Vasseur: "Não há privilégio entre Leclerc e Sainz na Ferrari"
Em entrevista exclusiva ao Corriere dello Sport, o chefe da Ferrari falou sobre a situação da equipe, bem como das perspectivas de futuro
Em um momento em que a Ferrari está em questionamento e tem mais um capítulo de sua atribulada história. Frederic Vasseur entrou no comando da equipe este ano e tem enfrentado vários problemas, sem contar os questionamentos...
Mas chefe da equipe Ferrari sempre dá notícia. E o Corriere Dello Sport publicou uma entrevista com Vasseur feita após o GP da Hungria, fazendo um apanhado de seu mandato até aqui. “...ainda estou vivo”.
Quando a Ferrari vai desencantar? Vasseur foi extremamente cauteloso e não se comprometeu
"Não podemos falar de metas e prazos, a não ser dizendo: temos que desenvolver todas aquelas coisinhas que contribuem para o desempenho da máquina. Torcedores, jornalistas e patrocinadores gostariam de saber quando voltarão a vencer: dar uma resposta precisa seria bobagem. Eu estaria perdendo meu tempo pensando onde está a Red Bull e onde estamos. Vamos nos concentrar apenas em nós mesmos."
Quando da sua chegada, foi algo inevitável fazer a comparação do Jean Todt, chefe do time de 1993 a 2007, e foi o comandante da última grande fase da Ferrari. Sobre isso, foi taxativo, sobre o estilo de comando. O repórter perguntou se ele acreditava em “mão de ferro”.
"Não é o meu sistema, e aqueles eram tempos diferentes. Na equipe tenho que convencer a todos que podem fazer a diferença. Prefiro a psicologia a um punho de ferro.”
Ainda sobre a gestão de Todt, Vasseur fez uma análise interessante e que pode até servir de inspiração
"Não faltava nada a Todt entre 1993 e 2000, mas os ingredientes estavam completos: havia Jean, havia Schumacher, havia os engenheiros certos, havia Bridgestone, havia Marlboro. Teve Ferrari! Mas nem tudo estava funcionando e eles tiveram que sincronizar para acertar. A verdadeira façanha de Todt foi sobreviver aos primeiros sete anos de derrotas, em vez de vencer os próximos sete."
Sobre a chegada de novos elementos para a Ferrari, Vasseur foi perguntado porque não houve um anúncio
"Porque ainda estão trabalhando em outros times e não sabemos quando poder contar com eles. Os tempos que temos disponíveis na F1 não são os de um treinador de futebol: se eu contratar um engenheiro poderei utilizá-lo talvez dois anos depois e o seu trabalho começa a aparecer no terceiro ano.”
“Este ano vamos contratar cerca de oitenta técnicos, metade novos e a outra metade para substituir os que saem, se aposentam ou são transferidos para outros setores. Comunicaremos os nomes quando matricularem os filhos na escola... Devemos agir com discrição para tentar reduzir ao máximo o período de quarentena”
Ainda falando da parte técnica, Vasseur falou sobre a saída de Laurent Mekies, que assumirá a chefia da Alpha Tauri em 2024
"Estudamos na mesma escola na França, nos conhecemos há vinte e cinco anos. Ele me ajudou muito quando cheguei na Ferrari, nosso relacionamento sempre foi excelente e quero que continue assim quando estivermos concorrentes. É difícil separar-me de Laurent, mas ele é ambicioso com razão: será um dos dez chefes de equipe da F1, não lhe podia negar esta possibilidade".
"Vamos distribuir suas habilidades internamente entre três ou quatro pessoas: Diego Ioverno, que voltou recentemente ao pit e, portanto, é visível, lidará com os regulamentos e as relações com a FIA. Mas teremos que decidir quantas pessoas dedicar à aerodinâmica, que linha seguir para o novo regulamento de 2026, quantos recursos mover de 2024 para 2026. Todas questões delicadas e estratégicas”.
Claro que a pergunta viria: Sainz e Leclerc. O repórter falou que Vasseur gostaria de manter os dois para frente. Porém se diz que Leclerc seria favorecido e Sainz teria menos espaço. Além que que o título de piloto só pode ser perseguido focando em um piloto. O francês foi categórico
"Não, não, não ponha as palavras de Helmut Marko na minha boca! Eu nunca disse isso, nem nunca fiz isso. Só estou a dizer que se você disputar o Campeonato do Mundo de Pilotos, a certa altura da temporada tem de fazer uma escolha e favorecer os que estão mais acima na classificação. No entanto, não estamos nestas condições hoje"
O repórter questionou se ele faria isso mesmo se Sainz estivesse à frente. A resposta veio no mesmo tom:
“Sua pergunta pressupõe que Charles é o número um, mas esse não é o caso. Comecei este trabalho há vinte e cinco anos pensando que dois pilotos deveriam receber o mesmo apoio e não tenho intenção de mudar. Todas as equipes agem desta forma, com exceção da Red Bull com Verstappen e Perez".
Sobre manter Leclerc e Sainz na Ferrari após 2024
"Por que não? Mas vamos começar a conversar no final da temporada e os dois sabem muito bem: Eu disse a ele assim que cheguei. Hoje a única prioridade é desenvolver o carro".
Sobre o SF-23, Vasseur fala que é a “síntese de um momento”
“É um legado dos últimos dez anos. Os tempos na F1 são longos, por isso não consigo imaginar uma mudança de mentalidade na equipe em apenas seis meses. Uma equipe de F1 é como um grande navio: as mudanças de rota acontecem lentamente".
Vasseur aproveitou para explicar o que falaria aos torcedores da Ferrari sobre o momento do time:
“Estamos em um mundo competitivo onde todos trabalham para dar o seu melhor, como a Mercedes, que conquistou sete campeonatos consecutivos, ou a Red Bull hexacampeã em doze anos. E o nome Ferrari não chega para vencer: o sucesso vem do trabalho, não da história. Acho que estamos indo na direção certa e temos grandes recursos como duas ou três outras equipes, enquanto outrora esse privilégio só pertencia a uma ou duas equipes. Agora com licença, mas tenho que ir: tenho uma reunião com meu chefe".
Encerrando a entrevista, o repórter perguntou sobre quem comanda a equipe, já que muitos dizem que o CEO da Ferrari, Benedetto Vigna , estaria se intrometendo nas questões esportivas. Vasseur foi taxativo.
"A Scuderia Ferrari faz parte da empresa Ferrari S.p.A.. Portanto, o chefe é Vigna".
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