Retrospectiva 2022: Red Bull consegue proeza de acabar ano perfeito envolvida em polêmicas
Equipe taurina teve 2022 dominante, com muitos méritos. Acertou mão do RB18 ao longo da temporada e terminou com carro beirando a perfeição, Max Verstappen atingiu o auge de sua pilotagem, conquista dos dois títulos… ainda assim, polêmicas parecem não largar o pé de Christian Horner, Helmut Marko e companhia
Historicamente falando, a conquista da Red Bull no Mundial de Construtores da F1 2022 foi enorme. A equipe taurina venceu quatro campeonatos seguidos, de 2010 a 2013, mas depois passou oito anos acompanhando — de pertinho — a Mercedes levar tudo. O time dos energéticos, enfim, conseguiu colocar uma pedra no período enorme de domínio das Flechas de Prata.
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O tão sonhado título só aconteceu porque a Red Bull acertou em cheio com o RB18, bólido da temporada. O carro taurino terminou o ano de maneira dominante, mas nem sempre foi assim ao longo de 2022. A F1-75 da Ferrari, principal rival, tinha claras vantagens: confiabilidade — vale lembrar que a equipe de Christian Horner teve três abandonos nas três primeiras corridas —, menor peso, melhor gerenciamento dos pneus e ritmo imponente no miolo do circuito.
O RB18 conseguia contra-atacar com a velocidade em retas, absoluta. Quando foi aos poucos consertando seus problemas de confiabilidade, os taurinos equilibraram o jogo, pois. Foi somente na Hungria que o bólido energético mostrou-se superior. A escuderia italiana cometeu erro crasso de estratégia com os pneus duros, verdade, mas ainda assim Max Verstappen não teve problemas em escalar o pelotão e cruzar a linha de chegada em 1º. O ponto de virada definitivo foi ali. A prova seguinte, em Spa-Francorchamps, só corroborou isso.
A partir daí, a Red Bull nadou de braçada. Verstappen levantou o caneco do bicampeonato ainda no Japão, e terminou o campeonato 146 pontos à frente do vice Charles Leclerc. No Mundial de Construtores, outra vantagem absoluta dos taurinos: 759 tentos contra 554 da Ferrari e 515 da Mercedes.
"Após oito longos anos, o título significa tudo para nós. Tem sido uma jornada e tanto. Passamos pelas temporadas difíceis, tivemos de nos levantar sempre. O trabalho duro, sangue, suor e lágrimas que colocamos nessa missão… significa o mundo para nós", comemorou Horner, logo após a conquista. Tudo lindo para a Red Bull em 2022, então, certo?
Errado.
Mesmo na temporada em que mais dominou na F1, a Red Bull conseguiu a proeza de terminar o ano envolvida em duas grandes polêmicas — que levaram o grande rival Lewis Hamilton, inclusive, a dizer que o ambiente na equipe taurina "parece um show das Kardashians".
Quando os títulos do Mundial de Pilotos e Construtores estavam quase garantidos, mas não eram certezas, a primeira polêmica estourou. Em Singapura, indícios iniciais reportavam que a Red Bull havia estourado o limite orçamentário de US$ 145 milhões (cerca de R$ 762 milhões, na cotação atual) na temporada de 2021.
O que inicialmente era suspeita virou realidade. A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) confirmou que os taurinos quebraram o teto de gastos em uma margem inferior a 5% e fizeram um acordo com a equipe. Multa de R$ 37 milhões aplicada e redução no tempo disponível para os testes aerodinâmicos de olho na temporada 2023.
A Red Bull se indignou. Christian Horner disse que a punição aplicada pela FIA foi "severa" demais — especialmente a redução de tempo para testes aerodinâmicos. Segundo o chefe taurino, a equipe taurina em nada se beneficiou com a violação do teto orçamentário. Em um discurso talvez até fatalista demais, Horner garantiu que Max Verstappen e Sergio Pérez terão prejuízo de 0s250 a 0s5 por volta em 2023 por conta disso.
Helmut Marko, consultor da equipe dos energéticos, e Toto Wolff, chefe da Mercedes, também fizeram previsões mais definitivas. Fato é: seja mais, seja menos, a Red Bull começará 2023 em desvantagem, indubitavelmente.
