protagonizado por Pérez durante a parte final da classificação em Mônaco - que acabou tirando a chance do #1 em cravar a pole. Sergio venceu aquela corrida e ainda teve o contrato renovado logo depois. O caso fica melhor: ainda segundo os jornalistas da Holanda, o mexicano assumiu a manobra aos chefes Christian Horner e Helmut Marko.
Do outro lado, Pérez também não poupou o colega de Red Bull. Ainda no rádio, enquanto voltava aos boxes, o #11 afirmou que a atitude "mostrava quem realmente era Max". Depois, o mexicano ainda disparou: "Ele venceu dois campeonatos graças a mim."
Fogo no parquinho, diriam sobre a discórdia e o jogo.
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Claro que a equipe austríaca correu para apagar as chamas e minimizar o episódio. Horner saiu na frente e afirmou que a questão toda seria resolvida internamente, enquanto Marko garantiu que o bicampeão vai ajudar o companheiro em Abu Dhabi. Tudo dentro do esperado. Max, inclusive, baixou o tom horas mais tarde. Só que há muito em jogo agora e no futuro.
De toda a forma, o caso é que, enquanto Verstappen já carimbou a faixa de campeão há semanas, a luta pelo vice-campeonato continua intensa entre Pérez e o ferrarista Leclerc. Ambos vêm se revezando na segunda colocação há algum tempo. Neste momento, não há diferença entre eles em número de pontos: são 290 para cada lado. O monegasco acaba tendo vantagem por ter vencido mais vezes em 2022. O placar aponta 3 x 2 para o dono do carro #16. Os dois também possuem o mesmo número de pódios (10), enquanto Charles tem mais poles, são nove contra apenas uma do mexicano.
Portanto, Pérez precisa de todos os pontos possíveis para tentar garantir algo inédito na história da Red Bull: fechar um campeonato com uma dobradinha, além do Mundial de Construtores - que também já foi assegurado neste ano. Já para a Ferrari, a conquista de Leclerc soaria como um pequeno consolo, especialmente em um ano errático que a equipe e o próprio piloto viveram. Além disso, afastaria uma ameaça da Mercedes ao vice da escuderia.
Então, diante desse cenário, entende-se bem a frustração da Red Bull em Interlagos. E a ânsia para que a tensão dentro das garagens diminua. A verdade é que a etapa final da temporada 2022 será um enorme teste para os taurinos. Não só de resistência a um momento conturbado, mas também de sobrevivência para o futuro.
Os energéticos dominaram o campeonato porque correram em unidade, tendo Verstappen como um líder inquestionável. Essa opção fortaleceu e foi decisiva para a conquista dos títulos. O objetivo agora parece claro: esfriar a cabeça e anular qualquer fagulha, ou isso vai se refletir em 2023 de maneira implacável.
A crise já está instaurada, e a Red Bull precisa ser certeira. Porque há, de fato, problemas no paraíso. Talvez a longa pausa até os testes do ano que vem faça bem aos taurinos. E todo o cuidado é pouco, pois o próximo campeonato não parece que será tão cômodo quanto esse que se prepara para terminar em Abu Dhabi no fim de semana.
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