Vender para sobreviver: esta pode ser a saída da McLaren
Como a área de automóveis tem apresentado prejuízos contínuos, os donos da McLaren consideram vender a parte de competições. Entenda
Torcedor da McLaren, desde já, fica um aviso para marcar uma data na agenda: 25 de abril. Será quando o grupo divulgará os resultados financeiros de 2023. E as expectativas não são muito animadoras...
Volta e meia, este espaço fala sobre as condições financeiras da McLaren. Não é de hoje que a situação por lá não é das melhores e, de tempos em tempos, aparece uma matéria abordando que a empresa tem que receber injeção de capital para seguir adiante. Tenta-se aqui jogar uma visão otimista. Porém...
Querendo ou não esta situação impacta diretamente na parte de competições. Ainda mais quando vemos a expansão das atividades nos últimos anos. Hoje, a McLaren compete na F1, Indy, Extreme E e Fórmula E.
Hoje, a McLaren é composta basicamente de duas empresas: a Mclaren Automotive, que trata da fabricação dos carros de rua e a McLaren Racing, que trata das operações de corrida. Até 2021, havia a divisão de engenharia, chamada de Applied, e que era responsável pelo desenvolvimento e fabricação das unidades eletrônicas de todos os carros da F1 e da NASCAR.
Até aí, nada demais. Só que o problema é que a McLaren tem se mostrado um verdadeiro dreno de dinheiro nos últimos anos. Simplesmente desde 2020, os acionistas desembolsaram cerca de £1,5 bilhões (quase R$ 9,5 bilhões pelo câmbio de hoje) entre empréstimos, aportes e expansão de capital social. Se colocarmos outras operações, chegamos a mais de £ 2 bilhões para reforçar o caixa da empresa.
A expectativa inicial dos donos da McLaren seria que a operação estivesse lucrativa em 2021. Afinal, a marca vinha fazendo um investimento pesado para sua área automotiva, que traz cerca de mais de 80% das receitas do grupo. Porém, veio a COVID-19 e pegou a empresa totalmente desprevenida.
Inicialmente, os acionistas colocaram £300 milhões à disposição para fazer frente aos compromissos e contavam com apoio do governo britânico para conseguir ir à frente. Mas o empréstimo governamental não veio, as contas foram muito maiores e teve que ser feito um verdadeiro malabarismo para que a empresa fosse parar nas mãos dos credores.
Várias ações foram tomadas, incluindo a venda do Centro de Tecnologia e de parte das ações da própria área de corridas para um fundo norte-americano. Se ganhou tempo, mas a situação não é das melhores ainda.
Mesmo a divisão de corridas vem sofrendo. Desde a divisão em 2021, a operação apresentou um prejuízo de quase £120 milhões se somados os resultados de 2021 e 2022. A favor é que o faturamento aumentou bastante e o resultado foi impactado pelo pagamento pelo encerramento antecipado do contrato de Daniel Ricciardo. Só o time de F1 teve um prejuízo de pouco mais de 4 milhões.
Diante do quadro de que a área automotiva está patinando e que depende de altos investimentos para mudar de plataforma e eletrificar sua linha, o Fundo Soberano do Bahrein, que tem 56% das ações da McLaren, em conjunto com os demais acionistas, considera uma manobra ousada: vender totalmente a parte de competições.
Esta divisão é comandada por Zak Brown e tem visto a situação caminhar de vento em popa. Atualmente, cerca de 30% das ações da McLaren Racing são do fundo norte-americano MSP Capital, que fechou em 2020 um investimento de cerca de US$ 185 milhões de dólares para ser concluído em 3 anos. A intenção, para ajudar a capitalizar o grupo McLaren, seria vender mais uma parte das ações do time ou até mesmo todo o controle. Hoje, a estimativa é que a parte de corridas da McLaren esteja avaliada em torno de US$ 1,3 bilhões. Neste quadro, os acionistas do grupo poderiam chegar a um valor de mais de US$ 900 milhões caso decidissem pela venda total.
Zak Brown vem observando com atenção toda a situação. Esta possibilidade não vem de hoje e até mesmo algumas semanas atrás foi citada pelo jornalista Joe Saward em seu blog. Agora seria um momento interessante para um movimento neste sentido, pois a F1 está ainda bem valorizada e a McLaren vem tendo bons desempenhos em suas outras frentes, o que ajuda a trazer novos parceiros comerciais.
O fato é que os acionistas da McLaren estão cansados de jogar dinheiro em um negócio que vem se recusando a reagir e a separação definitiva pode ser a salvação para garantir a continuidade das atividades de competições. A conferir os próximos passos.