Quando tudo parecia desmoronar ao redor, a Red Bull ainda tinha em Verstappen e Pérez uma dupla de sintonia, entrosada. Era um ponto de esperança, pois: que mesmo com o prejuízo na temporada seguinte, os dois poderiam se ajudar, ajudar a equipe e minimizar os danos.
Só que até mesmo essa percepção, inesperadamente, caiu por terra. Logo em Interlagos, de todos os lugares. Vamos para a segunda polêmica.
Na lendária pista paulistana, em meio ao GP de São Paulo, o holandês passou o mexicano para tentar atacar Fernando Alonso, então quinto colocado, mas não conseguiu. Na última volta, o pedido foi no caminho inverso: se não desse para passar, que o bicampeão mundial devolvesse a posição para o companheiro. Verstappen afirmou que não faria isso e que era para a equipe "não perguntar de novo" porque ele "já tinha dado os motivos".
Já seria uma atitude grave, claro. Ficou ainda mais com o cenário apresentado: Verstappen não tinha mais nada a disputar no ano, tampouco a Red Bull, já campeã. O único taurino envolvido em algum tipo de competição, naquele ponto do campeonato, era 'Checo' — travando briga intensa, eventualmente perdida, contra Charles Leclerc pelo vice-campeonato.
Foi o começo de uma verdadeira novela. Ainda no carro, Pérez ironizou. "Obrigado, pessoal. Isso mostra quem ele realmente é". Depois, seguiu atacando o companheiro de equipe. "Acho que, se ele tem dois títulos, agradeça a mim. Depois de tudo que fiz por ele, estou um pouco desapontado", completou 'Checo'.
Verstappen confirmou, depois da corrida, que não cedeu a posição por algo que "aconteceu no passado" — segundo a imprensa holandesa, o bicampeão mundial se vingou do ocorrido em Mônaco, quando Pérez bateu em sua última volta rápida no Q3, negando a Verstappen a chance de conquistar a pole-position. 'Checo' acabou vencendo a corrida no dia seguinte, e admitiu a Christian Horner e Helmut Marko que bateu de propósito no treino classificatório.
Até hoje, nenhuma das partes veio a público confirmar ou desmentir tal versão.
Fato é: a Red Bull correu para colocar panos quentes na situação. Defender Pérez da injustiça? Nada disso. Fez-se necessário agradar Verstappen. A nota oficial taurina após a prova em Interlagos gerou reações mais acaloradas do público, que apontou o que, de certa maneira, é verdade: o holandês, por conta de seu talento, manda e desmanda no time.
"Como um time, cometemos alguns erros no Brasil. Nós não tínhamos previsto a situação que se desenrolou na última volta e não concordamos com uma estratégia para tal cenário antes da corrida. Lamentavelmente, Max (Verstappen) só foi informado do pedido para ceder a posição na última curva, sem que todas as informações necessárias tivessem sido transmitidas a ele. Isso colocou Max, que sempre foi um jogador de equipe aberto e justo, em uma situação comprometedora com pouco tempo para reagir — o que não era nossa intenção", informou tal comunicado — mesmo com evidências de que Verstappen teve, sim, muito mais tempo para ceder a posição a 'Checo'.
"Após a corrida, Max falou aberta e honestamente, permitindo que os dois pilotos resolvessem quaisquer preocupações ou problemas pendentes. A equipe aceita a argumentação de Max. A conversa é um assunto pessoal, que continuará privada entre o time. Nenhum comentário adicional será feito", seguiu a nota.
Resumindo para você, querido leitor e leitora: uma bagunça. Bagunça desnecessária, vale dizer. A Red Bull venceu tudo em 2022, com méritos. Carro absoluto, Verstappen no auge de sua pilotagem… mas a mancha das polêmicas mostrou-se, mais uma vez, maior do que qualquer reconhecimento de conquista.
Para 2023, duas dúvidas centrais. Será a Red Bull capaz de superar a desvantagem pela quebra do teto de gastos e seguir no pelotão da frente? Assim fazendo, conseguirá Verstappen — ou Pérez, vai que… — vencer o título sem qualquer rastro de polêmica, ao contrário de 2021 e 2022?
Só o tempo vai dizer. Até lá, aguardemos.
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