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Retrospectiva 2021: Caos, dramas e cabeças fumegantes: (quase) tudo que deixa saudade

A rica temporada 2021 da Fórmula 1 não só reservou uma das maiores disputas de título dos últimos tempos, como também produziu uma das melhores histórias de discussões entre equipes, dramas de pista, acidentes, reviravoltas e um campeonato que quase acaba no tapetão

30 dez 2021 - 04h15
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A melhor temporada em muitos anos na F1 vai deixar saudade
A melhor temporada em muitos anos na F1 vai deixar saudade
Foto: Red Bull Content Pool / Grande Prêmio

Não será fácil esquecer a Fórmula 1 2021. Toda a bagunça e a tensão das voltas finais do decisivo GP de Abu Dhabi só reforçam a noção de que essa foi uma temporada de extremos e a melhor em muitos anos. De um lado, um campeonato surpreendente, com todos os elementos que uma disputa titânica precisa ter. De outro, dias sombrios, de decisões equivocadas e ruídos demasiadamente altos. Sem contar que a disputa toda quase foi parar nos tribunais. Por isso, a tarefa aqui é tentar entender a razão pela qual, lá no fundo, não queremos que esse Mundial acabe, muito embora exista o dever de apontar tudo aquilo que precisa ser apagado da memória ou, ao menos, revisado.

E um dos principais pontos que fizeram desta uma grande temporada curiosamente recai sobre a poderosa Mercedes. O fato de a multicampeã não ter o melhor carro em grande parte do tempo provocou um interessante abalo na hierarquia da F1. Que ficou ainda melhor porque a Red Bull viveu uma ascensão gloriosa ao acertar em cheio o desenvolvimento de seu projeto.

Como consequência, a batalha entre as duas gigantes do grid proporcionou o épico duelo entre Max Verstappen e Lewis Hamilton. Um confronto de gerações, impulsionado por equipes que trabalham de forma completamente diferente, o que criou também uma das rivalidades mais divertidas do ano: a dos chefes dos dois times.

Na pista, o lado impulsivo e agressivo de Verstappen bateu de frente com a experiência e a serenidade de Hamilton. O resultado: batalhas acirradas, roda a roda, acidentes e jogos de todo o tipo.  A briga foi tão intensa que gerou um suspense que durou 22 corridas. E até no fim, ainda é difícil dizer qual dos dois foi o melhor.

Dá para pedir mais?

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O duelo incrível entre Verstappen e Hamilton foi o ponto mais alto de 2021: teremos saudades (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

Da imprevisibilidade ao drama

Simplesmente, foi impossível prever qualquer coisa em 2021, tamanho equilíbrio e desempenho dos dois principais pilotos e suas equipes. A cada etapa um novo episódio, uma história diferente, louca, maluca. Foi assim, por exemplo, que a Fórmula 1 testemunhou corridas tradicionalmente insossas se tornarem grandes campos de batalha.

O criticado GP da França se transformou em um empolgante e tenso jogo de estratégicas que desafiou a lógica. A desalmada Sóchi viu na chuva uma peça valiosa para mexer com protagonistas e coadjuvantes - que se misturaram. Algumas provas, inclusive, saíram tanto do roteiro original que fizeram até os figurantes brilharem. Foi o caso da Hungria, na incrível vitória de Esteban Ocon, da Itália, onde a McLaren voltou a vencer - e com um Daniel Ricciardo que vinha sendo a grande desilusão da temporada.

Por isso, é tão complicado dizer adeus a corridas como a do Azerbaijão, com seu botão mágico e o triunfo do escudeiro Sergio Pérez, ou da Inglaterra, com um acidente que pareceu que durou as 52 voltas daquela prova. Ou ainda a da Hungria, com um boliche histórico de Valtteri Bottas e uma largada em que só Hamilton apareceu no grid.

Ainda houve capítulos de tensão e raiva como o não GP da Bélgica, mas que foi precedido por uma classificação de tirar o fôlego, com um George Russell e sua Williams na segunda colocação, quase pole. A F1 também viveu o bastante para testar as infames corridas de classificação - e verdade seja dita, a última delas, em Interlagos, valeu por todo o esforço do ano.

Neste tópico, é importante citar as estreias de Catar e Arábia Saudita. Apesar das ressalvas que giram em torno da entrada dos dois países no calendário, é impossível não colocar aqui o drama vivido nessas corridas. Losail acompanhou o retorno de Fernando Alonso ao pódio, enquanto que, em Jedá, a F1 testemunhou a prova mais confusa do ano, com direito a três largadas, acidentes e um brake-test de Verstappen (!). Tudo isso em um traçado que brigou com o perigo na combinação de alta velocidade com curvas cegas.

Talvez não deixe tanta saudade assim.

