Retrospectiva 2021: Ferrari vence McLaren com dupla forte e motor envenenado
Ferrari deslanchou no fim da temporada com crescimento e entrega esperada de sua dupla de pilotos e o último motor a ser atualizado
Durante boa parte da temporada 2021 do Mundial de Fórmula 1, a luta pelo terceiro lugar do campeonato de Construtores, entre McLaren e Ferrari, foi tão apertado quanto a disputa entre Mercedes e Red Bull pelo título. No fim das contas, virou uma inesperada lavada para os italianos. Mas por quê? É o que a retrospectiva do GRANDE PRÊMIO tenta entender melhor.
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Na realidade, dois fatores se destacam com relação a todos os outros no distanciamento entre Ferrari e McLaren no final de 2021. Entre os muitos meandres e a infinidade de nuances do que acontece nos confins de uma equipe de Fórmula 1, nem sempre é tão complicado entender os motivos de uma virada.
Como dito anteriormente, as razões são duas. Uma delas, a mais evidente, é a dupla de pilotos. Os dois times entraram a temporada com o jovem de seu futuro - Charles Leclerc para a Ferrari e Lando Norris para a McLaren - e pilotos experientes assumindo o assento na nova equipe - Carlos Sainz de vermelha, Daniel Ricciardo de laranja. A questão é como o desempenho transcorreu.
Os quatro terminaram em posições sequenciais no Mundial de Pilotos - quinto ao oitavo lugares. Apesar de ter sido o único dos quatro a vencer uma corrida, o GP da Itália, Ricciardo destoou. Foram 115 pontos e nove corridas fora do top-10. Leclerc marcou 159 e não pontuou quatro vezes. Sainz e Norris, respectivamente com 164,5 e 160 pontos, só ficaram fora da zona de pontuação em dois GPs.
Conhecedor do time há bastante tempo, Norris era favorito para liderar a McLaren mesmo em 2021, mas colocar 45 pontos e andar sempre à frente foi além da conta. É impossível ser indulgente com Ricciardo sobretudo quando se olha para Sainz. Logo de cara, no primeiro ano na nova equipe, o espanhol mostrou que tem vida longa na Ferrari. Ficou junto de Leclerc no campeonato ao longo do ano, evoluiu até em habilidades onde o monegasco é favorito, como em classificação. E conseguiu superá-lo! Uma temporada para fincar o pé na psique ferrarista, que já estava entregue a Leclerc pelos dois últimos anos.
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Chances desperdiçadas vão para todas as partes, aliás. A vitória de Ricciardo foi concretizada, diferente de outras possibilidades claras ao longo do ano. Norris na Rússia, quando optou por seguir na pista, ainda líder, mesmo com pista molhada e pneus slick; Leclerc, pole em Mônaco, bateu antes do fim da classificação. Com as condições da pista e a turbulência para os carros que encostam atrás, seria até favorito para Monte Carlo. A questão, no fim das contas, é que Ricciardo fez 45 a menos que o companheiro enquanto a Ferrari marcou 48.5 mais que a McLaren. É uma conta simples que mostra como o australiano deixou a peteca cair.
"Às vezes dou o exemplo de um músico. Você pode dizer a ele como tocar uma guitarra, você pode usar muita teoria, mas em algum momento, você terá que gastar muito tempo com exercícios. E não necessariamente dá um passo em um concerto, a maior parte do progresso que você faz é quando trabalha em casa em segundo plano e passa horas e horas se exercitando", explicou Andrea Stella, diretor de competição da McLaren.
"Um aspecto que não ouço falar o suficiente é que na F1 atual não é fácil treinar. Os testes de inverno eram mínimos em 2021 e, na sexta-feira, você tem uma hora a menos para treinar. E ainda é uma prática de preparação para uma corrida, não é uma prática em que você possa fazer algum trabalho sistemático, de adaptação a um carro, entendendo todas as sutilezas que são necessárias para operar no nível incrivelmente alto em que os pilotos de F1 operam hoje em dia", seguiu.
"E devo dizer, e estou neste negócio há algum tempo, o nível dos pilotos agora é muito alto. O número de pilotos que podem guiar em um nível muito alto é considerável, em comparação com o que víamos anteriormente", opinou.
Até mesmo o próprio Ricciardo chegou a afirmar que se tratou de sua temporada "mais desafiadora na F1". "Definitivamente, a mais difícil. Nunca tinha encontrado tantas dificuldades assim", apontou.
Mas o ponto decisivo mesmo está na atualização do motor. A Ferrari deu um jeito de melhorar a potência do conjunto entre o fim do ano passado e o começo da temporada 2021, mas o motor, de maneira geral, era o mesmo. A McLaren contava com um bom carro e um motor superior ao do ano passado. A Ferrari tinha a defasagem de potência e muita dificuldade para gerenciar pneus na primeira parte do campeonato, o que custou corridas e pontos importantes.
Aí, o GP da Rússia. Foi apenas em Sóchi, na 15ª corrida do ano, que a Ferrari gastou os tokens de desenvolvimento do motor que tinha para 2021. Naquela primeira prova, apenas Leclerc usou o motor novo; na Turquia, Sainz também ganhou o dele.
Pois bem, matemática: na chegada a Sóchi, a McLaren tinha 13,5 pontos de vantagem para a Ferrari. Naquela corrida de apenas Leclerc com o motor vitaminado, a McLaren fez mais 19 pontos contra 15 da Ferrari. Foi a penúltima corrida no ano em que levou vantagem. Turquia (16 a 6), Estados Unidos (18 a 14), México (18 a 1), Brasil (18 a 1), Catar (10 a 2) e Abu Dhabi (16 a 8). Somente na Arábia Saudita, com um 11 a 10, os ingleses voltaram a levar vantagem. Os defeitos mais gritantes dos carros vermelhos foram reparados.
"Sem dúvida, se olharmos para onde estávamos no ano passado, sexto e com poucos pontos no campeonato, acho que fizemos o máximo possível com o regulamento atual, levando em conta que não foi possível melhorar a maior parte do carro, com oportunidades de desenvolvimento bem limitadas, além de contar com o teto orçamentário", disse o chefe da Ferrari, Mattia Binotto.
"Em 2021, tivemos de priorizar o carro de 2022 ao invés de melhorar o carro desta mesma temporada. Por isso, no geral, acho que a equipe conseguiu uma grande evolução dentro do que era possível, e estou feliz porque a terceira posição é um grande reflexo deste esforço", concluiu.
No fim de um ano em que a atual tecnologia dos carros estava quase que inteiramente marcada para o descarte, Mercedes e Red Bull avançaram com seus desenvolvimentos até o fim por conta da briga pelos títulos de Pilotos e Construtores, enquanto a Ferrari foi impulsionada por um novo motor; a AlphaTauri também ganhou alguma vitamina na rebarba do desenvolvimento de motor feito para a Red Bull. A McLaren nada de novo apresentou na segunda parte, salvo um ou outro ajuste para cada pista. Uma decisão compreensível financeiramente, mas que prejudicou o lado esportivo.
O ponto focal para as duas é 2022 e o que será possível fazer com o teto orçamentário e as novas regras. O objetivo final das duas gigantes é voltar a vencer, porque o tempo que passou já é demais.
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