Sigilo familiar, tratamentos e saudades: o que se sabe sobre a vida de Schumacher 10 anos após acidente
Trágico acidente que tirou de cena o heptacampeão da Fórmula 1 completa 10 anos nesta sexta-feira, 29
O dia 29 de dezembro de 2013 ficou marcado pelo trágico acidente de esqui que tirou de cena o heptacampeão da Fórmula 1 Michael Schumacher. Uma década depois, pouco se sabe sobre o estado de saúde e a rotina do ex-piloto alemão, mantidos sob sigilo a pedido da família e, principalmente, da esposa Corinna Schumacher.
Esporadicamente, relatos de amigos e pessoas próximas a 'Schumi' ganham as manchetes, mas pouco ajudam a elucidar a real situação de um dos maiores nomes do automobilismo.
O que se sabe sobre a vida de Schumacher após o acidente:
• Michael Schumacher se aposentou definitivamente da Fórmula 1 em 2012, após um retorno em 2009. Em 29 de dezembro de 2013, o ex-piloto esquiava em uma estação de Meribel, nos Alpes Franceses, com seu filho Mick - à época com 14 anos -, quando sofreu o acidente.
• Schumi entrou em uma área perigosa não demarcada, entre duas pistas. Ele usava capacete, mas bateu forte a cabeça, e o equipamento partiu ao meio. Schumacher ficou internado no hospital de Grenoble, que fica próximo à região do acidente, e passou por duas intervenções cirúrgicas. O alemão ficou em coma por seis meses antes de ser levado para casa. Ele nunca mais apareceu em público.
• No período em que ficou internado na França, Schumacher apresentou indícios de melhora, o que motivou os médicos. Em junho de 2014, o ex-piloto acordou do coma e foi transferido para outro hospital, saindo de Grenoble para Lausanne, na Suíça. Em setembro, ele deixou o hospital para seguir com o tratamento em sua casa, em Lake Geneva, onde foi montada uma UTI.
• Sem detalhes dos médicos e dos familiares, Schumacher passou a ser cuidado pela mulher, Corinna Betsch, e por uma equipe médica, com apoio de massagistas e enfermeiros, 24 horas por dia. Sempre houve esperança de sua recuperação. Também havia uma expectativa que a família do alemão se mudasse para Mallorca, na Espanha, mas isso não aconteceu.
• Em 2019, Schumacher foi levado de ambulância a Paris, na França, para um tratamento experimental com células-tronco no Hospital Georges Pompidou. De acordo com o jornal Le Parisien, o objetivo era uma ação anti-inflamatória. No entanto, não houve a divulgação de resultados positivos das técnicas do médico francês Philippe Ménasché.
• Uma das poucas vezes que Corinna falou ao público foi no documentário Schumacher, lançado em setembro de 2021 na Netflix, no qual ela dá um depoimento comovente sobre o estado de saúde do marido. “Todo mundo sente falta de Michael, mas ele está aqui. Diferente, mas ele está aqui, e isso nos dá força, eu acho”.
Depoimentos e saudades
Algumas das poucas pessoas que convivem com Michael Schumacher comentaram, em entrevistas, sobre o legado do ex-piloto e desabafaram sobre seu estado de saúde. É o caso do irmão Ralf, de 48 anos, que falou sobre a saudade da família e os ensinamentos do irmão mais velho nas pistas de corrida.
"Sinto falta do meu Michael daquela época. A vida às vezes é injusta. Michael teve sorte muitas vezes na vida, mas então esse acidente trágico aconteceu. Felizmente, opções modernas da medicina permitiram que fizéssemos algumas coisas, mas nada é como era antes"
"Michael não era só meu irmão. Quando éramos crianças, ele também foi meu técnico e mentor. Ele me ensinou literalmente tudo sobre corridas de kart. Pode haver uma diferença de sete anos de idade, mas ele sempre estava ao meu lado. Corremos juntos, treinamos manobras de ultrapassagem e tudo que importa no esporte a motor. Ele repassou todas as diferentes coisas que já tinha internalizado. Tive a honra de aprender com o melhor", completou o ex-piloto.
O ex-empresário Willi Webber, com quem Schumacher trabalhou por 30 anos antes de romperem, comentou sobre a possibilidade de rever o heptacampeão de Fórmula 1, mas com um lamento de quem o viu desde criança.
"Infelizmente, não tenho mais esperança de vê-lo novamente. Não há nenhuma notícia positiva dez anos depois do acidente. Me arrependo muito e me culpo, eu deveria ter visitado Michael no hospital (quando ele se acidentou)", lamentou Webber em entrevista ao jornal alemão Kölner Express.
Sigilo familiar
O advogado da família Schumacher para assuntos envolvendo a imprensa, Felix Damm, concedeu uma entrevista para o portal alemão LTO (Legal Tribune Online), em outubro de 2023, em que esclarece pontos sobre os motivos que fizeram os familiares do ex-piloto ocultarem do público e da mídia informações sobre o estado de saúde do heptacampeão.
“(Disponibilizar um relatório concreto sobre a saúde de Schumacher) sempre foi uma questão de proteger coisas privadas. Claro, discutimos muito sobre como isso é possível. Então também consideramos se um relatório final sobre a saúde de Michael poderia ser o caminho certo para fazer isso. Mas isso não teria sido tudo e teria de haver ‘boletins instáveis’ constantemente atualizados. Porque, como afetados, não cabe a vocês acabar com a mídia. Eles poderiam retomar esse relatório repetidas vezes e perguntar: ‘E como é agora?’, um, dois, três meses ou anos após o relatório. E se quiséssemos então tomar medidas contra esta denúncia, teríamos de lidar com o argumento da autoexposição voluntária”, explicou Damm.
O advogado menciona a questão da “autoexposição voluntária” porque este foi um tema recorrente nas batalhas jurídicas que a família Schumacher travou para impedir a divulgação de determinados conteúdos sobre o estado de saúde do alemão. Ele se refere ao fato de que a própria família, acompanhada de médicos, deu publicidade a informações sobre o ex-piloto da Ferrari logo após o acidente.
“Em princípio, ninguém pode reivindicar a privacidade de fatos que eles próprios tenham divulgado voluntariamente ao público. Neste contexto, a jurisprudência fala da auto-abertura da esfera privada. É por isso que tivemos de lidar repetidamente com o argumento da ‘autoexposição’ em processos judiciais. No final das contas, ficou provado que estávamos certos. Decidiu-se que as declarações na conferência de imprensa eram tão genéricas que não deveriam ser feitas especulações sobre o estado de saúde. Além disso, era questionável se as informações seriam fornecidas voluntariamente quando solicitadas por centenas de jornalistas que cercaram o hospital durante dias”, afirmou Damm.
*Com informações de Estadão Conteúdo