Retrospectiva 2022: Alonso vive ano marcado por quebras e choca Alpine com saída
Fernando Alonso mostrou em 2022 que ainda tem muita lenha para queimar na Fórmula 1, mas decisão de deixar Alpine por Aston Martin pode custar os últimos anos do bicampeão
Aos 41 anos, Fernando Alonso mostrou na temporada de 2022 da Fórmula 1 que ainda é um dos grandes talentos da categoria. Mesmo que tenha terminado o ano atrás do companheiro de equipe Esteban Ocon, algo que só havia acontecido três vezes na sua carreira, o espanhol foi fundamental para levar a Alpine ao quarto lugar no Mundial de Construtores. Mas isso não foi o suficiente para satisfazer o Príncipe das Astúrias.
O 2022 de Alonso ficou marcado mais do que tudo pelos problemas mecânicos. Enquanto Ocon abandonou apenas o GP de Singapura por falhas técnicas, Fernando teve que recolher em seis ocasiões, sem contar as corridas com problemas na classificação, como o GP da Austrália, ou em que teve danos por acidentes, como na Bélgica e nos Estados Unidos.
A falta de sorte foi tema recorrente nas declarações do espanhol e começou logo na segunda prova do ano, no GP da Arábia Saudita. Alonso andava na sexta colocação, quando teve problemas de motor e precisou recolher. Após as cinco primeiras corridas, era inegável que ele era um dos melhores pilotos da temporada e, mesmo assim, Fernando só tinha dois pontos acumulados e se via atrás até de Alexander Albon na classificação de pilotos.
O GP da Espanha em casa representou uma mudança de ventos. A partir daquela prova, em que terminou na nona posição, o bicampeão engatou uma sequência de dez provas seguidas terminando entre os dez primeiros colocados. Mesmo brilhando nas pistas, Alonso acabou mais uma vez entrando em foco por conta de decisões tomadas fora dela.
Tudo começou com o dia em que Sebastian Vettel criou um Instagram. Quando todos esperavam uma nova versão do tetracampeão, com mais mensagens e divulgação de sua vida nas redes sociais, o que veio na verdade foi um anúncio chocante de aposentadoria da Fórmula 1 aos 35 anos. Iniciava-se ali uma sequência de movimentos que incendiaria o mercado de pilotos da principal categoria do automobilismo.
Dias depois do anúncio de Vettel, a Aston Martin mostrou que já imaginava a retirada do alemão do esporte e, em mais uma notícia bombástica, anunciou a contratação de Alonso para a temporada de 2023. O espanhol, que retornou à Fórmula 1 em 2021 com a Alpine, parecia estar encaminhado para uma renovação com os franceses.
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Mas não é fácil agradar o Príncipe das Astúrias. Alonso não ficou feliz com a proposta de apenas um ano e gostou do projeto apresentado pela Aston Martin, diga-se o contrato de dois anos com bom salário. Internamente, a relação com Otmar Szafnauer também não era das melhores, e o chefe da Alpine inclusive só ficou sabendo da saída do espanhol pela própria imprensa.
Alonso não optou apenas por deixar uma equipe na qual tinha um forte papel de líder, mas sim uma Alpine que viveu em 2022 seu melhor ano desde 2018, quando ainda era Renault. Mais do que isso, deu um bolo no time com o qual conquistou seus dois títulos em 2005 e 2006 sem mostrar muito remorso pela forma com que as coisas aconteceram.
A Alpine, que na pista andava bem com Fernando e Esteban, viveu um drama no mercado de pilotos. A escolha óbvia para substituir o bicampeão seria Oscar Piastri, piloto da academia de juniores e então atual campeão da Fórmula 2. Mas, em um roteiro praticamente idêntico ao de Álex Palou, piloto da Ganassi na Indy que negou em suas redes sociais um comunicado oficial da própria equipe anunciando sua renovação de contrato, Piastri também refutou o comunicado da Alpine que o anunciava como piloto do time para 2023. O destino de ambos parecia ser o mesmo: a McLaren.
No final das contas, ambos os casos acabaram em disputas em tribunais. Na justiça federal americana, a McLaren viu Palou chegar a um acordo com a Ganassi e decidir permanecer no time na Indy. Mas, na Fórmula 1, o Conselho de Reconhecimento de Contratos (CRB) decidiu a favor do time britânico, alegando que a Alpine não tinha vínculo com o australiano. A falta de clareza dos franceses, que ficaram divididos entre Alonso e Piastri, acabou deixando o time de Enstone de mãos vazias.
Sem suas duas primeiras opções, a Alpine partiu então para um verdadeiro processo de vestibular para decidir quem seria o companheiro de Ocon. Mas a seletiva já tinha um claro favorito: Pierre Gasly. O imbróglio era com a AlphaTauri, sua equipe por cinco anos na Fórmula 1, e que queria um substituto empolgante o suficiente para liberar o francês.
O nome favorito do time de Faenza era o de Colton Herta, joia americana da Indy, mas Herta, que nunca negou o desejo de se mudar para a F1, acabou sendo impossibilitado de acertar com a AlphaTauri, já que não possuía os pontos necessários para obter a superlicença. Sem Colton à disposição, Nyck De Vries, campeão da Fórmula 2 em 2019, virou o nome da vez.
O holandês teve uma oportunidade de ouro com a Williams no GP da Itália e tirou proveito. De Vries terminou a prova em nono, conquistando pontos importantes para o time de Grove, mas mais do que isso: certificando para as equipes da Fórmula 1 que merecia uma chance como titular. Uma temporada sem brilho da academia de pilotos da Red Bull acabou abrindo as portas para De Vries na AlphaTauri e liberou Gasly do seu martírio para ser oficialmente anunciado na Alpine.
Situação de pilotos para 2023 acertada, a Alpine passou a ter que se preocupar com a dupla de 2022, já que a relação de Alonso com Ocon azedava cada vez mais. Dois toques na corrida sprint em São Paulo, que acabaram prejudicando a corrida de ambos, gerou uma série de acusações entre os pilotos e resultou em uma nota de tom ameaçador de Otmar Szafnauer. No dia seguinte, os dois deixaram as diferenças de lado, com o espanhol terminando em quinto e o francês fechando em oitavo, praticamente garantindo o quarto lugar no Mundial de Construtores na briga contra a McLaren.
Depois de do quinto posto em Interlagos, a temporada de 2022 terminaria de forma infelizmente comum para Alonso: um último abandono no GP de Abu Dhabi, com apenas 27 das 55 voltas completadas. Nas contas do espanhol, foram cerca de 60 pontos que ficaram pelo caminho com os problemas mecânicos, resultados que o jogariam da nona para a sétima posição na classificação dos pilotos.
Muita coisa pesou na decisão de Fernando de deixar a Alpine, que pode ser considerada sua casa na Fórmula 1. Seja a relação com Szafnauer e Ocon, o contrato curto ou os problemas mecânicos inaceitáveis na visão do espanhol. A verdade é que a Aston Martin restou como última possibilidade de projeto a longo prazo com Alonso como personagem principal, e o espanhol acabou embarcando na aventura.
Conhecido por suas escolhas que não deram certo ao longo da carreira na Fórmula 1, o bicampeão tenta um último tiro no escuro em busca do terceiro título. O teste de pós-temporada em Abu Dhabi foi animador, mas é difícil tirar qualquer tipo de conclusão a partir dele. Alonso certamente tem potencial para brigar novamente no topo, mas se a Aston Martin será capaz de entregar um carro à altura é algo que só iremos saber com o tempo.
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