Se Piastri não foi da Alpine, a culpa é dela. Eis os detalhes
Após a decisão do Comitê da FIA, os detalhes do processo Piastri / McLaren / Alpine aparecem e deixa ver que os franceses cochilaram...
Quando aconteceu a confusão criada com a não-confirmação da ida de Oscar Piastri para ser piloto Alpine a partir de 2023, muita gente ficou espantada como a Alpine acabou ficando na situação de, em um momento ter 2 pilotos e, logo depois, não ter nenhum.
Para resolver a questão, foi ativado o Comitê de Reconhecimento de Contratos da FIA (ou CRB, em inglês), criado para ser uma câmara de arbitragem dos contratos de pilotos da F1. A categoria não gosta muito de questões judiciais e depois de situações como a de Jenson Button com a Williams e de Giedo Van der Garde com a Sauber, criou este órgão para decisões do tipo.
Não é um julgamento comum. As partes entregam suas alegações a este comitê e, com base em toda a documentação, chegam a uma conclusão unanime em favor da McLaren. O jornalista Fritz-Dieter Rencken, hoje no portal racingnews365, trouxe detalhes da situação (o link original está aqui).
Segundo o material entregue ao comitê, formado por Ian Hunter QC, Stefano Azzali, Prof. Dr. Klaus Peter Berger e Matthieu de Boisseson, ficou claro que a Alpine realmente perdeu a chance de ter Oscar Piastri por não ter cumprido prazos estabelecidos anteriormente.
O que havia entre Piastri e a Alpine eram dois acordos: um, que estabelecia sua condição como piloto reserva em 2022 e outro com a possibilidade de efetivação como titular em 2023. Um documento citado pela Alpine, datado de novembro de 2021, era o ponto que os franceses alegavam ter “um contrato válido para piloto titular para as temporadas de 2023 e 2024”.
Porém, se dizia que esta “carta de intenções” seria substituída por um contrato definitivo em 10 dias úteis a contar de 15 de novembro de 2021. Esta foi a informação passada pelo CEO da Alpine, Laurent Rossi. Mas este prazo não foi cumprido. O empresário de Piastri, o ex-piloto Mark Webber, cobrou diversas vezes o envio, mas a Diretora de Assuntos Jurídicos da Alpine, Benedicte Mercer, reconhecia que ela era o “gargalo do processo”, ao reconhecer que faltavam recursos para a sua equipe.
Em fevereiro deste ano, Mercer escreveu à Webber dizendo que se sentia “como no meio da centrifugação de uma máquina de lavar” e que esperava que as coisas ficassem mais fáceis após o lançamento do carro, quando julgava que “poderia ver com calma onde parou para tratar do contrato de Oscar”.
Porém, o tempo passava e Piastri não tinha contrato algum com a Alpine. Somente em 4 de março, uma semana antes da prova, que um rascunho do contrato foi enviado aos empresários do australiano. O acordo foi apresentado ao Comitê em 14 de março, mas não previa extensão para além de 2022 e uma possível titularidade.
No dia seguinte, Piastri recebeu este contrato, com a Alpine, através de sua Diretora de Assuntos Jurídicos, dizendo que era uma “medida de emergência”, pois não havia nenhum contrato em vigor e, sem isso, Piastri não poderia ter a sua Superlicença emitida pela FIA.
Assim, Mercer tratou a “carta de intenções” de novembro de 2021 como um contrato vinculante, juntando o termo “termos juridicamente vinculantes” ao documento, o que não estava no documento original enviado à Piastri. O Comitê se eximiu de julgar se esta medida foi legal ou não.
Em 19 de maio, A Alpine enviou para Piastri um documento intitulado “Proposta Oscar Piastri 2023/2026”, com os planos do time para o futuro do australiano nos próximos anos. Ele previa um acordo com a Williams para a temporada de 2023, com opção de renovação por mais um ano, porém com a Alpine tendo a preferência de convocá-lo para si até 31 de julho de 2023. A partir de 2025, Piastri seria piloto titular da Alpine.
Este plano não agradou ao piloto e seus empresários. Então foram atrás de outras opções para que Piastri encontrasse um lugar efetivo para a temporada 2023. Aí aparece a McLaren, que assinou um contrato com o Piastri, porém prevendo que qualquer outro acordo existente com outra equipe não tiver mais valor.
Em 4 de julho, o acordo definitivo foi assinado, valendo a partir e 1º de janeiro de 2023, um dia após o vencimento do acordo com a Alpine para piloto reserva acabar. De acordo com o Comitê, este acordo sim é “válido e vinculativo”.
Além da derrota legal, a Alpine foi responsabilizada a pagar todos os custos envolvidos no processo (entenda-se McLaren, Piastri e as taxas do Comitê), o que daria um pouco mais de 530 mil libras esterlinas (cerca de R$ 3.200.000,00). Além dos valores dela e dos impostos.