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Max Verstappen fez brake-test em cima de Lewis Hamilton em Jedá: maior doidera da temporada (Foto: Lars Baron/Getty Images/Red Bull Content Pool)

Coadjuvantes de luxo

Enquanto a briga pelo título pegava fogo a cada corrida, com reviravoltas inesperadas, a disputa pelo meio do pelotão se tornou também interessante e deixou um gostinho de quero mais. 2021 acompanhou a solidez de Pierre Gasly, carregando nos ombros uma errática AlphaTauri. Sozinho, o francês fez mais 100 pontos para a equipe caçula dos energéticos, algo inédito. Ainda teve um Lando Norris amadurecido, mas que precisou superar a agonia de uma decisão equivocada em uma hora decisiva. Mesmo assim, o inglês liderou a McLaren com classe.

Também será difícil de esquecer de Carlos Sainz e da bravura com que enfrentou o primeiro ano de Ferrari, diante de um velocíssimo Charles Leclerc. Como prêmio, terminou o ano em quinto, atrás apenas dos pilotos de Mercedes e Red Bull.

Entre os veteranos, Fernando Alonso recuperou o espírito combativo com um pódio redentor, enquanto cultivou uma rara amizade na mesma garagem. Sebastian Vettel teve seus deslizes, mas cresceu enormemente ao se mostrar consciência social e em entrar lutas importantes. Kimi Räikkönen se despediu de vez da F1, mas saiu pela porta da frente.

RETROSPECTIVA 2021

Pierre Gasly subiu ao pódio do insano GP do Azerbaijão de F1 (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

"Galinha" e "Fodam-se todos": a rivalidade que a gente gosta

É claro que uma disputa tensa e parelha gera algumas das melhores tretas que se pode imaginar. E 2021 não falhou nessa missão. Só que o aconteceu nesta temporada foi algo inédito e que deve perdurar por um bom tempo ainda. O confronto que começou na pista, entre pilotos, e que foi ganhando contornos épicos ao longo do ano também foi apimentado pela extrema rivalidade dos chefes das duas equipes. Christian Horner (Red Bull) e Toto Wolff (Mercedes) foram para a luta aberta - tanto nos microfones, quanto na salinha dos comissários. E até mesmo no pit-lane.

O polido Wolff, desta vez, não foi capaz de manter a serenidade diante das derrotas - e nem mesmo nas vitórias. Quem não gostou de ver o austríaco mandando o dedo após ultrapassagem de Hamilton em Verstappen no Brasil? O dirigente chegou a quebrar um fone de ouvido, entre os impropérios que teceu em determinados momentos do ano. Puro suco do entretenimento.

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Aliás, o Toto 'sem filtro' iniciou o ano já no ataque, dizendo que tinha pouco respeito por muita gente do paddock. As suspeitas recaíram sobre Horner, que não se fez de rogado. Recrutou o adversário diversas vezes até a entrevista em o chamou de covarde e manipulador. Que ano!

Entre muitas acusações e críticas, que foram de questões técnicas a comportamentais, digamos assim, os dois mandatários se colocaram sob os holofotes e roubaram a cena.

Fosse um jogo da discórdia, Horner e Toto sairiam com muitas plaquinhas. Gostamos!

Comemoração de Toto Wolff no Brasil demonstrou o nível de tensão na batalha pelo título. E Horner não deixou de cutucar (Foto: Reprodução)

Cabeças fumegantes

A verdade é que muito do que aconteceu em 2021 foi resultado da pressão. Uma enorme pressão que não foi um privilégio apenas dos dois duelistas ou de suas equipes. Essa cobrança também recaiu sobre quem rege o esporte e tem como função fazer valer o regulamento. Mas numa briga tão quente e extrema esse trabalho também ganhou as manchetes e não foi no bom sentido.

Cada qual defendendo os seus, Red Bull e Mercedes não deixaram passar nada, tudo foi visto e revisto em detalhes. Foi desde uma despretensiosa dúvida técnica até um aperto por decisões dos comissários. Houve até uma tentativa de criar evidências para defender uma sanção.

Na pauta da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), entraram questionamentos quanto a asas traseiras e dianteiras, efeitos aerodinâmicos, motores, punições diversas e até multa por toque em carros rivais. O telefone do diretor de prova, Michael Masi, nunca foi tão requisitado. Aliás, o fato dele ser tão solicitado já explica boa parte dos problemas vividos em 2021.

No Brasil, quando os comissários levaram quase 24 horas para decidir sobre uma irregularidade técnica, ficou claro que algo não estava certo. A FIA pecou em situações simples e complexas e pagou um preço alto. A controversa final do campeonato acabou por colocar em dúvida o trabalho de quem deveria saber e aplicar as regras. Foi tão absurdo que quase que a decisão termina nos tribunais.

A Mercedes desistiu de recurso sobre tudo aconteceu em Abu Dhabi, mas não deve abrir mão da pressão por mudanças. E tudo isso pode até parecer do jogo, mas, em 2021, ultrapassou demais os limites do razoável. Não fará falta.

Michael Masi esteve no centro da polêmica sobre o GP de Abu Dhabi (Foto: FIA)

De qualquer jeito, o chefão da Red Bull estava certo quando disse que nem o melhor roteirista de Hollywood poderia ter escrito uma história mais incrível quanto o que se viu em 2021. Você que lute, 2022.

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